O invasor não é vítima
- Atualizado em 07/10/2019 00:38
No último domingo, dia 29, uma adolescente de 12 anos atirou em um garimpeiro, de 27 anos, que invadiu a propriedade onde ela mora com sua família, na zona rural de Alta Floresta, a 800km de Cuiabá. Segundo relatado por policiais, o homem se aproximou do portão da propriedade e pediu para entrar, o que foi negado pela adolescente que estava sozinha em casa, e mesmo diante da negativa o homem afirmou que era amigo do pai dela e que precisava tomar banho.
Diante disso a adolescente pegou uma espingarda calibre 22 que sua família tinha em casa e disparou duas vezes contra o homem, que já estava dentro do sítio. Baleado no braço e no abdômen o homem conseguiu ir até o hospital mais próximo para ser socorrido e assim que policiais tiveram conhecimento da ocorrência foram até o local, porém a menina já havia fugido.
Infelizmente casos como esse são comuns no cotidiano de várias regiões do nosso país, e mesmo assim, o debate na imprensa se limitou a discutir se a ação da jovem foi legal ou não, e se a arma tinha registro ou era irregular. Ninguém procurou debater sobre as razões que levam uma menina de 12 anos a mexer tão bem com uma espingarda e ter acesso rápido a ela, e a resposta é simples: porque ela precisa.
A realidade das nossas crianças e jovens nos rincões desse país é assustadora e muitas vezes a única forma de defesa frente a possíveis violências é o uso de armas de fogo. Segundo dados levantados pelo jornal Folha de São Paulo, 72% dos registros de violência sexual têm como vítimas menores de idade, 68% dos estupros ocorrem na casa da vítima e 42% dos estupros em menores de idade envolvem vítimas recorrentes.
Portanto, antes de ter um debate sobre a arma em si, deve ser discutido o que faz com que essas jovens tenham na arma de fogo sua única forma de defesa. Enquanto isso não for feito, é preferível que elas continuem a se defender da melhor forma possível ao invés de se tornarem vítimas. Porque o que tem que ficar claro é que o invasor não é vítima.
 

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    Sobre o autor

    Roberto Uchôa

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    Especialista em Segurança Pública, mestrando em Sociologia Política e policial federal