Ponto Final - Ex-governador preso pela quarta vez em menos de três anos
04/09/2019 09:53 - Atualizado em 16/09/2019 14:34
Presos outra vez
Pela quarta vez, em menos de três anos, Anthony Garotinho (sem partido), ex-prefeito de Campos e ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, está preso. Também está atrás das grades, ambos de forma preventiva, a ex-governadora, ex-prefeita de Campos e esposa do político da Lapa, Rosinha Garotinho (Patri). No caso dela, é a segunda vez que vai para o cárcere em menos de dois anos. Desta vez, a restrição da liberdade imposta aos dois é em decorrência de um processo que tramita na 2ª Vara Criminal do principal município do Norte Fluminense. A ação é sobre o contrato de valor mais alto firmado pela Prefeitura de Campos.
Há mais de 10 anos
O longo e emaranhado fio que levou à outra prisão do casal Garotinho, como noticiou toda a mídia nacional ontem, começou a ser puxado pela Folha ainda em 29 de maio de 2009. Naquele dia, esta coluna, ainda com o falecido jornalista Aluysio Cardoso Barbosa como seu titular, antecipou que a primeira licitação do programa habitacional Morar Feliz no governo Rosinha teria sido montada com critérios para garantir a vitória da Odebrecht. O impacto foi tanto que o resultado, que seria anunciado em 29 de maio, acabou adiado quase quatro meses, até finalmente ser publicado em Diário Oficial em 23 de setembro do mesmo ano.
Menção na Lava Jato
A Odebrecht levou a primeira bolada de quase R$ 358 milhões do Morar Feliz. Até o final do governo Rosinha, o programa de construção de casas populares levaria quase R$ 1 bilhão dos cofres públicos de Campos. A denúncia inicial da Folha, em 2009, não gerou nenhuma investigação. Até que, em 22 de fevereiro de 2016, a 23ª fase da Lava Jato, batizada de “Acarajé”, encontrou na residência de Benedicto Barbosa da Silva Júnior planilhas com as doações da Odebrecht a cerca de 300 políticos. Entre eles, Anthony, Rosinha e Clarissa Garotinho (Pros), que teriam recebido dinheiro de caixa dois da construtora para campanhas.
Cruzadas?
Em 28 de março de 2016, as investigações da Lava Jato avançaram. As empresas Leyroz e Praiamar seriam usadas como “laranjas” para os repasses da Odebrecht a políticos. As duas empresas eram distribuidoras de bebidas do grupo Petrópolis. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 1º de setembro de 2010 a Leyroz doou R$ 800 mil ao diretório estadual do PR (à época, partido do Garotinho), enquanto a Praiamar, R$ 200 mil. Nas planilhas da Odebrecht apreendidas na casa de Benedicto, Garotinho apareceu como “beneficiário” de uma doação no valor de R$ 1 milhão no mesmo 1º de setembro de 2010.
Munição
As doações da Leyroz e Praiamar foram declaradas pelo PR ao TSE, que não registrou nenhuma doação da Odebrecht a Garotinho em 2010, ano em que disputou e ganhou seu último mandato, como deputado federal. Em 09 de julho de 2016, a jornalista Vera Magalhães anunciou na coluna Radar Online, da revista Veja, que Benedicto se preparava para entregar o que sabia também sobre Garotinho. Quase um ano depois, após extensas negociações entre os advogados da Odebrecht e os procuradores do Ministério Público Federal (MPF), saiu a chamada “delação do fim do mundo”, divulgada à imprensa nacional em abril de 2017.
Delações
Além de Benedicto, Leandro Andrade de Azevedo foi outro executivo da Odebrecht que também assinou com Rosinha o contrato do Morar Feliz. Em dezembro de 2016, os dois delataram o pagamento de vantagens não contabilizadas em favor de Rosinha para as campanhas de 2008 e 2012. Na delação, ao Ministério Público Federal, também citaram recursos a Garotinho, até na candidatura a governador em 2014. Já em junho de 2017, confirmaram na 1ª Promotoria de Tutela Coletiva do Ministério Público (MP) Estadual tudo que haviam delatado ao MPF.
Fio
A denúncia do MP tem 117 páginas, além de usar da tecnologia do QR Code para anexar outros documentos, como o relatório da CPI na Câmara de Campos que também mirou os contratos do Morar Feliz. Além dos cinco presos ontem — além do casal, três assessores políticos — mira também a empreiteira campista Construsan Engenharia, subcontratada da Odebrecht para a realização de parcela substancial da obra, no valor de mais de R$ 140 milhões. O Tribunal de Justiça informou a denúncia foi recebida e o processo está no seu início. É impossível dimensionar até onde se chegará com o fio puxado pela Folha há mais de 10 anos.
José Renato

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