Na Câmara, Wladimir ataca Judiciário e MP de Campos para defender os pais
Aluysio Abreu Barbosa e Arnaldo Neto 05/09/2019 02:08 - Atualizado em 17/09/2019 13:50
“Já não é de hoje que um grupo da justiça local da cidade de Campos vem perseguindo a minha família, já não é de hoje que estamos sujeitos a todo tipo de humilhação por um grupo que, por interesses políticos e financeiros, tenta a todo custo destruir a minha família e destruir a honra dos meus pais. Até quando?”
Este foi um dos trechos do discurso do deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) na tarde desta quarta-feira (4) na tribuna da Câmara Federal. Ele não poupou o Judiciário de Campos de ataques para defender seus pais, os ex-governadores e ex-prefeitos de Campos, Anthony (sem partido) e Rosinha Garotinho (Patri), presos na manhã da última terça-feira (3) por decisão do juiz Glicério Angiólis, da 2ª Vara Criminal de Campos. Eles foram soltos nesta quarta após habeas corpus concedido pelo desembargador Siro Darlan, no plantão da madrugada do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ). Diferente da irmã e também deputada federal Clarissa Garotinho (Pros), que se posicionou sobre as prisões desde terça, quando Wladimir também foi contactado pela reportagem da Folha, ele só se posicionou publicamente após o habeas corpus.
A nova prisão do casal Garotinho se deu por denúncia de superfaturamento de R$ 60 milhões no programa Morar Feliz. Implementado nos oito anos do governo municipal Rosinha, ao custo total de R$ 1 bilhão, foi o maior contrato público dos 184 anos de história da cidade de Campos. E pelo qual, segundo delação à Lava Jato dos dois ex-executivos da Odebrecht encarregados do contrato, confirmados depois em depoimentos ao Ministério Público Estadual de Campos, os Garotinho receberam repasses de caixa dois da maior construtora do país, no valor de R$ 25 milhões, para financiar suas campanhas eleitorais.
Em seu pronunciamento, nesta quarta, na tribuna da Câmara Federal, Wladimir questionou as delações dos executivos. Mas centrou fogo no Judiciário de Campos, que já tinha sido responsável por duas prisões de Garotinho na operação Chequinho, e terceira do ex-governador na operação Caixa d’Água, quando Rosinha também foi presa. Sobre as prisões desta semana, o jovem deputado federal questionou a competência da Justiça Estadual de Campos, que chamou de “arbitrária”, para julgar seus pais no que classificou de “uma verdadeira aberração”:
— Além do mais, a Justiça de Campos não tem sequer competência no caso, que vinha tramitando na Justiça Federal. De forma arbitrária e até surpreendente, a Justiça de Campos, usurpando a sua competência, extrai um trecho de um processo que corre em outra esfera e abre um novo processo na Justiça comum, uma verdadeira aberração processual.
Da tribuna da Câmara Federal, Wladimir também investiu contra a própria pessoa do juiz Glicério Angiólis, ao denunciar que ele responderia “processo disciplinar no CNJ (Conselho Nacional de Justiça) por assédio sexual e assédio moral”:
— Mas o que vocês também precisam saber, é que o juiz de primeiro grau que proferiu essa decisão absurda, responde um processo disciplinar no CNJ por assédio sexual e assédio moral, e sabe qual foi a punição dada a ele? Ser promovido para a Comarca de Campos, pois ele vinha de uma pequena Comarca no município de Miracema. Essa é a punição para um magistrado que comete abusos, caros colegas, uma promoção!
O deputado federal também usou a tribuna, após a prisão e soltura dos pais, para fazer coro à Lei de Abuso de Autoridade, encarada por muitos juristas e pela maioria da população brasileira como maneira de impedir que políticos sejam investigados, denunciados e condenados pelos agentes da lei. E usou o pesado adjetivo “canalhas”:
— A Lei de Abuso de Autoridade não é somente necessária, ela é a única solução para frear os canalhas que se fingem de salvadores da pátria e usam a Justiça para fazer justiçamento.
Além do Judiciário, Wladimir também atacou o Ministério Público de Campos, dizendo que partiria da população campista o seu questionamento a supostas irregularidades, que não nominou, nem apresentou provas:
— O povo quer saber quando o Ministério Público de Campos vai abrir os olhos contra a bagunça em que o município se encontra hoje. Quando vai abrir os olhos para as centenas de denúncias de fraudes, de desvio de dinheiro e de acordos escusos.
Logo na sequência de seu pronunciamento, o deputado federal e pré-candidato a prefeito em 2020 tentou misturar suas críticas contundentes ao Judiciário de Campos com a política do município. Afirmou que isso vem ocorrendo “misteriosamente” e falou em “verdadeiro estupro do processo legal”:
— O povo de Campos sofre sem saber a quem recorrer e, misteriosamente, no auge de uma crise na Saúde e no sistema de transporte do município, a Justiça de Campos que nada vê contra a atual gestão, inventa uma sentença que é um verdadeiro estupro ao processo legal.
O parlamentar de Campos fez menção elogiosa ao deputado federal Felício Laterça (PSL), político de Macaé e delegado da Polícia Federal de profissão, que nesta condição, nesta quarta, questionou a prisão do casal Garotinho em depoimento à Folha da Manhã.
Wladimir encerrou seu pronunciamento com a citação bíblica dos Salmos 30:05: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”.
Clarissa – Ao contrário de Wladimir, que visualizou a demanda da equipe de reportagem via WhatsApp por uma declaração, mas preferiu não retornar, na última terça-feira, a irmã e colega de Parlamento, Clarissa Garotinho se posicionou sobre a prisão dos pais no mesmo dia. E nesta quarta, Clarissa enviou novamente um comentário sobre o assunto. “Garotinho e Rosinha de volta para casa! O Tribunal de Justiça concedeu habeas corpus e mandou soltá-los imediatamente. Não é a primeira vez que enfrentamos a politização do judiciário da cidade de Campos. Mas a justiça vai ser restabelecida. As covardias são muitas, mas Deus é maior”, afirmou.
Rodrigo Bacellar (SD)
Rodrigo Bacellar (SD) / Ascom
“Conspiração” tem Rodrigo como alvo
A legião de garotistas em Campos pode não ser numerosa como outrora, mas continua ruidosa, sobretudo no terreno das redes sociais. Desde a primeira prisão de Garotinho, ainda nos desdobramentos da Chequinho, em novembro de 2016, esses seguidores ecoam como mantra o conhecido discurso do líder: a perseguição dos poderosos, do Judiciário e da imprensa. Agora, o rol dos perseguidores ganhou mais um personagem. Caiu na conta do deputado estadual Rodrigo Bacellar (SD) algum tipo de intervenção mirabolante para que a Justiça mandasse, ainda que por algumas horas, o ex-governador e a esposa, Rosinha, para prisão.
Em grupos de WhatsApp, uma foto publicada por Rodrigo é colocada como o “x” da questão. Na imagem, o filho do ex-vereador Marcos Bacellar recebe o título de cidadão miracemense e na legenda diz que foi “das mãos do Dr. Glicério Angiólis, [então] juiz da Comarca de Miracema”.
A “perfeita” teoria da conspiração está montada: o deputado, que é advogado e cotado como possível candidato a prefeito de Campos no ano que vem, tem contato com o juiz que mandou os ex-governadores para prisão. As delações de executivos da Odebrecht, o trabalho de investigação da MP, nada é tão importante como o fato de o juiz ter participado de uma solenidade com um deputado que é adversário político.
Procurado pela Folha para falar sobre sua efetiva participação na trama que circula nas redes, Bacellar disse que preferia se pronunciar depois.

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