Campos é conservadora?
13/09/2019 20:14 - Atualizado em 13/09/2019 20:22
Sir Winston Churchill, o maior conservador do séc. XX
Sir Winston Churchill, o maior conservador do séc. XX / [email protected]
A França, como de amplo conhecimento, já foi uma monarquia. A realeza francesa, alicerçada no poder da Igreja Católica, tradicional, antiga, sólida e por muito tempo incontestável. Como os israelitas outrora, os franceses constituíam um povo eleito, merecedor e objeto do favor divino. Reis eram ungidos por Deus.
Influenciadas pelo iluminismo, revoluções foram iniciadas. Na França não foi diferente. Sob a tríade idealista Liberté, Égalité, Fraternité a Revolução Francesa forçou a queda paulatina da monarquia, a supressão dos privilégios de nascimento e a separação radical entre as prerrogativas de Deus. Mais do que isso, o sopro revolucionário forjaria uma nova mentalidade tendo a revolução jacobina se tornado o mais importante fato histórico relacionado aquele iluminismo que Kant (filósofo prussiano que morreu em 1804) classificou como “a saída do homem da sua menoridade”.
Conservadorismo clássico
“É impossível estimar a perda que resulta da supressão dos antigos costumes e regras de vida. A partir desse momento não há bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos. A Europa, considerada em seu conjunto estava, sem dúvida, em uma situação florescente quando a Revolução Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao espírito de nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer”. A passagem é da obra Reflexões sobre a Revolução em França, de Edmund Burke (1729-1797). Burke, filósofo irlandês que refletiu sobre a revolução que vivenciara, é considerado por muitos o pai do conservadorismo moderno. Como conservador, por óbvio fazia duras críticas a qualquer revolução e dava valor às tradições e costumes que moldavam a sociedade. Um dos marcos da Revolução Francesa foi queda da Bastilha, construção que servia de prisão/fortaleza, representando o poder da igreja e da monarquia. Sua derrubada consumou o ápice da ruptura psicológica, cultural e política. Mas também representou a violência dos atos revolucionários, que impulsionaram o nascimento de uma visão oposta. A revolução e boa parte dos valores iluministas encontraria inimigo: o conservadorismo.
Burke conseguiu prever que a revolução na França terminaria em um regime autoritário. Ao que parece, as pessoas, em geral, mesmo quando revolucionárias, tendem ao conservadorismo quando chegam ao poder. E por vezes assumem um viés autoritário.
Campos e o conservadorismo
O odontólogo campista Alexandre Buchaul, conhecido por ser - e auto proclamado - conservador, entende que Edmund Burke ainda está certo — Burke estava certo e permanece, sob muitos aspectos, atual. O rompimento promovido pela revolução francesa caminhou para a radicalização cada vez maior e acabou com a decapitação até dos próprios líderes. Talvez tenha sido o período de maior terror já testemunhado pelos franceses — Avalia Buchaul.
Como toda corrente de pensamento, especialmente as filosóficas, sofre críticas e passa por aperfeiçoamentos. O pensamento conservador é acusado de manter desigualdades e aceitá-las bem. Os conservadores, assim como os liberais, elogiam a diversidade mas negam o cosmopolismo; entendem que a formação de uma cultura nacional deve prevalecer. Eles entendem que o papel do estado não deve ser o de promover políticas igualitárias, além da igualdade jurídica. Porém, a práxis mostra que promover uma igualdade político-jurídica de cunho formal não é o bastante, se esta não se concretiza pela igualdade material.
Campos é conservadora? A cidade demonstra conservadorismo em aspectos sociais e econômicos, mas já fez escolhas políticas de ruptura, que derrubaram oligarquias históricas. Segundo avaliação de Buchaul, sim, a cidade tem um conservadorismo arraigado:
Alexandre Buchaul
Alexandre Buchaul
“Campos é uma cidade conservadora. O campista preza pelos valores tradicionais, pela história familiar, pela manutenção das famílias. Somos, nós campistas, majoritariamente cristãos e isso se revela no número de igrejas, na pujança de nossas festas religiosas e nas manifestações populares, o Caminho de Santo Amaro, por exemplo”.
Sobre as críticas ao seu espectro ideológico, o odontólogo explica: “essas críticas têm origem em uma leitura errada do que é ser conservador, não se trata de ser reacionário, tão pouco de ser adepto de uma espécie de imobilismo. Essa leitura, incorreta, vem da ideia, utópica e, portanto, distante da realidade de que é possível uma espécie de igualdade planificada. Conservadores, entendendo ser a realidade, a verdade, capaz de se impor acima de qualquer ideologia, compreendem que "canetadas" serão incapazes de encaixar o mundo na visão ideológica. Assim, ao aceitar certos níveis de desigualdade, compreende que a necessária melhora nas condições de vida das sociedades humanas vem do amadurecimento contínuo, da superação de obstáculos objetivos a essas melhorias”.
Em Campos ou na França as forças políticas são amplas e devem dialogar apesar das diferenças ideológicas. Devem os conservadores e os progressistas responderem à mesma complexidade social. Talvez a evolução das diversas correntes esteja no diálogo, na convergência de ideias e no trabalho em conjunto. De forma reformista ou revolucionária, a tendência ao individualismo deve ser combatida. É preciso que o conservadorismo ensine a não repetir os erros de revoluções passadas. Ao imobilismo e às desigualdades, revoluções. Inclusive as pessoais.
 
 

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    Edmundo Siqueira

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