BNB CRÔNICA

NinoBellieny

Ficava do outro lado da cerca, longe dos olhares da cozinha, mas de outubro a janeiro o cheiro atravessava os bambus enfileirados e o arame que os juntava, entrando pela casa, ressuscitando narinas e desejos pelo sabor doce. Disputávamos com os passarinhos, eu e meus irmãos, cada um dos frutos avermelhados, alaranjados, dançando na ponta dos galhos.

A pitangueira ficava próxima da grande mangueira que ainda hoje resiste e traz outras lembranças da infância, da sombra protetora e raízes expostas.

Depois de anos e anos, ela voltou esta semana em forma de fala e fotos, de alguém que cuida de uma no litoral de Niterói.

Grandiosa, robusta, com as bandeirinhas verdes em galhos patrióticos, os frutos já se assanham para o outubro logo adiante.

Os olhos da dona do quintal brilham e as imagens guardadas no celular comprovam a razão de tanto amor pela árvore de 10 anos.

Das folhas boas para chá que diminuem a hipertensão dentre outros males, da fruta cobiçada para licor, suco, geleia, doce e qualquer outro tipo de receita criativa, veio de novo o aroma a atravessar cercas de bambus e paredes mentais, despertando a saudade do homem que se faz menino em ocasiões repentinas e carregadas de simbolismos. 

A rica infância de um garoto pobre que não sentia falta do que não tinha, mas sabia aproveitar o que havia.

Só não chora pitangas por preferir sorrí-las. Pitangas tem um tempo certo de provocar nariz, língua e olhos, saudade não, vem quando quer. E não vai, fica plantada disparando cheiro, sabor e cor em quintais muito além de um lugar qualquer.