A Ressurreição da Uva Carménère
15/09/2019 20:18 - Atualizado em 17/09/2019 14:06
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COLUNA DE VINHOS
Por João Ricardo Rodrigues
A Coluna aborda nesta edição, a emblemática uva do Chile, a Carménère, originária de Bordeaux, na França, cujo nome é derivado da palavra francesa carmim, graças às folhas que se tornam vermelhas mais cedo no outono.
A Carménère foi uma das castas mais cultivadas até o começo do século XIX, principalmente nas regiões de Graves e Médoc, porém no final dos 1800, uma praga chamada Filoxera dizimou os vinhedos na Europa, acabando com todas as uvas Carménère daquela região.
A partir daí foram quase 200 anos sem um vinho Carménère, especialistas davam a uva como extinta, porém a redescoberta foi feita em 1994 por um pesquisador francês chamado Jean-Michel Boursiquot: ao notar videiras plantadas nas áreas da vinícola Viña Carmen, percebeu que algumas amadureciam depois das demais, assim o pesquisador fez um estudo genético e identificou que era a Carménère se passando por Merlot.
 
A Viña Carmen foi a primeira a produzir um Carménère varietal, em 1996. Em 1998 o Departamento de Agricultura do Chile oficialmente reconheceu a Carménère como uma variedade distinta, e não apenas um “clone de maturação tardia” da Merlot.
 O vinho de Carménère ganhou o título de “fênix das uvas“, ressurgindo das cinzas, permitindo que pudéssemos beber novamente um Carménère graças ao Chile.
 A Carménère é uma uva muito sensível e precisa de atenção especial, principalmente pelo fato de demorar mais para amadurecer, se comparada com outras variedades. Quando colhida na época certa tem frescor e profundidade que lembram aromas de cerejas e ameixas. Quando retirada das vinhas de maneira tardia, ocorre a redução de sua acidez.
 Muitos produtores acham que a Carménère é melhor quando misturada com outras variedades de Bourdeaux. De acordo com o livro“Todovino”, uma das mesclas que tem muita aceitação no Chile é a mistura das castas Carménère e Cabernet Sauvignon.
 Além do Chile outros países como os Estados Unidos, Argentina, Itália e, mais recentemente, o Brasil também estão produzindo vinhos com a uva Carménère.
 Os vinhos produzidos a partir da cepa Carménère possuem cor vermelha lilás, bastante profunda, aromas de frutas vermelhas, terra umidade e especiarias com notas vegetais que vão se suavizando na medida em que a uva amadurece na própria planta.
 Os taninos são mais amigáveis e suaves que os do Cabernet Sauvignon. Faz um vinho de corpo médio, fácil de beber e que deve beber-se jovem, quando apresenta sabor persistente que tende ao gosto de framboesa madura e beterraba doce.
 Por ter a acidez maior, muitas vezes esses vinhos combinam com comidas ácidas, como molhos e carnes de porco. Um benefício em usar esse vinho para fazer harmonizações é seu sabor herbáceo, que combina com carnes assadas, como boi e frango, também pode ser harmonizado com os queijos parmesão, mussarela, azeitonas, guisado de carne, peru assado e entre outros. 
 
Fotos-Google e Analúcia Rodrigues
 
 
Terroir
 
 IP (Indicação de Procedência) Altos Montes, que compreende a microrregião vitivinícola localizada entre as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, na Serra Gaúcha, tem área geográfica delimitada de 173,84 quilômetros quadrados, 66,6% dos quais localizados em Flores da Cunha e 33,4% em Nova Pádua.
 Foi assim batizada por causa de seu relevo acidentado e pela altitude, que chega a 885 metros em relação ao nível do mar, o que favorece os vinhos tintos, já que a bebida elaborada na região tem grande potencial fenólico, em virtude da amplitude térmica.
O cultivo da uva na região é marcado pela ocorrência em pequenas propriedades e por empregar basicamente mão de obra familiar. Isso não impediu que as vinícolas fizessem uso de alta tecnologia para elaborar vinhos cada vez melhores.
Fotos-Google e Analúcia Rodrigues
 Algumas regras da IP Altos Monte
 - Variedades autorizadas: Vinhos: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat, Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer, Moscato de Alexandria, clone R2; espumantes secos: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir, Trebbiano; espumantes doces: Moscato Branco, Moscato.
- No mínimo 85% da uva utilizada deve provir da área delimitada.
 - A elaboração, envelhecimento e engarrafamento dos produtos deve ocorrer dentro da área geográfica delimitada.
- Vinhedos com controle de produtividade.
  Nenhum vinho pode ir para o mercado sem passar pelo crivo da comissão de degustação.
 *O selo IP dos Altos Montes foi conquistado em 2013.
 A Vinícola
 A Vinícola Fabian está localizada na VRS 814, KM 9.2, em Nova Pádua na IP dos Alto Montes. A família imigrou da Itália para o Brasil no final do século dezenove. A tradição vitivinícola herdada dos ancestrais foi favorecida pelo clima encontrado na região dos Vinhos dos Altos Montes.
 A ascendência francesa traz consigo o símbolo da flor-de-lis que caracteriza a marca Fabian.
 A Vinícola Fabian tem por filosofia produzir uvas e elaborar vinhos em pequena quantidade, com produção limitada e controlada para a satisfação plena do apreciador de vinhos.
 Os vinhedos da vinícola Fabian são formados com mudas importadas da Europa, selecionando os melhores clones para obter as melhores características de nosso território. Localizados entre colinas de 780m de altitude, proporcionam amplitude térmica, fator relacionado a uma boa formação de componentes que determinam a qualidade do vinho.
As vinhas, são conduzidas por sistema espaldeira, que favorece a circulação de ar e melhor exposição aos raios solares. A produção é limitada no máximo a 8 ton./ha. Visando obter a perfeição entre natureza e tratos culturais, aplica-se, uma vez iniciado o processo de maturação, a eliminação de folhas e cachos que eventualmente não estejam uniformes ou em excesso na planta. Desta forma atingimos o nível de maturação adequada, fator importante para obter excelente qualidade de uvas.
Fonte: site Vale das Serras
Fotos-Google e Analúcia Rodrigues
 
 
Foto site da vinícola
 A Vinícola oferece visitação guiada com degustação e vista aos vinhedos.
 Grupos acima de 15 pessoas necessita agendamento - (54) 3296 1399 ou [email protected]
 Não há taxa de ingresso para visitação turística.
 O Vinho
 São poucas as vinícolas que produzem vinhos da uva Carménère no Brasil, em uma rápida pesquisa na internet só encontre o da Fabian sendo comercializado e relatos de alguns que foram produzidos, mas já se esgotaram como o Aurora Pequenas Partilhas 2009.
 Fabian Carménère Reserva, safra 2017.
 Aos olhos, vermelho rubi intenso, límpido e lagrimas firmes;
 Aromas de frutas vermelhas, amoras e cereja, madeira e terra;
 Na boca, boa estrutura, encorpado, taninos presentes equilibrados com a acidez e boa persistência.
 Diferente dos chilenos, experiência rara com essa cepa no Brasi, apresenta características únicas, com influências do terroir, achei muito interessante, vinho elegante e que deve ganhar em complexidade com o envelhecimento, agregando os aromas terciários que ainda não apareceram devido a juventude l!!!
 Vinho jovem potente, aguenta uns bons anos de guarda.
 Graduação Alcoólica: 13,1%;
 Guarda: 3 anos;
 Temperatura de serviço: 16 a 18ºC;
 Amadurecimento: 13 meses de maturação em barris de carvalho Francês e Americano;
 Preço entre R$ 80,00 e R$ 100,00.
 
 
Fotos-Google e Analúcia Rodrigues
 Nota
Nas degustações sempre tomo um outro vinho da mesma variedade de uva e média de preço do país de origem da cepa, logicamente serão vinhos distintos, porém a qualidade dos vinhos brasileiros estão no mesmo patamar, no caso um vinho chileno da Viña Carmen Premier Reserva 1850 Carménère 2017.
Fotos-Google e Analúcia Rodrigues
 
 

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    Nino Bellieny

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