Política de confrontos
- Atualizado em 29/09/2019 01:32
Fernando Frazão/Agência Brasil
Fernando Frazão/Agência Brasil
No final de semana passado mais uma criança foi morta por disparo de arma de fogo em uma comunidade carioca. Ela estava dentro de uma Kombi, no Complexo do Alemão, a caminho de casa, quando foi atingida nas costas por um tiro. Segundo policiais militares que estavam no local houve um confronto com traficantes no momento em que a kombi passava, versão contestada por testemunhas que estavam no local. As armas dos policiais foram recolhidas para exame, mas peritos da Polícia Civil afirmaram que não será possível identificar de onde partiu o projétil em razão de sua fragmentação. Foi a quinta criança morta em razão de confrontos em comunidades no Rio de Janeiro.
Desde sua campanha o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel afirmava que teria tolerância zero com narcotraficantes e que daria liberdade para que as polícias enfrentassem os criminosos onde estivessem. Em sintonia com o discurso do presidente Jair Bolsonaro, essa fala teve grande aceitação e apoio, o que acabou por eleger a ambos. Já como governador, Witzel cumpriu sua promessa e deu total apoio às forças policiais.
Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) do estado do Rio de Janeiro, autarquia do governo, de janeiro a agosto deste ano, 1249 pessoas foram mortas por intervenção de agentes de segurança, um aumento de 16,2% frente ao mesmo período de 2018, quando 1075 pessoas foram mortas. São números que chamam a atenção, porém, para contrapor as críticas a essa escalada no número de mortes em ações policiais, o governo afirma que essas ações tem ajudado a reduzir diversos índices de crimes. Nesse mesmo período 2717 pessoas foram vítimas de homicídio, uma queda de 21,5% em comparação ao mesmo período de 2018.
Não há ainda estudos que comprovem essa vinculação entre o número de pessoas mortas em operações policiais e diminuição do número de homicídios, mas está claro que o governador irá manter essa política. Ninguém pode acusa-lo de mentir, pois desde sua campanha ele sempre afirmou que esse seria seu projeto para a segurança pública e a maioria da população escolheu esse caminho. O que não pode ser aceito é a morte de inocentes como “efeito colateral” dessa linha de ação. Autoridades públicas tem o dever de preservar a vida das pessoas e a cada inocente morto, nossa crença em um futuro melhor diminui.
 

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    Sobre o autor

    Roberto Uchôa

    [email protected]

    Especialista em Segurança Pública, mestrando em Sociologia Política e policial federal