Artigo: O que não é exagero na política de SJB
01/09/2019 15:27 - Atualizado em 01/09/2019 15:30
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Certa vez ecoou nos bastidores, por lá, que repórter escalado para cobrir política em São João da Barra não encontra dificuldade em lugar nenhum, nem mesmo em Brasília. Parece mais um exagero. Aliás, povo acolhedor que só, o sanjoanense é bem chegado a um exagero. Tudo na terra de Narcisa Amália é maior ou melhor que os outros — carnaval, verão, produtos típicos. A verdade é que realmente não é fácil acompanhar as movimentações partidárias que não param nunca em uma cidade tão pequena. Acabou a eleição de 2016, ninguém pensava no pleito de 2018. Já estavam de olho em 2020. E com a proximidade do ano eleitoral, a tendência é esquentar ainda mais.
De um lado está a prefeita Carla Machado (PP). Liderança política inconteste, venceu três eleições para o executivo municipal das quatro que disputou. Perdeu a primeira, em 2000, para seu ex-aliado, de quem tinha sido líder na Câmara, e então prefeito candidato à reeleição, Betinho Dauaire. Depois, venceu quem Betinho indicou — o empresário Ari Pessanha — em 2004, ganhou do ex-prefeito em 2008 e apoiou Neco (MDB) para também derrotar o candidato da família Dauaire em 2012. Já em 2016, Neco não era mais aliado e foi abatido por ela nas urnas.
Resultado das eleições passadas não definem as futuras. Mas não há como negar que a prefeita tenha capital político e, a contar por todas as vitórias no município, tem apoio popular. Por outro lado, com a exposição do mandato, uma candidatura à reeleição é praticamente um plebiscito, no qual o povo diz se está gostando da gestão e confere ao chefe do executivo mais quatro anos ou se quer o fim de tal modelo, optando pelo nome da oposição.
Lembra do exagero do povo sanjoanense? Ele volta a aparecer ao falar da oposição. Um município com 34.674 eleitores tem hoje, a pouco mais de um ano das urnas, 10 nomes contra a prefeita com pré-candidaturas lançadas. A título de comparação, Campos, maior colégio eleitoral do Norte Fluminense, com 358.984 eleitores, tem sete possíveis candidatos contrários ao prefeito Rafael Diniz (Cidadania), natural candidato à reeleição.
Muitos estão no páreo, é claro, como balão de ensaio. Mas alguns já batem o pé que vão mudar de nome, mas não recuam da candidatura. A estratégia que adotam de nem mesmo conversar, não parece a mais inteligente para fazer campanha. Em eleição de turno único, muitos consideram que a máquina administrativa consiga assegurar 30% dos votos. Quanto mais a oposição se fragmentar — o que é direito, só não parece inteligente —, a máquina tem menos trabalho, não precisa sequer botar o bloco na rua.
Se tem outra marca do sanjoanense raiz é ser bairrista. Odeia “forasteiros” — mas só aqueles que estão no grupo político contrário ao seu: quem é do grupo de Carla adora mandar “voltar pra Niterói” os candidatos dos Dauaire, mas ai de ti se ousar apontar os “forasteiros” do primeiro ou segundo escalão do governo carlista.
O bairrismo é tanto que a oposição se ressente profundamente com quem “é de fora” e exalta o potencial da prefeita em disputa eleitoral. Só que é cálculo. Goste ou não, ela desponta como favorita, ainda mais enquanto a oposição estiver totalmente fragmentada. Existe agora uma tentativa de união oposicionista, que pode ser que prospere. Mas já encontra resistência em alguns setores.
Por outro lado, o grupo do governo espera. Não tem motivos para antecipar o cenário de disputa eleitoral. Não é que esteja tudo as mil maravilhas no grupo político, mas todo mundo vai esperar a hora certa para botar o bloco na rua. Para o grupo de Carla, muito mais preocupante que as articulações da oposição é o desfecho da operação Machadada. Em primeira e segunda instâncias todos os réus foram condenados a oito anos de inelegibilidade a contar de 2012. Desta forma, a prefeita estaria fora da disputa em 2020, abrindo oportunidade para um novo nome do seu grupo. Ela demostra total confiança em reverter a sentença no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No entanto, se isso não acontecer, a fogueira das vaidades que queima no lado da oposição, vai arder ainda mais entre os governistas. O que não falta, mesmo que não admitam publicamente, são nomes interessados na disputa ao cargo de prefeito em 2020 — caso Carla não possa — com o apoio da prefeita.
E a fogueira das vaidades pode gerar outro fenômeno recorrente na política sanjoanense: o surgimento dos camaleões. Isso aceleraria o processo de mudanças, inclusive com quem é governo virando oposição. Só que se um ex-governista conseguir muito espaço na oposição, geraria mais desavenças, mais rachas em um loop infinito.
Há quem aposte também numa eleição parecida com a de 2018. E a indústria de fake news já está a todo vapor. Os especialistas em tudo nos grupos de WhatsApp — aqueles que acreditam em qualquer corrente ao sabor das suas conveniências — já operam pesquisas mirabolantes com percentuais de desemprego, avaliação negativa de governo, rejeição a candidatos. Tudo baseado única e exclusivamente na verdade constatada em seu quarto, de onde pega o wi-fi do vizinho para se comunicar com todo mundo.
Se cobrir a política de SJB é realmente um aprendizado para trabalhar como repórter inclusive em Brasília, não há ainda quem confirme. Mas não é exagero de sanjoanense afirmar que lidar com toda essa história diariamente é um exercício de elevação espiritual. Paciência maior, só a de Jó.

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    Arnaldo Neto

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