Dados sobre população em situação de rua em Campos são divulgados
Camilla Silva 23/08/2019 18:09 - Atualizado em 26/08/2019 13:30
Genilson Pessanha
Homens, com idades entre 27 a 43 anos, solteiros, que passaram por conflitos familiares e estão há cerca de 2 anos e meio em situação de rua. Esse é o perfil médio das pessoas que vivem nesta condição em Campos. Para entender mais sobre esse grupo, a secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS) divulgou, nesta sexta-feira (23), dados de estudo realizado pelo órgão em reunião do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento para a População em Situação de Rua (Ciamp-Rua), no auditório do Centro Administrativo José Alves de Azevedo, sede da Prefeitura de Campos. Conforme a Folha da Manhã publicou na edição do último domingo, os dados levantados pela secretaria indicam que, 131 pessoas, sendo 108 homens e 23 mulheres, viviam em situação de rua entre os dias 7 a 30 de maio deste ano. 
Ainda segundo o levantamento, mais da metade desta população, 56,49%, tem 27 a 43 anos, 75% são solteiros e 53% têm todos os documentos. Metade não tem nenhuma experiência profissional registrada na carteira de trabalho e apenas 26% já tiveram experiência em emprego formal. Apesar disto, 73% contaram o desejo de estar no mercado de trabalho.
A equipe que trabalhou no levantamento informou que encontrou duas pessoas que afirmaram que estão há cerca de duas décadas em situação de rua, mas a maior parte declarou que está nesta condição de 2 a 3 anos. Sobre planos para o futuro, 18% informaram a vontade de voltar para casa. Mesmo na situação de rua, 67% dos entrevistados possuem algum vínculo familiar e 22% não têm nenhum. A pesquisa perguntou, ainda, sobre o desejo de participar de algum programa municipal de acolhimento. A resposta foi positiva em 47% dos casos e negativa em 43%.
Entre os entrevistados, 58 pessoas são nascidos em Campos e 73 em outros municípios. Destes, 12 são de Macaé, 9 do Rio de Janeiro e 21 de municípios do Espírito Santo.
A motivação mais mencionada para deixarem suas casas foi conflito familiar, o que ocorreu com 63 dos entrevistados, seguidos pelo desemprego, que atingiu 28 pessoas, e a dependência química que foi apontada por 18.
Um problema comum relatado por quem vive em situação de rua é o uso de álcool e outras drogas. Durante a pesquisa, 53% declararam ter problemas, destas 22% afirmaram desejar algum tratamento para dependência química. No último domingo, Patrícia Constantino, psicóloga, pesquisadora e professora universitária, que participa da coordenação da Clínica Nômade Voz da Rua, falou à Folha que o problema com o consumo de bebidas alcoólicas entre o grupo é alto. “Se nós pensarmos em uma droga que é problemática com essa população é o álcool. Cientificamente, esta é a droga que produz mais danos orgânicos e sociais, em toda a sociedade. É falso imaginar que existe uma cracolândia em Campos”, explicou.
Comitê - O coordenador do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua, Ederton Rossini, explicou que Campos foi a primeira e, até o momento, único município do estado do Rio de Janeiro a criar o comitê, previsto na Política Nacional sobre o tema.
— O comitê de Campos conta com a participação de representantes da população em situação de rua. É importante ressaltar que não existe legitimidade em discutir políticas públicas sem a presença das pessoas diretamente interessadas nelas — defendeu Ederton Rossini, que também é psicólogo e representante da sociedade civil no comitê.
Quem também participou da reunião foi Marco Antônio Dias, que vive atualmente em um abrigo municipal e contou que deseja retornar para casa em breve. “O importante é saber viver, saber respeitar o outro, seja de que idade for”, afirmou.

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