Juiz Glaucenir de Oliveira fala sobre Direito, política e criminalidade no Folha no Ar
Ícaro Barbosa 14/08/2019 07:53 - Atualizado em 15/08/2019 14:02
Glaucenir de Oliveira no Folha no Ar
Glaucenir de Oliveira no Folha no Ar / Isaías Fernandes
O juiz Glaucenir Oliveira foi o entrevistado da primeira edição desta quarta-feira (14) do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3. Com carreira iniciada na Defensoria Pública, onde trabalhou por aproximadamente três anos e meio, Glaucenir, formado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), se recordou dos casos nos quais atuou, como defensor e, posteriormente, como magistrado. Ele fez críticas à mídia e à opinião pública, quando estas tentam interferir nas decisões jurídicas, e ressaltou que o trabalho do juiz deve ser prioritariamente técnico. “Já determinei absolvições em casos polêmicos que foram condenados pela mídia”. O juiz tem que ser solitário. Tem que se basear nos fatos, provas e leis e deixar de lado a mídia. Justiça não é feita pela mídia ou pela opinião popular. “O juiz tem que ter isso em mente”, pontuou Glaucenir, que também abordou questões relacionadas à mistura entre política e Justiça e os altos índices de criminalidade.
Conhecido na região por sua atuação linha dura na operação “Chequinho” e “Caixa D’Água”, Glaucenir abordou o caso de maneira técnica. “Os políticos se aproveitaram do assistencialismo para manter-se no poder”, afirmou; seguiu explicando que a população também tem sua parcela de culpa pela venda dos votos: “o povo não se conscientiza sobre isso e se vende por um assistencialismo barato, por vezes 100 reais ou uma cesta básica. Eles pagam por desperdiçar sua principal arma; o voto”, concluiu. Segundo o juiz Glaucenir, essas “questões” (se referindo à Operação Chequinho) envolviam compra de votos na política regional com a intenção de “manter prefeitos e governadores” no poder. Afirmou ainda que as denuncias que deram origem as investigações partiram das assistentes sociais, responsáveis pela análise dos candidatos a obter o Cheque Cidadão. Glaucenir afirmou: “Após verificar tudo que foi apresentado, com interesses politiqueiros identificados, provados e tipificados, decretei prisões e redundou em condenações.”
O juiz Glaucenir Oliveira abordou também as implicações que o envolvimento com o caso trouxe para sua vida particular, como seguranças 24 horas e carro blindado, medidas tomadas pelo Tribunal de Justiça. Destacou os ataques promovidos contra sua imagem, pois, depois de não conseguirem refutar as acusações com provas e terem sido condenados pelas provas, apelaram para ameaças veladas e difamações, “como aconteceu no caso da Lava-Jato”, comparou Glaucenir. Ele exclamou: “A pressão que nós sofremos no dia a dia é muito grande, quando é um juiz de “raiz” e veste a camisa isso se agrava.”
Ele explicou seu ponto de vista sobre os vazamentos do “The Intercept”, das conversas entre o, então juiz Sérgio Moro, atual Ministro da Justiça, e o procurador Deltan Dallagnol – A minha opinião é que, baseado nas conversas que eu vi, não houve nada demais. Não vi Moro ferindo a imparcialidade, não vi instrução; o fato é que a divulgação é ilícita, não tem provas de que elas não foram editadas. Apesar de muitos criticarem as conversas que ocorreram entre Moro e Dallagnol, Glaucenir dissertou sobre a questão, afirmando que essa relação entre juízes, promotores e advogados, existem e ocorrem durante o Despacho – onde os advogados e promotores selecionam um caminho de acusação ou defesa – lembro que muitos advogados, inclusive, reclamam quando o despacho não é feito com juiz. Ainda defendeu que a origem desses vazamentos deve ser muito bem investigada. Como alternativa para essas críticas ele não vê solução, exceto utilizar o método estadunidense (onde o juiz só conversa com os advogados se ambos estiverem presentes).
O juiz teceu várias críticas à “leniência” da constituição brasileira para com os criminosos, “do governo PT para cá, ocorreram diversas mudanças para garantir ainda mais direitos aos criminosos”. Esses fatores da constituição dão a sensação, para Glaucenir, que quanto mais criminosos são condenados, mais aparecem. “O problema é das nossas leis, essas teses são elaboradas por juristas escritores que não lidam com a realidade. As reformas do código de processo para que seja rápida”, destacou. Explicou como que, do seu ponto de vista, a “questão ideológica” dos Ministros da Suprema Corte gera contradições e disputas entre eles, isso faz com que ocorra a politização do judiciário, quando o mesmo deveria ser isento.
Campos 2020 – “Não é possível fazer campanha agora, não é hora; é crime” afirmou, mas ressaltou que os interessados já estão começando a expor suas ideias e propostas. Apesar de conhecer alguns “de vista”, Glaucenir afirmou que sempre procura se manter distante, evitar qualquer vínculo. Segundo ele, o próximo gestor deve ser responsável para conseguirmos o crescente da cidade sem corrupção, e alertou – se não houver, a justiça eleitoral vai agir rápido, como fizemos na “Chequinho”.
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