Festival de Samba marca resistência da cultura popular campista
Matheus Berriel 19/08/2019 16:14 - Atualizado em 26/08/2019 13:53
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Ninguém poderia imaginar que um Carnaval fora de época no intenso frio de agosto fosse tão representativo para marcar um grito de resistência da cultura popular em Campos. Mesmo com público razoável na noite de sábado (17) e muito pequeno na de domingo (18), o Festival de Samba realizado no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop) foi visto como positivo pelos envolvidos por três fatores. Primeiro pelo alto nível dos desfiles, mesmo com as dificuldades financeiras das agremiações; segundo por ter marcado a volta da festa popular, que não havia sido realizada nos dois últimos anos; e terceiro por viabilizar um possível retorno do Carnaval campista para fevereiro em 2020, condição dada pelo Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) para que fosse liberado à Prefeitura o repasse de R$ 500 mil à Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), entidade organizadora do evento.
— A única coisa que ficou comprovada de que não é melhor foi a data. Mas até isso eu vejo como positivo, no sentido de a gente lutar para o retorno do Carnaval à sua data original. Eu acho que isso veio consolidar essa posição — disse a presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima. — Quanto ao espetáculo, eu achei fabuloso. A criatividade, o talento e a estética superaram todas as expectativas. Eu já sabia isso, porque visitei 14 barracões. Pude ver de perto o que estava sendo realizado. Acho que foi um espetáculo de rara beleza. E compreendi também, mais de perto, quais são as dificuldades de você ter um Carnaval no barracão e levá-lo para a avenida. Essa logística é muito importante e tem que ser considerada. Mas, o saldo, na minha opinião, é altamente positivo, até na hora em que você chega à conclusão de que a data não foi a melhor — acrescentou.
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A ressalva do Comcultura a respeito da realização do próximo Carnaval em fevereiro foi feita pelo conselheiro titular da câmara técnica de cultura popular, Marcelo Sampaio, e acompanhada pelos demais conselheiros numa reunião há quatro meses. Marcelo também foi responsável por formar a comissão julgadora dos desfiles, composta por ele e outros 15 campistas ligados à cultura. “Durante muitos Carnavais foram trazidas pessoas de fora, representando não só a desvalorização dos talentos da terra, como um custeio maior ainda, porque tinha que pagar hotel, transporte, alimentação e o cachê dessas pessoas. Dessa vez foi tudo gratuito. E ressaltar a coordenação de Marcelo Sampaio, que é uma garantia de honestidade, transparência e competência”, pontuou Cristina Lima.
A importância dada aos valores da terra não foi exclusividade da comissão julgadora. Na avenida também foi possível observar o trabalho dos carnavalescos locais.
— Voltar para a data é fundamental. Agora, é muito importante que a penúria financeira, por ter uma verba muito inferior às de anos anteriores nos quais foram realizados os desfiles, trouxe uma coisa positiva: muita gente teve que se virar. Então, a gente viu menos pessoas de fora no Carnaval de Campos, mais coisa produzida aqui. Talvez, nem porque eles queiram produzir mesmo, é porque não conseguiram dinheiro para comprar de fora. É uma satisfação não ter visto nenhum intérprete de fora aqui. Quem tem que cantar os sambas das nossas agremiações carnavalescas são as pessoas das suas respectivas comunidades. Isso foi muito bacana — afirmou Marcelo Sampaio.
O presidente da Aboipic, Marciano da Hora, destacou o “amor ao Carnaval” como motivo da superação:
— As escolas, os blocos e os bois pintadinhos buscaram ajuda, parcerias. Agora, uma coisa que a gente defende: o Carnaval tem que retornar urgentemente para a sua data. Não há possibilidade nenhuma mais de se fazer num período fora de época. Natal se comemora no Natal, Ano Novo se comemora no Ano Novo, festa junina nos meses de junho e julho, mês do Folclore, sim, se comemora em agosto... Mas, não tem como mais você apresentar um espetáculo daquele para o público que foi. A gente entende que existem ainda pessoas que amam o Carnaval. O público não foi bom, não foi o que a gente esperava, mas teve um público razoável — enfatizou Dadá, como também é conhecido.
Desfiles — Principal atração da Semana Municipal do Folclore, o Festival de Samba reuniu 17 agremiações. Na noite de sábado, a Amigos da Farra abriu o grupo de acesso das escolas de samba, enquanto União da Esperança, Ururau da Lapa, Boi Sapatão, Mocidade Louca e Madureira do Turf desfilaram pelo Grupo Especial. No domingo foi a vez dos bois (Beira-Rio e Guloso no acesso; Zulu, do Canto, Travolta e Jaguar no Especial) e blocos (Teimoso do IPS e Juventude da Baleeira no acesso; Castelo do Parque Aurora, Os Psicodélicos e Unidos do Capão no Especial). A apuração está marcada para quinta-feira (22), às 10h, no Cepop. No dia seguinte (23) serão divulgados os vencedores do Troféu Passarela do Samba, prêmio extraoficial oferecido pelo site Carnaval de Campos, administrado por Marcelo Sampaio.
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