Compartilhamento da violência
- Atualizado em 17/08/2019 18:05
Jovens brigam em frente à escola
Jovens brigam em frente à escola
Nessa semana um crime que ocorreu em Manaus/AM foi notícia em todo o país e chamou a atenção pela forma como aconteceu. Uma jovem, cujo pai tinha uma amante, foi ao encontro desta para brigar, e mesmo cercadas de várias pessoas, nada foi feito para evitar o confronto. Ao invés de impedir a agressão, os presentes sacaram seus telefones celulares para filmar o embate e depois compartilhar nas redes sociais. Enquanto filmavam, a jovem agredida foi derrubada e bateu violentamente a cabeça no chão, momento no qual alguns dos presentes resolveram intervir, mas não havia mais tempo, a jovem acabou não resistindo.
Não foi um caso isolado. Todos os dias nas redes sociais proliferam vídeos de brigas, agressões, crimes e maus tratos. Confrontos são incentivados nas saídas das escolas, emboscadas são preparadas para agredir e humilhações ensaiadas. Tudo por um compartilhamento, por uma desejada “viralização” do vídeo. Animais são mortos e torturados enquanto outros filmam e devido à sensação de impunidade, muitas vezes os autores sequer escondem suas identidades.
Qual foi o momento em que as pessoas perderam a empatia com o próximo? Quando foi que a visibilidade própria passou a ser mais importante que o sofrimento do outro? São questões que devem ser debatidas por especialistas e estudiosos do comportamento humano. A violência sempre existiu, muitos afirmam ser inerente ao ser humano, mas a divulgação imediata e a busca pelo reconhecimento têm levado o problema a outros níveis.
O problema é que o que deveria ser considerado um desvio comportamental está se tornando um problema de segurança pública. Incentivados pela impunidade e pela visibilidade concedida pelas redes sociais, muitos deixaram de ser meros espectadores e passaram a ser incentivadores de atividades que muitas vezes são consideradas crimes segundo a legislação. Não se pode cobrar empatia e compaixão, mas o respeito às leis vigentes deve sim ser cobrado. Aqueles que incentivam a prática de crimes não podem ser tratados como observadores e devem sim ser punidos na medida de suas participações.

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    Sobre o autor

    Roberto Uchôa

    [email protected]

    Especialista em Segurança Pública, mestrando em Sociologia Política e policial federal