Ponto Final - Irmãos Garotinho contra a Reforma da Previdência
11/07/2019 10:32 - Atualizado em 21/07/2019 16:22
A Reforma e deputados da região
A região tem quatro deputados federais. Dois de Macaé: Christino Áureo (PP) e Felício Laterça (PSL). E dois de Campos: Wladimir (PSD) e Clarissa Garotinho (Pros), há anos radicada na cidade do Rio de Janeiro. O voto de três deles na proposta da Reforma da Previdência do governo Jair Bolsonaro (PSL) cumpriram o que vinham anunciando: Christino e Laterça a favor; Clarissa, contra. A novidade ficou por conta de Wladimir. Desde que foi eleito deputado federal pela primeira vez, ele vinha defendendo a necessidade da Reforma da Previdência. Mas ontem votou contra o texto-base, aprovado em primeiro turno na Câmara Federal.
Opção: caos!
A Reforma da Previdência, como definiu o ex-deputado Delfim Neto, “é questão aritmética, não de desejo”. Sozinha, é improvável que seja suficiente para curar a moléstia financeira do Brasil, na UTI desde a infecção pela “nova matriz econômica” de Dilma Rousseff (PT). Mas, sem ela, uma certeza: o Brasil quebra. Faltaria dinheiro não só aos inativos, como para manter os serviços públicos federais. Os “contingenciamentos” iriam muito além da vingança mesquinha de Bolsonaro contra a educação pública. Em curto prazo, o país viveria situação semelhante à do Estado do Rio em 2017. Com uma fundamental diferença: sem ter a quem pedir socorro.
A cegueira e as castas
Pode-se entender quem pregue contra a Reforma da Previdência por cegueira ideológica. Por não desejar que o governo Bolsonaro tenha êxito econômico, se fortalecendo para tentar a reeleição. Mas sobre isso, como nem sempre acontece, os bolsonaristas estão certos: é torcer a favor do “quanto pior, melhor” e contra o país. Como também se entende que servidores públicos queiram manter seus muitos privilégios sobre a grande maioria que trabalha na iniciativa privada. É um egoísmo de casta, semelhante ao da cultura milenar da Índia. E encontra sua melhor definição no dito popular: “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Pobres, não pobreza
Há também argumentos humanistas contra a Reforma da Previdência. Mas que não se sustentam diante dos números. No último dia 5, o bispo diocesano de Campos, Dom Roberto Ferrería Paz, pregou: “É fundamental (...) nos mobilizarmos e não deixarmos que essa Reforma (...) se instale em nosso país, a exemplo do Chile, onde a pobreza assola nossos irmãos”. Após reformar sua Previdência desde 1981, o Chile é a economia mais sólida da América do Sul. Na dúvida, o país vizinho hoje tem 8% de pobres, contra 25% dos pobres brasileiros. O amor aos pobres é um valor louvável do cristianismo. Só não pode se confundido com amor à pobreza.
Tabata é o futuro
Há casos nacionais emblemáticos. A jovem e promissora deputada Tabata Amaral (PDT/SP), como esperado, votou a favor da Reforma da Previdência. E foi ameaçada de expulsão pelo presidente da legenda, o insuspeito Carlos Lupi. Se consumada, o PDT perderá a parlamentar que melhor tem encarnado uma esquerda moderna e não sectária. Tabata, por sua vez, terá trabalho: escolher entre os convites que choverão de outros partidos. Na Austrália, o primeiro mandamento do Partido Trabalhista é: não gastar mais do que arrecada. No Brasil, o rombo da Previdência em 2018 foi de R$ 288,8 bilhões. Em 2019, está projetado em R$ 309,4 bilhões.
Incoerência de Wladimir
Mas, Tabata, Christino, Laterça e Clarissa foram coerentes. Votaram conforme vinham anunciando. Entre os quatro, o placar de 3 a 1 pela Reforma da Previdência é um resumo próximo ao final da sua aprovação ontem na Câmara: 379 a 131 deputados. Conhecer o voto de cada um deles deve orientar todo eleitor na hora de votar na eleição de 2022. Na derrota (e vitória do país), a maior crítica a Wladimir não é ao seu voto, mas à sua incoerência. Ele defendeu a necessidade da Reforma da Previdência desde que foi eleito pela primeira vez deputado federal. E assim o fez até ontem, quando votou contra a Reforma.
Pau mandado do pai?
Wladimir lembra Bolsonaro, que como deputado votou contra a Reforma da Previdência de FHC, Lula e Dilma. E se posicionou contra a projetada por Temer. Em momento inédito na história do Brasil e talvez do mundo, aprovou a sua: com maioria da população a favor de uma reforma que reduz de direitos. Aos 33% dos brasileiros que, pela última pesquisa Datafolha, ainda apoiam o presidente, parece difícil mudar pela lógica a crença no “mito”. Já em Campos, pelo que se viu em grupos de WhatsApp, Wladimir ontem perdeu votos a prefeito em 2020. Muitos creditaram seu voto à submissão aos ditames populistas do pai.

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