Abrigo de Inverno: Do recolhimento nas ruas ao café da manhã no CentroPop
Verônica Nascimento 19/07/2019 13:13 - Atualizado em 24/07/2019 13:55
Café da manhã no CentroPop
Café da manhã no CentroPop / Isaías Fernandes
Para proteger pessoas em situação de rua das noites frias e chuvosas previstas para esta estação, a secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social criou o projeto “Abrigo Noturno de Inverno”, que funcionará, ininterruptamente, todos os dias da semana, das 18h às 6h, no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop). O projeto foi iniciado na quarta-feira (17), com a adesão de 18 moradores de rua, número que aumentou para 23 na noite seguinte e que pode chegar a 60, capacidade projetada para o abrigo. Na manhã chuvosa desta sexta (19), com temperaturas que chegaram a 16ºC por volta das 6h, a rotina dos abrigados foi seguida, com a saída do Cepop direto para um café da manhã no Centro Especializado para População em Situação de Rua (CentroPop).
De acordo com o secretário Marcão Gomes, o projeto surgiu com o aumento da demanda por acolhimento noturno. “Propus o desafio à equipe do Departamento de Proteção Social Especial (DPSE), que aceitou de imediato, e levamos ao conhecimento do prefeito Rafael Diniz, que, de imediato, liberou o Cepop para ser utilizado. O abrigamento não é imposto às pessoas em situação de rua, que devem querer ir para o Cepop passar a noite. Verificada a adesão, definimos o funcionamento do projeto todos os dias da semana, inclusive nos feriados.
Café da manhã no CentroPop
Café da manhã no CentroPop / Isaías Fernandes
O capixaba Sérgio foi um dos que chegaram ao CentroPop, para o pãozinho com chocolate quente. “Minha vida na rua começou depois da crise da Petrobras, em 2014, quando a empresa terceirizada em que eu trabalhava demitiu vários trabalhadores. Não consegui mais emprego, não tinha mais dinheiro para pagar aluguel, entrei em depressão e acabei sem família, na rua. Na rua, passamos por muita coisa, e ter um local decente para dormir, nesse frio que começou a fazer, é muito bom”, contou ele, que trabalhava na área de logística, como profissional de movimentação de carga, e espera conseguir, em Campos, “renovar os cursos, conseguir um trabalho e sair da situação de rua”.
A baiana Kelly, que também passa as noites de inverno no Cepop, está desempregada desde 2009. “Antes, trabalhava com coleta de dados, fazendo contagem de produtos para uma empresa, que também demitiu várias pessoas de uma vez, e eu junto. A gente viajava muito a trabalho, ficava de 24 a 30 horas dentro de uma loja, e eu recebia R$ 1,5 mil por quinzena. Depois, não tinha mais como cobrir os gastos e estou assim. Tenho uma irmã em Nova Iguaçu, mas não temos afinidade, porque não fomos criadas juntas. Estou em Campos há três meses e ainda não consegui um trabalho, mas, pelo menos, a Prefeitura garante alimentação e, agora, um abrigo noturno”.
Gerente de projetos de Média Complexidade do DPSE, a assistente social Fabiana Teixeira lembra que o CentroPop já disponibiliza, das segundas às sextas-feiras, alimentação; espaço para os assistidos (50, em média) se assearem, participarem de oficinas, entre outras atividades; além da abordagem social, todos os dias da semana. Até maio, conforme censo realizado pela secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, 120 pessoas estavam em Campos, em situação de rua, 70% delas de outras cidades e estados.
— O Abrigo de Inverno funciona com uma equipe de 12 profissionais, incluindo os que fazem a abordagem, na praça do Santíssimo Salvador, de onde o ônibus da secretaria sai, às 18h, para o Cepop, onde os demais atuam. Explicamos como o abrigo funciona. A pessoa que quer se abrigar passa por uma revista ao chegar ao Cepop, lava as mãos e faz um lanche. Depois, toma banho e se prepara para o jantar, às 20h. Depois disso, tem oficinas e palestras motivacionais. Na estrutura dos camarotes, já encontram os colchonetes postos, com cobertor. Na manhã seguinte, às 6h, vai para o CentroPop, onde já costumavam tomar café da manhã — explicou a assistente social.
Fabiana diz que as razões para a situação de rua são diversas, como rompimento de vínculos familiares, expulsão pelo tráfico de drogas, desemprego, uso de álcool ou drogas. “Temos equipamentos, como o CentroPop, com trabalhos para auxiliar essas pessoas a obterem condições para reverterem essa situação. Com o Abrigo de Inverno, buscamos preservar essas pessoas das intempéries da estação, e o projeto está sendo muito bem aceito, inclusive com várias pessoas, entidades filantrópicas, igrejas, querendo participar com alguma ação. Pessoas interessadas em participar, como as que distribuem cobertores e sopa, podem visitar o Abrigo de Inverno das 18h às 22h, mas a visitação é pré-agendada, para podermos verificar que tipo de ação ou projeto voluntariado pretendem desenvolver com os abrigados”.
A gerente de Projetos de Média Complexidade informa que quem tiver interesse em desenvolver alguma ação no Abrigo de Inverno, para ajudar os abrigados, pode falar com a equipe do CentroPop, na rua Tenente Coronel Cardoso, quase esquina com Beira-Valão, ou pelo telefone (22) 98175.1427.

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