Quatro décadas do "Cachacinha"
10/07/2019 18:26 - Atualizado em 21/07/2019 16:08
Divulgação FCA
O dia 5 de julho de 1979 entrou para a história pela chegada às ruas brasileiras do primeiro carro com motor a etanol produzido em série no mundo, o Fiat 147. Apelidado de “Cachacinha” por causa do odor característico exalado pelo escapamento, o modelo simbolizou um marco importante para a engenharia automotiva brasileira, que a partir daquela data engatou uma marcha na direção do desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes. Para celebrar o aniversário de 40 anos, completado na última sexta-feira (05), nada melhor que o primeiro registro do 147 a etanol acelerando na pista de testes da fábrica de Betim/MG, exatamente como há quadro décadas. Vendido à época ao Ministério da Fazenda, o exemplar raro faz parte do acervo de clássicos da Fiat e está praticamente original, sem restauração.
— É emocionante ver esse carro de perto não só pela importância de ser realmente o primeiro Fiat 147 a etanol, mas também por estar funcionando perfeitamente com todos os elementos de época originais, como partida a frio e afogador, além de preservar a tampa vermelha do motor e a pintura original, com direito alguns toques de batida de porta — afirmou o gerente de Engenharia Experimental da Fiat Chrysler Automóveis (FCA), Robson Cotta.
Na Fiat desde o início da década de 1980, Cotta tem muitos motivos para se lembrar do “Cachacinha”. “O primeiro veículo zero-km que eu comprei foi um Fiat 147 a etanol. Portanto, ver em 2019 esse exemplar do primeiro carro a álcool traz uma lembrança muito boa tanto do lado pessoal como do profissional, pelos desafios enfrentados para desenvolver e fazer os automóveis a álcool darem certo no país. Não só deu certo como se provou ser uma tecnologia vencedora”, disse.
Divulgação FCA
A história do modelo a etanol remonta a 1976, quando começaram as pesquisas e o desenvolvimento do motor movido ao derivado da cana-de-açúcar, no mesmo ano em que o 147 a gasolina foi lançado no Brasil, tornando-se o primeiro carro Fiat fabricado no país. “Vivíamos a era do Pró-Álcool, um programa nacional para combater a crise do petróleo”, lembrou Robson Cotta.
Ainda em 1976, em sua primeira participação no Salão do Automóvel de São Paulo, a Fiat expôs um protótipo do 147 a etanol com dezenas de milhares de quilômetros rodados. O ano seguinte foi dedicado ao aperfeiçoamento técnico do produto, além da produção de novas unidades que foram sendo submetidas a diversos testes. Em 1978, a empresa desenvolveu o motor 1.3 de 62 cv de potência e 11,5 kgfm de torque que, durante os testes, acabou se mostrando mais adequado para o uso do etanol que o propulsor a gasolina de 1.050 cm3, até então utilizado no 147. No início daquele ano, três Fiat 147 a etanol foram entregues ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) para serem experimentados no policiamento da Ponte Rio-Niterói.
Em setembro de 1978, um Fiat 147 100% a etanol realizou o que viria a ser o teste definitivo para criação do primeiro motor brasileiro a etanol: uma viagem de 12 dias e 6.800 quilômetros de extensão pelo país, percorrendo uma média superior a 500 km diários, três mil quilômetros por vias de terra e variações climáticas de mais de 30 graus.
No universo do automobilismo, um dos grandes feitos do Fiat 147 a etanol foi conquistado por mulheres. Considerado o primeiro grande rali internacional realizado no país, o Rallye Internacional do Brasil, disputado em 1979, viu o Fiat 147 Rallye #73 da dupla feminina Anna Cambiaghi (italiana) e Dulce Nilda Doege (brasileira) terminar em quarto lugar na classificação geral e ser o carro brasileiro de melhor classificação na prova, que teve nada menos do que 2.200 quilômetros de percurso. Elas faziam parte do Team Aseptogyl/Panthères Roses/Concessionárias Fiat.
Entre os diferenciais, a taxa de compressão do motor 1.3 foi bastante elevada, de 7,5:1 da versão a gasolina para 11,2:1, e a carburação passou a trabalhar com mistura ar-combustível bem mais rica (com maior percentual de combustível). Essa era a razão de seu maior consumo – 30% mais alto.
— O propulsor ficou com potência pouco maior que a do similar a gasolina, devido à necessidade de conter o consumo: 62 cv brutos contra 61. Por outro lado, a taxa de compressão mais alta favorecia o torque e, portanto, as retomadas e acelerações em baixa ou média rotação. Mas o número que realmente importava era o custo por quilômetro rodado, menos da metade da versão a gasolina, com os preços dos combustíveis na época — destacou Cotta.
De 1979 a 1987, período em que foi comercializado no Brasil, foram vendidas 120.516 unidades do 147 a etanol. (A.N.)

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