Estamos prontos para sermos pais dos nossos pais?
Helô Landim 14/07/2019 13:53 - Atualizado em 14/07/2019 14:00
Nascemos filhos e esperamos sê-los para sempre. Reconhecer, eternamente, nossa meninice nos olhos dos nossos pais. Mas, será que estamos prontos para trocar de lugar nesta relação?
Nossos pais envelhecem. Mas, será que entendemos que as limitações que começam a aparecer com a idade deles não é questão de preguiça? Que não é porque se esqueceram de dar um recado que significa que não se importam com a nossa urgência? Que pedem para repetirmos a mesma frase porque não escutam mais tão bem?
Depois que eles envelhecem já não podemos (ou seria, devemos), dividir nossas angústias e nossos problemas porque, para eles, as proporções são ainda maiores e tudo se desregula: o ritmo cardíaco, a pressão, a taxa glicêmica, o equilíbrio emocional.
Neste momento, começa-se a inverter os papéis de proteção. Passamos a tentar resguardar nossos pais dos abalos do mundo. Porém, enquanto mudamos esses pequenos detalhes nesta relação, ficamos um pouco órfãos. Quanto mais eles perdem memória, vigor, audição; mais sozinhos nos sentimos.
Finalmente, chega o dia em que nossos pais se transformam, de fato, em nossos filhos. Talvez precisemos lembrá-los de comer, de tomar o remédio ou de pagar uma conta. Conduzi-los na rua ou ajudar a se equilibrar. Talvez até alimentá-los, levando o talher à boca.
Nesta trajetória invertida há esperança nas políticas públicas que proporcionam através da Rede de Proteção Social um envelhecimento saudável e ativo. Os filhos devem incentivar os pais a participarem de grupos de interesse mútuo, de convivência, de estimulo à memória, revistas de caça-palavras, oficinas que estimulem as atividades cerebrais etc.
Ser pai dos nossos pais não é uma tarefa fácil. Afinal, não é a lógica da vida. No entanto, aproveite esta oportunidade, agradeça e proponha-se a viver este momento com toda a intensidade.
Sorria diante dos comentários senis ou cante enquanto estiverem juntos. Ouça aquela história contada tantas vezes como se fosse a primeira e faça perguntas como se tudo fosse inédito. Beije-os na testa com toda ternura possível, como quando se coloca uma criança na cama.

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