A fraternidade como instrumento político de resistência
- Atualizado em 15/07/2019 16:44
Faz algum tempo que nos tornamos mais duros, mais reativos e mais frágeis. Mesmo aqueles que podem esbanjar uma saúde de ferro, sabem que temos sofrido ataques de todos os lados. Não falo apenas da política nacional. Estou falando de situações cotidianas. Das brigas de trânsito com um excesso de xingamentos que poderiam ser resolvidos com bom senso. Das reuniões de condomínio que têm acabado segundos antes do início de atos de violência física. Da crueza do trabalho cotidiano que mata silenciosamente. E da angústia daqueles que olham o futuro sem saber se conseguirão um lugar.
Sempre me pareceu que estar com aqueles que se ama, aqueles que admiramos, poderia produzir algum sentido em tempos novamente sombrios. E a ação política também deve ter esta dimensão do abraço. Pois a falta de afeto não é reclamada por adultos. Não somos educados a demonstrar fraqueza.
A ausência de empatia, já tão relatada em textos e artigos nestes anos recentes, transforma cidadãos em instrumentos de ódio. Dentro das escolas, nas empresas, nas redes sociais. Ódio como motor político, ódio como motor de perseguição e morte.
Como professora, sei que neste quadro todo, temos adoecido psiquicamente. E hoje neste texto, me solidarizo com todos aqueles que perderam alguém que amavam. Alguém que não resistiu a crueza destes dias. E neste gesto, afirmo que a fraternidade política é uma arma poderosa contra miséria, contra a violência e contra a depressão. Deve ser empunhada na dureza do inverno, nos quadros de desemprego que assolam o país e na resistência à tentativa em curso de retirar dos jovens o futuro e dos velhos, o presente.
A fraternidade não se restringe a uma filiação religiosa. Pelo contrário, a observação de nossa Constituição, nos encaminha no reconhecimento de condições que deveriam ser igualitárias e portanto, possibilitariam a aproximação entre os diferentes. O contrário desta prática tem favorecido esta sensação de desolamento. Observada na banalidade de homicídios com uso de arma de fogo, de quadros de depressão entre a juventude e por último, nas afirmações públicas que expressam o desejo de morte em relação a um outro.
Por esta razão, a fraternidade torna-se a cada dia, uma arma de resistência.
Dra. Luciane Soares Silva, professora da UENF.

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    Sobre o autor

    Roberto Uchôa

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    Especialista em Segurança Pública, mestrando em Sociologia Política e policial federal