PACIÊNCIA: O EXERCÍCIO DE UMA VIRTUDE
06/07/2019 12:12 - Atualizado em 06/07/2019 12:13
A vida moderna nos lança no centro de um grande paradoxo: quanto mais produzimos no mundo externo, menos criamos no mundo interno. O uso, cada vez mais abrangente, da tecnologia no nosso cotidiano exige de nós cada vez mais paciência! Podemos estar “ganhando tempo”, tornando o mundo mais veloz, mas estamos perdendo a habilidade de lidar com nosso tempo interno. Tornamos-nos cada vez mais impacientes.
Intuitivamente, podemos saber que algo não vai bem, mas como temos uma exigência interna, estimulada pela aceleração dos acontecimentos, de nos livrar das situações, não temos mais tempo para sentir, compreender e transformar nossas emoções. Queremos que nosso mundo interno, nossas emoções, sentimentos e percepções, fluam com a mesma velocidade máxima da internet.
Com a globalização, e a crescente expansão da informática como canal de comunicação, o mundo entrou em um processo de aceleração contínuo e irrevogável. Esse ritmo intenso inevitavelmente se reflete em nosso dia-a-dia, em nossas expectativas e em nosso convívio.
A ansiedade é um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivíduo a tomar medidas para enfrentar ameaças. O medo é a resposta a uma ameaça conhecida, definida; ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga.
Como não toleramos esperar o tempo natural do amadurecimento de nossas emoções, sofremos a dor da impaciência: semelhante a uma queimadura interna – ardemos de ansiedade!
A necessidade de adivinharmos a finalização dos processos, de vislumbrarmos o amanhã, sem o devido amadurecimento do hoje, nos transforma em indivíduos ansiosos e incapazes de aceitar o tempo como fator primordial à excelência dos resultados.
Na contramão da ansiedade está a virtude da paciência. A capacidade de compreensão, de tolerância e sabedoria para viver bem conosco e com os outros.
Frequentemente, confundimos ter paciência com engolir sapos. Em certas situações adversas, não é raro cairmos na armadilha de pensar que estamos sendo pacientes, quando, na verdade, estamos apenas nos sobrecarregando.
Ser paciente não significa sobrecarregar-se de sofrimento interno, nem estar vulnerável ou ser permissivo com relação às condições externas. Ter paciência não é ser uma vitima passiva da desorganização alheia.
Leonardo da Vinci, um dos maiores pintores de todos os tempos, fez uma comparação perfeita para definir paciência: “A paciência serve de proteção contra injustiças como as roupas contra o frio. Se você veste mais roupas com o aumento do frio, este não terá nenhum poder para feri-lo. De forma idêntica, você deve crescer em paciência quando se encontra em grandes dificuldades e elas serão impotentes para atormentar a sua mente”.
Ter paciência é saber sustentar a clareza emocional, mesmo quando o outro já a perdeu e, por isso, insiste em nos provocar! O exercício dessa virtude nos faz mais fortes, mais aptos aos enfrentamentos inevitáveis... mais próximos da evolução desejável enquanto seres em construção. No entanto, não é suficiente ter uma intenção clara: é preciso desenvolver a força interior para sustentá-la.
Para nós, ocidentais, a palavra paciência está contaminada pela noção de suportar uma dificuldade, em vez de estar associada à intenção de nos libertar-nos dela. Na próxima vez que você pensar: “Preciso de paciência com fulano”, troque a palavra paciência por espaço e diga “Preciso criar espaço entre mim e fulano”.
Ao invés de ficarmos com a sensação de que permitimos mais do que outro realmente merece, devemos ter a noção de que estamos construindo um espaço respeitoso e único para administrarmos as diferenças que nos constituem indivíduos. Desejo a todos uma semana plena de energias positivas e de muita sabedoria para o exercício abençoado da paciência!
Com afeto,
Beth Landim

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Elizabeth Landim

    [email protected]