Planície repercute vazamento de mensagens entre Moro e Dallagnol
Aluysio Abreu Barbosa e Aldir Sales 11/06/2019 00:42 - Atualizado em 13/06/2019 16:37
Divulgação
As polêmicas sobre as trocas de mensagens do então juiz Sérgio Moro e o procurador e coordenador da força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, publicadas no último domingo (9) pelo site The Intercept, continuam ecoando. Juízes, promotores, defensor público e advogados que atuam em Campos divergem e repercutem a atuação das partes e sobre o vazamento do conteúdo pessoal.
Enquanto isso, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou para julgamento no plenário o pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O processo, que contesta o fato do ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ter negado a liberdade de Lula sozinho, sem passar pelo colegiado, foi incluído na pauta de hoje do STF.
Já a Polícia Federal informou, ontem, que vai abrir um inquérito para investigar como o site The Intercept obteve a troca de mensagens entre Moro e os procuradores.
Por outro lado, a corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público abriu uma “reclamação disciplinar” para apurar a conduta de Dallagnol. As mensagens, segundo a publicação, sugerem que os dois teriam combinando como atuariam em algumas situações na Lava Jato, inclusive em pontos do processo do triplex do Guarujá, que levou à condenação e prisão de Lula.
Os citados nos vazamentos voltaram a negar, ontem, qualquer irregularidade e acusaram a forma ilegal como os textos foram obtidos. O site The Intercept também nega irregularidades na publicação. 
Confira as opiniões dos campistas que atuam no meio jurídico:
Folha da Manhã
"Acho inconcebível em um estado democrático de direito que se intercepte juízes, procuradores, sem qualquer autorização judicial. Entendo que são atos criminosos e que devem ser repelidos com veemência. Com relação ao conteúdo, foram conversas normais de pessoas que trabalham na operação. Querem brecar a Lava Jato, com interesse de pessoas ligadas à corrupção".
Ralph Manhães - Juiz de Campos
Folha da Manhã
"Conversações telefônicas são protegidas pela lei, razão pela qual qualquer invasão ou divulgação não autorizada judicialmente é evidentemente ilícita. Além disso, não vislumbro nada demais nas conversas divulgadas. Não há elementos para demonstrar parcialidade na condução dos processos. Qualquer afirmação de interessados em sentido contrário não passará de factoide".
Glaucenir Oliveira - Juiz de Campos
"Os vazamentos são ilegais, uma vez que criminosos não relutaram em violar o sigilo de diálogos de um juiz federal e de procuradores da República. O conteúdo em si não indica nenhum conluio. No histórico da Lava Jato, Moro absolveu vários réus que a procuradoria pediu a condenação e os procuradores recorreram inúmeras vezes. Esse fato concreto indica que não havia contato prévio".
Rubens Vianna Sá - Juiz de Campos
Marcelo Lessa
Marcelo Lessa / Folha da Manhã
"Juízes e promotores conversam, sobretudo sobre um caso singular como a Lava Jato, sem que isto signifique ingerência. O que se vê são diálogos normais vazados de forma criminosa e fora de contexto. Moro e Dallangnol são profissionais exemplares, que deveriam inspirar seus colegas frouxos, os quais deveriam fazer gargarejo com água sanitária antes de repercutir essas baboseiras".
Marcelo Lessa - Promotor de Justiça
Victor Queiroz
Victor Queiroz / Isaias Fernandes
"Mesmo que captados e vazados de modo ilícito e descontextualizado, os diálogos não revelam nada escuso. Trata-se de conversas que são mantidas no âmbito forense de modo rotineiro e republicano, inclusive com advogados de defesa. Imparcialidade deve ser aferida à luz das decisões proferidas no processo, com a saudável submissão ao controle das instâncias superiores".
Victor Queiroz - Promotor de Justiça
Tiago Abud
Tiago Abud / Isaias Fernandes
"Final de campeonato. O árbitro é flagrado conversando com o time adversário, indicando qual o melhor caminho para ganhar. Não me parece que essa postura seja aceita pelo time prejudicado. Qual o árbitro, o juiz que aconselha uma das partes é, por força de lei, suspeito, estando impedido de julgar. Há limites impostos até àqueles que se julgam bem-intencionados".
Tiago Abud - Defensor público
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"O juiz, embora não neutro, já que, como nós, interage na sociedade, deve se manter à mesma distância tanto da acusação quanto da defesa. Se não for para ser assim, o processo criminal perde o sentido. Decapitar alguém em praça pública logo após sumária acusação é mais rápido e barato que submeter o acusado a um processo com juiz imparcial, defesa ampla e outras garantias".
Antônio Carlos Filho - Advogado
Carlos Alexandre
Carlos Alexandre / Divulgação
"Sendo verdadeiros os fatos, a situação revela, para mim, aquilo que os advogados de defesa sempre acusaram na Lava Jato: a parcialidade de Moro. Todo juiz deve perseguir a efetividade, mas sempre mantendo-se equidistante das partes, ainda mais o juiz criminal porque envolvido o bem “liberdade”. Zelar pelo processo não significa poder discutir “estratégias” com uma das partes".
Carlos Alexandre de Azevedo - Advogado
"Parece que a obtenção das conversas não teria sido autorizada. Isso pode, em tese, servir de argumento, em um desdobramento, para que tanto os procuradores como o magistrado aleguem a nulidade respectiva como prova. Cumpre-se observar que tanto os procuradores quanto o hoje ministro verberam o modo como se deu a espionagem, mas não contestam o conteúdo. É esperar para ver".
Geraldo Machado - Advogado
João Paulo
João Paulo / Folha da Manhã
"Na verdade, não temos como negar que juízes se relacionem com promotores, advogados e que haja uma relação harmônica entre todos. Tenho amigos juízes, amigos promotores, como juízes têm amigos promotores e advogados. O detalhe é deixar que isso não extrapole o campo da amizade para o profissional. Fazendo uma análise fria, entendo que extrapolou, sim, o campo ético, quando Sérgio Moro orientou como deveria ser o atuar do membro do Ministério Público, inclusive tornando-o suspeito de participar de qualquer processo envolvendo aquele promotor, relativo à matéria aconselhada".
João Paulo Granja - Advogado
"Em que pese a discussão sobre a ilegalidade da invasão do hacker, o conteúdo exposto, uma vez certificada a veracidade, denota clara inclinação política dos agentes envolvidos. Em especial, do então juiz Sérgio Moro, que, ao que parece, ajudou na condução das investigações, tendo destoado do mister constitucional da imparcialidade do juiz. É gravíssima a situação, do ponto de vista da defesa de garantias".
Helen Carneiro - Advogada
Robson Maciel Junior
Robson Maciel Junior / Folha da Manhã/ Divulgação
"O vazamento da troca de mensagens põe em suspeita a imparcialidade necessária para a condução e julgamento de processos que entraram para a história do país. Contudo, o vazamento precisa ser investigado, inclusive sob o ponto de vista do direito à privacidade dos mesmos. Após as devidas investigações podem surgir reflexos em processos já julgados pela Justiça Federal de Curitiba".
Robson Maciel - Advogado
"Ainda é cedo para avaliarmos a magnitude do que, de fato, ocorreu, mas as informações sugerem que Dallagnol combinava sua atuação com Moro, o que seria uma grave afronta ao devido processo legal. Mais do que isso, eventuais discussões fora dos autos a respeito de estratégias de acusação levariam à anulação das decisões tomadas posteriormente".
Sana Gimenes - Advogada e presidente da Fundação da Infância e Juventude

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