Defensor público Tiago Abud analisa Justiça, política e violência no Folha no Ar
Maria Laura Gomes 10/06/2019 08:02 - Atualizado em 13/06/2019 13:30
Isaías Fernandes
O defensor público Tiago Abud foi o entrevistado da primeira edição do programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, desta segunda-feira (10). Entre outros assuntos abordados durante o bate-papo, o advogado comentou sobre o descaso relacionado a moradias populares em Campos, com criações de “bolsões do crime organizado” devido à presença de facções criminosas. Abud também analisou o cumprimento de penas, ressocialização e o sistema judiciário brasileiro.
Tiago afirmou que nunca houve uma política tão ostensiva de entrega de casas populares, mas que falta a presença de entidades e órgãos públicos para organizar a distribuição.
— Na verdade, você entregar a casa e virar as costas, sem se fazer presente ali, era, guardadas as devidas proporções, o que o Mariano Beltrame (ex-secretário estadual de Segurança Pública) falava do Estado. Ele dizia que a Polícia Pacificadora não daria conta se não houvesse uma massificação da atuação do Estado. A polícia chegaria, mas, só com ela, não se resolveria. Aqui em Campos, o que houve foi a entrega dessas moradias populares e nem a polícia chegou. E aí, infelizmente, o que se vê hoje é que você tem um domínio de facções criminosas em determinados conjuntos habitacionais, o que gera esse alto índice de homicídios, por exemplo, em Guarus — analisou o defensor.
Para o defensor, o sistema penitenciário brasileiro deve ser voltado não apenas para punir, mas também como um meio de ressocialização. Ele destacou que o detento necessita do básico dentro da cadeia, como saúde e alimentação, para, quando terminar de cumprir a pena, poder se reintegrar à sociedade.
— As pessoas querem ver, na pena, a imposição de sofrimento. E a pena não é só isso. A sociedade, muitas vezes, se esquece de que aquele sujeito que ingressa no sistema vai voltar uma hora e, se ele não tem o mínimo, o básico, é difícil você ressocializar e querer que aquele sujeito volte para a vida em sociedade recuperado. É difícil você exigir que o sujeito regresse para a vida em sociedade pronto para conviver, se ele não teve o mínimo lá dentro — alertou Tiago.
Questionado sobre a Justiça brasileira, o defensor ressaltou que os crimes estão sendo reprimidos, mas as causas da violência não estão sendo, de fato, combatidas.
— O sistema de justiça criminal é seletivo. Eu acho que existe um equívoco na política pública relacionada ao enfrentamento do tráfico de drogas, que cria o superencarceramento, um abarrotamento das prisões. Todo aquele que milita na área criminal tem a impressão de que está enxugando gelo, porque, para cada um que entra, tantos outros que vão para o lugar dele no mercado do crime. Então, na verdade, a gente vê a repressão funcionar, mas a gente não vê o ataque à causa, a razão que leva à prática daquele crime. Quanto mais prisões forem construídas no Brasil, mais elas vão estar superlotadas se essa política de encarceramento continuar nesse viés. É a forma que eu vejo o sistema de Justiça que prende muito, que prende o pobre. É um sistema de Justiça que não julga, muitas vezes, de uma maneira séria. É um sistema que precisa ser mudado — finalizou Tiago.
Confira a entrevista: 

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