BR-101, terra de ninguém: momentos de terror e pânico - Caso 13
03/06/2019 13:15 - Atualizado em 03/06/2019 13:56
Em julho do ano passado foi publicada aqui a nota "BR-101, terra de ninguém", retratando as péssimas condições de segurança da rodovia, que expõem a graves riscos campistas e usuários que ali trafegam, em especial na Niterói-Manilha no trecho existente entre os kms 307 e 309, a "Terra de Ninguém", a "Faixa de Gaza" situada ao lado do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.
Já foram publicados aqui 12 relatos de casos ocorridos com campistas e usuários da rodovia. E a onda de assaltos na BR-101 infelizmente não para. Neste final de semana um casal ia celebrar a vida em Campos do Jordão, saindo de Campos no sábado pela manhã, quando foram bruscamente interrompidos pela violência da BR-101.
O carro em que eles estavam, uma Fiat Toro branca, foi fechado pelos bandidos na trecho da rodovia chamado de Niterói-Manilha, na altura de Itaboraí, próximo ao Itaboraí Plaza Shopping. A esposa fez um longo, emocionante e impressionante desabafo e relato, com detalhes, em seu Facebook. Confira abaixo:
Este final de semana era para ser especial, estávamos indo comemorar mais um aniversário do meu marido, Campos do Jordão era o destino. Infelizmente nem tudo é como queremos e a vida ou mesmo a violência fez tudo o que estava planejado mudar de direção.
Fomos abordados na BR 101 na Niterói- Manilha por três indivíduos altamente armados com fuzis, pistola, e mais alguns artefatos, todo tipo de instrumento que deixaria qualquer pessoa em estado de choque. Atravessaram a pista com o carro em que os meliantes estavam e apontaram as armas contra mim e meu marido.
Eu nunca estive em um momento de desrespeito tão grande em toda minha vida. Depois de alvejarem o carro agressivamente me puxaram pelo cabelo e com palavras de baixo calão sussurravam em meu ouvido coisas inenarráveis.
Enquanto meu marido era "esculachado", pois como ele anteriormente ao avistar um carro suspeito acelerou e tentou fujir em um ato de desespero daquela situação, mas em um momento o carro suspeito desapareceu, e com habilidade apareceram fazendo "zigue zague" em plena rodovia e em uma ousadia deram um "cavalinho de pau" pararam na transversal interditando a via e sentiram no direito de ofender com palavrões e com arrogância, indagaram sobre a esperteza que meu marido teve de correr do assalto.
Me jogaram dentro do carro para acompanha-los só Deus sabe pra onde .... como um deles disseram : "Vamos fazer uma festinha com esta gostosa". Nunca fiquei com tanto medo na minha vida a arma do bandido estava a todo momento no meu queixo, minha mente só pensava em uma coisa: meu Deus ainda bem que meu filho está em casa a salvo (veio a minha mente o caso do João Helio)
Meu marido gritava desesperado para leva-lo e me deixar e eu não podendo falar nada com aquela arma no queixo ...... Quando a oportunidade chegou no ato de desespero tive a ideia de inventar que estava grávida eles me jogaram no asfalto entraram no nosso carro e saíram em disparada e levaram tudo e deixaram a gente com a roupa do corpo descalço e desesperados a margem da BR-101, o importante estávamos vivos.
Bens materiais conseguimos com trabalho, o susto foi grande e ainda fecho os olhos e lembro de um jovem de 20 poucos anos que poderia ter outro futuro, mas infelizmente a criminalidade encanta . A quem culpar? .... a quem reclamar? .....
Um estado desestruturado, um governo Federal apático, um povo sem solidadriedade com o próximo o egoismo a ganância assola este país e o mundo. Frases do tipo: Bandido bom é bandido morto? Pena de morte? Morte em massa nas penitenciárias? Será que seria a solução?
Fiz o boletim de ocorrência e indaguei a respeito do que seria feito quanto à investigação do roubo. E o inspetor meramente disse: “Logo vai ser achado. Eles roubam pra fazer assalto e depois largam por aí” ou trocam tudo por droga no Paraguai.Não é preciso ser algum perito em violência pra saber que há grandes probabilidades disto acontecer.
Alguma coisa de muito errada acontece na nossa segurança pública. Aumentar a quantidade de policiais não necessariamente significa dar um acréscimo de qualidades às instituições. Existe uma lógica muito morosa por trás destas circunstâncias que faz com que grande parte das queixas registradas nunca sejam investigadas, muito menos virem processo remetidos a justiça.
No fim das contas, a realidade dura é esta: pagamos impostos sobre o que conseguimos produzir com muito esforço e trabalho e a única segurança que recebemos do Estado, como cidadãos, na proteção de nossas vidas e de nossa patrimônio, está na nossa própria sorte e naquilo que puderem fazer por nós os bons espíritos protetores.
Bem amigos, enquanto escrevo este relato, já se passaram quase 24h do ocorrido, sem que qualquer informação me tenha sido repassada pelas autoridades competentes. Sorte minha que o carro possui seguro. E sorte maior que estamos vivos para contar isto.
Apesar de tudo tenho esperança neste país. Enfim agradeço, porque levaram a minha carteira meu carro, minhas malas e deixaram a minha vida e de meu marido. E como diz a prece de Matthew Henry:Quero agradecer em primeiro lugar, porque eu nunca fui assaltado antes. Em segundo lugar, porque levaram a minha carteira e deixaram a minha vida. Em terceiro lugar porque, mesmo que tenham levado tudo, não era muito.
Finalmente, quero agradecer porque eu fui aquele que foi roubado, e não aquele que roubou.......
A situação cada dia piora.
* Os nomes do casal foram suprimidos do texto
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Christiano Abreu Barbosa

    [email protected]