Ameaça do vírus mayaro mobiliza força-tarefa em Campos e região
Virna Alencar 21/05/2019 17:52 - Atualizado em 27/05/2019 11:21
Aedes aegypti
Aedes aegypti / Agência Brasil
Após pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) anunciarem a descoberta do vírus mayaro, no Estado do Rio, os Centros de Controle e Zoonoses (CCZ) de Campos e região reforçam ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus. O vírus é uma espécie de ‘primo’ da chikungunya e provoca as mesmas reações nos pacientes: febres e intensas dores musculares e articulares que podem se prolongar por meses. Em Campos, segundo o diretor do Centro de Referência de Doenças Imuno-infecciosas (CRDI), Luiz José de Souza, já são mais de 2.600 casos de chikungunya confirmados, em 2019, enquanto que em São João da Barra (SJB) são 90 casos confirmados. Em nota, o Ministério da Saúde informou que não foi notificado sobre a descoberta e que, até o momento, não há registro de casos da Febre mayaro pela transmissão do Aedes aegypti.
O diretor do CRDI explicou que o vírus mayaro é do gênero “Alphavirus”, assim como a chikungunya, sendo descobertos na mesma época – a chikungunya, em 1952, na Tanzânia e o mayaro, no Caribe, em 1954. “Temíamos que o mayaro pudesse se espalhar. Ele tem como vetor principal o mosquito Haemagogus da febre amarela silvestre, então, é da floresta, não é da cidade. A gente sabe que por Campos passam caminhoneiros transportando madeiras e, portanto, eles seriam o grande vínculo para se expandir a doença. Nós temos casos de chikungunya que às vezes não se confirma, então, criamos, recentemente, o protocolo de guardar o soro a ser submetido a exame na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para verificar se está se curando mayaro”, disse enfatizando que tais doenças surgem a partir do desmatamento.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que “não há registro recente de casos da febre mayaro no país, nem registro da doença no estado do Rio de Janeiro. Contudo, a pasta ressalta que o diagnóstico de mayaro pode ser confundido com o de chikungunya. É importante destacar que as informações concedidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tratam-se de ‘casos’ identificados em atividade de pesquisa, realizada no ano de 2015. Além disso, a pasta não foi notificada (conforme portaria de notificação compulsória) formalmente pelo pesquisador para avaliação de risco e eventuais medidas de controle, caso se justifiquem, já que são de competência do Sistema Único de Saúde (SUS)”, disse.
O Ministério explicou ainda que “o vírus mayaro é considerado endêmico na região Amazônica, que envolve os estados das regiões Norte e Centro-Oeste. Entre dezembro/2014 e janeiro/2016, foram confirmados 86 casos da doença no país nos estados de Goiás (76), Pará (1) e Tocantins (9). O Ministério da Saúde mantém monitoramento permanente e atua com apoio do Centro de Proteção dos Primatas Brasileiros (ICMBio), Instituto Evandro Chagas (IEC) e o Centro Nacional de Primatas (CENP)”, finalizou.
Força-tarefa na região - Em Campos, o segundo Levantamento Rápido do Índice de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) de 2019 apontou que o índice de infestação do mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika foi de 4.4%, considerado de alto risco. Como estratégia, o CCZ definiu ações para os próximos três meses no município. Os mutirões iniciaram na sexta-feira (17), no distrito de Travessão, hoje a área com maior número de pessoas infectadas com a chikungunya. A Prefeitura de Campos não informou o resultado da ação.
Já em São João da Barra, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o município tem registrado até o dia 23 de abril, 90 casos confirmados de chikungunya. O Núcleo de Controle de Zoonoses (NCZ) da cidade está trabalhando junto às comunidades para a eliminação de focos do mosquito, além de distribuição de panfletos. Somente neste ano já foram realizados mais de 20 mutirões. Três estão agendados para o restante dessa semana (quarta, quinta e sexta-feira), nas localidades de Grussaí (Bairro Figueira) e Cajueiro. Segundo o LIRAa (Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti) feito entre os dias 5 e 10 de maio, o índice de infestação para o mosquito em São João da Barra é de 0.9 considerado de baixo.
Os transtornos causados pelo mosquito aedes aegypti foram debatidos na sessão da Câmara Municipal nesta terça-feira (21). O plenário aprovou indicação proposta pelo presidente da Casa, Aluizio Siqueira, que sugeriu ao Executivo, a criação de uma força-tarefa para combater a proliferação do mosquito no município e, se possível, a contratação de mais funcionários para as funções de agentes de endemias.
Em Macaé, após as chuvas que atingiram o município, no último final de semana, agentes de endemias do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Secretaria de Saúde, também intensificam as ações de combate ao Aedes aegypti. Na segunda-feira (20), eles percorreram diversos bairros realizando inspeção, eliminação de criadouros e sensibilizando os moradores quanto à importância do combate ao mosquito. O alerta é para que a população seja vigilante, mantendo a caixa d’água tampada e com tela, lixeira furada para não acumular água, colocar areia nos pratos de vasos de plantas, entre outros cuidados preventivos.
A Folha da Manhã tentou contato com a Prefeitura de Macaé para saber o número de casos confirmados de chikungunya no município, mas até o fechamento desta edição não obteve respostas.
Prevenção - O Ministério da Saúde informou que não há óbitos associados ou registrados ao Mayaro no Brasil e, que, atualmente, não existe terapia específica ou vacina para a doença. Os pacientes devem permanecer em repouso, acompanhado de tratamento sintomático, com analgésicos e/ou drogas anti-inflamatórias, que podem proporcionar alívio da dor e febre.
Os sintomas são muito parecidos com os da dengue e/ou chikungunya. Começa com uma febre inespecífica e cansaço, sem outros sinais aparentes. Logo após podem surgir manchas vermelhas pelo corpo, acompanhadas de dor de cabeça e dores nas articulações. Os olhos podem também ficar doendo e em alguns casos reporta-se intolerância à luz. As dores e o inchaço das articulações podem ser mais limitantes e durar meses para passar. A diferenciação se dá por exames laboratoriais específicos e que podem apontar o diagnóstico correto.
Os casos detectados pelos serviços de saúde do Brasil são esporádicos, ocorrem em área de mata, rural ou silvestre (não há casos urbanos) e afetam pessoas que adentraram espaços onde têm macacos e vetores silvestres. Considerando que o horário de maior atividade do vetor primário (Haemagogus janthinomys) se dá entre 9 e 16 horas, recomenda-se evitar exposição em áreas de mata, sobretudo desprotegido, durante esse período. Uso de roupas cumpridas e uso de repelentes podem ajudar a evitar o contato com o vetor e diminuir o risco de infecção.
 
 

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