Morre, aos 80 anos, o mais popular locutor esportivo de Campos, Joselio Rocha
Matheus Berriel e Virna Alencar 15/05/2019 09:00 - Atualizado em 27/05/2019 11:06
Genilson Pessanha
Morreu na madrugada desta quarta-feira (15), aos 80 anos de idade, o mais popular locutor esportivo de Campos, Joselio Rocha. O “Gordo bom de bola”, como ficou conhecido durante a exitosa carreira, estava internado desde segunda-feira (13), no Hospital Geral de Guarus (HGG), devido a problemas respiratórios. O velório aconteceu no salão nobre do Goytacaz, clube do qual foi torcedor, conselheiro e vice-presidente administrativo. Seu nome batiza uma das cabines do estádio Ary de Oliveira e Souza. No meio futebolístico, foi também presidente da Liga Campista de Esportos (LCD) por vários anos. O sepultamento aconteceu no cemitério do Caju. Joselio deixa a esposa Dorothea e uma filha, Karla Rocha, que se referiu ao pai no Facebook como o amor de sua vida. O clube da rua do Gás decretou luto oficial de três dias, bem como o bloco de samba “Os Psicodélicos”, maior campeão da categoria no Carnaval campista, do qual foi um dos fundadores.
Amigo pessoal, o jornalista esportivo Péris Ribeiro considerava Joselio “o último grande personagem da era de ouro do rádio campista”. Embora tenha ressaltado a nítida preferência do radialista pelo Goytacaz, contou guardar na memória uma narração histórica do amigo no gol que valeu um dos nove títulos campistas consecutivos ao Americano. O Alvinegro já vencia o Sapucaia por 1 a 0, no antigo campo dos Servidores Municipais, quando Adalberto deixou sua marca para confirmar o título.
— O campo tinha dimensões menores. Para o batedor (de faltas), era ótimo, ainda mais que Adalberto era infalível, chutava forte e colocado de pé direito. Ele manjou que o Tuiú, goleiro do Sapucaia, estava se adiantando. Pegou a bola lá de fora, meteu a curva e jogou no ângulo direito. Josélio deu um grito, e o eco foi violentíssimo. E todo mundo do estádio com o rádio de pilha ligado. Aquilo reverberou e tomou conta da região toda, acho que até os defuntos do cemitério (do Caju) ouviram o eco. “Gooolaaaaaço! Gooolaaaaaço! Adalberto, o gênio do Americano. Camisa oito! Dois a zero para o Americano, liquidando a fatura”, aquele negócio todo. E ele tinha um jargão: “Tuiú, Tuiú, olha à sua direita, Tuiú. Por aí passou a margarida”. E esse jargão pegou, todo mundo falava isso. O cara passava pelo outro na rua e falava: “Olha à sua direita, por aí passou a margarida” — contou Péris, que trabalhou com Joselio Rocha na Folha da Manhã, no início dos anos 1980, após passagens deste por A Notícia e pelo Monitor Campista.
No rádio, Joselio empunhou os microfones da Continental — atual Folha FM —, Difusora, Campista Afonsiana, Cultura e Absoluta. “Um irmão que eu perdi. Eu era muito colado com ele, foram muitos anos de relação. Estou muito triste, não podia ser diferente”, completou Péris.
Despedida musical no salão nobre do Goytacaz
As bandeiras do Goytacaz, de Os Psicodélicos e da Irmandade Santa Efigênia ficaram sobre o caixão durante quase todo o velório, encerrado com uma despedida musical de outro amigo de Joselio, o cantor João Damásio. Integrante da Velha Guarda do famoso bloco campista, ele executou em voz e violão os sambas “Rosas vermelhas” e “Carnaval dos carnavais”, a “Canção da América” e o hino “Pai Nosso”, causando natural comoção de amigos e familiares. Segundo Damásio, este havia sido um pedido em vida de “Jô”, outro apelido usado por pessoas próximas.
O presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro, publicou no Facebook uma nota da entidade lamentando profundamente o falecimento do radialista. A Prefeitura de Campos, a LCD, o Goytacaz e o Campos Atlético Associação também emitiram notas.
Velório de Josélio Rocha
Velório de Josélio Rocha / Genilson Pessanha
Outros depoimentos
“Uma perda irreparável do clube, como dirigente e torcedor fanático que era. Foi decretado luto de três dias. O Joselio fará falta no meio esportivo”.
— Dartagnan Fernandes, presidente do Goytacaz
“Em nome do Campos Atlético Associação, a gente deixa as condolências à família, porque a perda é muito grande. O futebol perdeu um grande profissional, um grande colaborador”.
— Márcio Reinaldo, presidente do Campos
“Com as histórias que contam, percebemos que ele construiu um legado. Isso é muito gratificante, saber que não foi uma inspiração só para a gente, mas para toda uma geração de radialistas”.
— Ruan Rocha, sobrinho-neto de Joselio
“Tinha uma narrativa cadenciada, se preocupava em dizer o jogo. Era um cara engraçado. Zangava com facilidade, mas tinha um coração extraordinário”.
— Luiz Mário Concebida, jornalista
“Anos de convivência, discussões por paixão clubística (Americano x Goytacaz), mas sempre amigos, de visitarmos a casa do outro. Companheiro de muitos anos”.
— Eraldo Bento, radialista esportivo
“Era um verdadeiro Goytacaz, narrador de primeira, trazia muita emoção aos ouvintes. No gol do time de coração, ele arrepiava. De outro time, murchava um pouco”.
— Luís Augusto “Coliseu”, torcedor ilustre do Goytacaz
“A principal característica de Josélio foi acolher os mais jovens, orientar. Fora isso, um dos maiores nomes do rádio esportivo de Campos, uma referência. E também um chefe de família”.
— Antunis Clayton, jornalista esportivo
“Um professor. Fui lançado por ele, sofreu críticas por me dar oportunidades. Uma figuraça, tive o prazer conviver com ele. O ouvinte virou companheiro de profissão”.
— Arnaldo Garcia, radialista e vice-presidente do Rio Branco
“Foi um gentleman, tanto atuando no Carnaval, por Os Psicodélicos, uma das suas paixões, como dentro do esporte, onde ele era considerado ‘o gordo bom de bola’”.
— Orávio de Campos Soares, jornalista e professor
“Nos mais de 30 anos juntos, aprendi a ter cumplicidade com a comunicação, que perde parte de sua história. Seu falecimento deixou e deixa muita gente sentida”.
— Fernando Antônio Petruci Correia, radialista esportivo
“O rádio campista perde um dos ícones da nossa comunicação. Lamentamos profundamente mais essa perda”.
— Cláudio Nogueira, gerente da Folha FM

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