Revolução silenciosa no campo
Paulo Renato Porto 25/05/2019 17:57 - Atualizado em 06/06/2019 14:00
Isaias Fernandes
Nos anos 30, em vista à cidade, Getúlio Vargas proclamava Campos como “o espelho do Brasil”. A vasta planície verdejante emoldurada por um cinturão de imensos canaviais, somada à pujança atestada por suas dezenas de usinas e engenhos, chegou impressionar o então presidente da República. Décadas depois, a célebre frase do estadista brasileiro por muitos anos inflou a auto-estima e o orgulho do campista ao ver a sua força econômica da sua terra comparada com as potencialidades do País. O açúcar, ao lado do café, era um dos nossos poucos produtos de exportação, contribuindo decisivamente para o saldo da balança comercial brasileira. Passados quase 90 anos, o maior município do Estado do Rio de Janeiro, com exatos 4.032 km² de extensão territorial, busca reocupar sua importância no cenário da produção agrícola nacional.
Nos últimos anos, um despertar de consciências parece ter sinalizado para uma revolução silenciosa no campo, onde o clamor de mais de 10 mil pequenos produtores parece encontrar eco.
Assim, no setor privado e em diferentes esferas do poder público, um conjunto de programas e ações esboça sinais de reação para a recuperação do espaço da agricultura no cenário econômico local que, incrivelmente representa perto 1% de participação no PIB local.
No plano estadual, o governador Wilson Witzel anunciou na última quinta-feira uma injeção de recursos da ordem de R$ 30 milhões para projetos de irrigação e recuperação dos canais da região. Com o anúncio da injeção de recursos, que aconteceu durante a RioAgro Coop, o setor canavieiro espera triplicar a produção de cana.
Um grupo técnico foi montado para traçar um diagnóstico da situação e elaborar o projeto. Os trabalhos terão a contribuição de técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura, além de especialistas de órgãos públicos e privados.
—Essa maior produção de cana é para atender às três usinas do município que hoje operam com apenas 1/3 da sua capacidade devido à falta da matéria-prima — disse Frederico Paes, presidente da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro), gestora da antiga Usina Sapucaia, hoje controlada pelo Grupo MPE, do empresário Renato Abreu.
Financiamento para a agricultura familiar
Rafael afirma que reconhece a necessidade de diversificação da produção agrícola, “daí que criamos o Fundecam Agricultura Familiar, entre outras ações”.
— Mas também não podemos de forma alguma abandonar uma atividade importante e tradicional como a cana que tornou nossa cidade conhecida em todo país e ainda representa um fator importante para o nosso desenvolvimento e a geração de renda e empregos em nosso município—, assinalou o prefeito.
Diniz garante que o campo integra a agenda de prioridades do governo municipal. Em sintonia com o novo horizonte que se vislumbra, o prefeito inaugurou o Fundecam Agricultura Familiar com foco no financiamento para a expansão da produção da lavoura e da pecuária.
Pelo programa, o agricultor que participa do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) pode levar o contrato ao Fundecam para a equalização da taxa de juros. Ao fim do contrato, o programa devolve ao produtor os valores referentes aos juros pagos, desde que estes tenham sido efetuados em dia.
Isaias Fernandes
Nova linha de crédito para o plantio de cana
Para Frederico Paes, a crise levou os produtores e as usinas remanescentes a se unirem deixando de lado uma acirrada concorrência em nome da sobrevivência e a busca da recuperação do setor.
— Foi assim que surgiu a Coagro e o caminho se abre para que outras operações estejam a caminho, tendo a união e a cooperação como uma alternativa única de solução para o setor — acrescentou.
No âmbito municipal, durante o mesmo evento em Sapucaia, o prefeito Rafael Diniz anunciou o Agrocana, programa com uma linha de crédito que vai beneficiar os produtores de cana-de-açúcar do município. A nova linha de crédito pode chegar a R$ 10 mil e será destinada ao financiamento de insumos. A análise técnica dos financiamentos será feita pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
Polo Agroalimentar para comercialização
Outra iniciativa é a criação do Polo Agroalimentar, pela prefeitura, com a utilização do antigo posto da Ceasa, em Guarus, para o escoamento e comercialização da produção.
No plano federal, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) acaba de se instalar no município com um galpão para a operacionalização do Programa de Vendas em Balcão (PVB).
A unidade visa atender a pequenos e médios criadores de animais com a venda de milho, e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), importante estímulo à agricultura familiar.
Outra luta é o reconhecimento da região Norte/Noroeste como área do semiárido, a exemplo do que ocorre com o Nordeste, parte de Minas. Projeto do deputado federal Wladimir Garotinho protocolado na Câmara prevê, com a aprovação, a criação de Fundo de Desenvolvimento Econômico para compensar os efeitos da seca.

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