O gênio iluminado
09/05/2019 07:50 - Atualizado em 09/05/2019 08:10
 De Péris Ribeiro
 Ganhou ares de pesadelo - e pesadelo com a força do mais arrebatador tango portenho -, certa desdita vivida por Messi. O ano? 2016, em uma Copa América perdida para o Chile, nos pênaltis, em decisão ocorrida nos Estados Unidos. É incrível, mas ainda me lembro bem do seu choro, de sua imensa frustração. E da dura e sofrida realidade, da impossibilidade ante o impossível.
Porém, há de ter doído bem mais, a constatação real de que ainda não seria daquela vez. Nem a jogada genial, nem o gol decisivo. Muito menos, o sorriso refletido na taça. Na subida ao pódio, o sufoco de novo contido.
Quando, em que dia, afinal, ele poderá rasgar o peito e gritar: “Argentina! Argentina campeã!?”
Como os deuses da bola sabem ser matreiros, e são tantas e tantas vezes cruéis, há muita gente por aí ostentando façanhas de dar inveja. Uma gente, frise-se, capaz de exibir bem pouco mais que um mínimo que seja de talento.
Em compensação, existem certos gênios predestinados. Iluminados. Aqueles para quem a sorte nunca deixou de sorrir. Como Didi, o Príncipe Etíope. Alguém com um dom mágico, capaz de obter o que poucos, bem poucos, puderam na vida. Ainda mais, no sinuoso universo do futebol.
Basta dizer que, festejado em 1962, em Santiago do Chile, como bicampeão mundial, Didi já havia conseguido uma glória particular, toda sua, alguns anos atrás. É que, lá na Suécia, fora consagrado o Maior Jogador da Copa de 1958 - justamente a primeira de todas, na qual o Brasil saiu com as honras de grande campeão.
Aliás, refletindo com serenidade e rigor sobre o tema, não é pouca coisa ser considerado o Maior Jogador de uma Copa do Mundo. Em absoluto! Muito menos, em uma Copa que tem Pelé e Garrincha em campo. E ainda convém lembrar que também havia, nos gramados escandinavos, talentos luminares como os franceses Kopa e Fontaine, o tcheco Masopoust, o húngaro Bozsic e os alemães Rahn e Fritz Walter. Ou o sueco Skoglund, o argentino Labruna, o galês John Charles e o goleiro russo Lev Yashin, já celebrado como o “Aranha Negra”.
Pois ainda assim, e mesmo com todo o tipo de honraria por aí já recebida, nem no ato da heroica conquista em estádios do Chile, Mestre Didi faria por menos. É que, nos atapetados gramados andinos, o elegante e cerebral inventor da “Folha Seca” iria imprimir, pela última vez, a sua marca genial. Particularmente, porque só a ele, e a mais dez ilustres jogadores, seria concedida a honra de um Bi em Campeonatos Mundiais. No caso, oito brasileiros - com ele, Didi, nove - e dois italianos.
- Tenho consciência, que fiz por onde chegar a algum lugar. Sei bem disso. Mas sei também que Deus foi bom demais, dando-me além. Quantos fazem por merecer, e nada conseguem? - disse-me Didi certa vez, em um ameno final de tarde. O sol morno e agradável - era início de primavera -, como testemunha privilegiada.
Será Messi, um desses definitivos - e imerecidos - desafortunados da bola?
* Péris Ribeiro
Esta é uma crônica que presta a mais incondicional e respeitosa reverência, aos 18 anos de falecimento ( 12 de maio de 2001 ) de um artista da bola.
Mesmo assim, ela não está a acentuar, apenas, a genialidade de Didi, o Príncipe Etíope. E nem as suas muitas glórias nos gramados - o bicampeonato mundial, com o Brasil e os títulos de campeão com o Botafogo e o Fluminense, seriam os exemplos mais ilustres.
Nela, há espaço também para um outro olhar. Apenas uma vista d”olhos sobre a face cruel do Futebol. Capaz, até hoje, de injustiçar o mais talentoso artista do nossos tempos. Lionel Messi.
 
 
 
 
 
 
 
 

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Saulo Pessanha

    [email protected]