Um Café no Amarelinho
16/05/2019 11:25 - Atualizado em 16/05/2019 11:26
Por Etelvis Faria*
 
 
Quisera ter mais tempo para observar as pessoas, em um banco de praça, no balcão de um botequim manter-me sóbrio, por horas, e ser um mero espectador. Quem sabe um dia tomo um ônibus logo no primeiro horário, numa manhã quente de verão, e entre hálitos e sovacos desta gente simples que, corre ao trabalho, faça pausa para escrever...
Ser um observador dói, machuca as vezes, vemos muito mais do que as palavras possam dizer, e nas minhas curtas crônicas tento trazer alento a mim mesmo, de forma que me sinta menos inquieto.
Vejo aproximar do balcão do Amarelinho, (como se chamam os tradicionais quiosques do calçadão da cidade), um menino em idade escolar, simples, mal cuidado, e eu, dentre um sopro e outro no café ainda quente, ouso cruzar meus olhos com os dele.
Aparentemente só, ficou ali, quieto, e me olhava de vez em quando. Penso que ele deva ter estudado pela manhã, e talvez por falta de entretenimento, vagava pelo centro.
Senti que ele queria algo, mas numa vergonha sadia, não quis dizer, e eu num passo de ousadia, medi a voz, não quis parecer arrogante, e nem simpático em demasia:
- Você quer alguma coisa?
- Eu quero uma bala. - disse com voz tímida.
- Ok! - e me referindo ao balconista disse:
- Amigo! Mais um café pra mim e uma bala para o jovem senhor aqui!
E ele, com um sorriso tímido, porém iluminado, salvou meu dia.
 
 
 
 
 
 
*Etelvis é marceneiro e cronista, cuidadoso artista em ambas as funções.

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