Cinematógrafo: A imigrante maldita
22/04/2019 21:13 - Atualizado em 27/04/2019 11:47
Por Edgar Vianna de Andrade
(A maldição da Chorona) — James Wan explodiu em 2004 com “Jogos mortais”, filme independente e de baixo orçamento. Muito novo, ele criou uma franquia. “Jogos mortais” não é um autêntico filme de terror, mas um suspense muito violento. Ele enveredou no gênero terror principalmente com “Annabelle” e “Invocação do mal”. Fez algumas incursões em outros gêneros, como “Velozes e furiosos 7” e recentemente “Aquaman”. O forte dele, porém, é o gênero terror. Aconteceu com Wan o que aconteceu com outros diretores talentosos: ele foi cooptado pela fama e pelo dinheiro. Mesmo não dirigindo filmes, ele está por trás de diretores novatos, deixando a sua marca. Wan criou uma espécie de universo do terror, assim como a Marvel criou um universo de super-heróis.
Em “A freira”, Wan, através do diretor Corin Hardy, retorna à Europa oriental para ambientar a trama. De longa data, essa região do mundo é o berço de seres sobrenaturais malignos, a começar por Drácula. O México também tem fama de abrigar fantasmas. Recentemente, em “Verdade ou desafio”, um grupo de jovens contraiu o vírus do mal numa visita ao México. Seria ocioso mencionar outros, tão longa é a lista. De forma sub-reptícia, procura-se estabelecer a dicotomia Estados Unidos protestante, laico e desenvolvido contra México católico, supersticioso e atrasado. Ainda mais agora no governo Trump. Certamente, não foi essa a intenção do diretor Michael Chaves e de James Wan, produtor, mas também o diretor do diretor. Agora, como imigrante, a lenda da Chorona entra nos Estados Unidos para assombrar e matar crianças.
Nos Estados Unidos, há também locais amaldiçoados que o cinema tem aproveitado para fazer filmes. O problema de James Wan é que ele se rendeu a clichês dos filmes de terror norte-americanos: ruídos; aparições bruscas que assustam mais por serem súbitas do que pelo medo; longos corredores obscuros, luzes que piscam e algum elemento que perpassa a película. No caso da Chorona, é a água, pois ela afogou seus filhos e passou a chorar muito de arrependimento.
No caso de maldições, a Igreja católica tem se mostrado impotente. Ou os padres não acreditam em entidades malignas ou não conseguem vencê-las com exorcismos. É preciso convocar forças mais poderosas. Essas forças são representadas por exorcistas laicos (um indício significativo) ou por feiticeiros. Em “Invocação do mal”, é um casal formado pela ótima Vera Farmiga. Em “A maldição da Chorona”, o próprio padre, que faz o elo entre este filme e “Annabelle”, sugere o nome de um feiticeiro que já foi padre. Ele representa a figura do super-herói necessário aos filmes de terror para que o bem vença o mal. Não de forma definitiva, pois, do contrário, não poderia haver continuações e franquias.
Enfim, “A maldição da Chorona” é um filme de terror convencional, com ingredientes fáceis para causar gritinhos e levar o espectador a fechar os olhos. Creio que nem isso acontece mais, pois o que é esperado não assusta tanto.

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