Morre o Judas
Por Etelvis Faria

Ainda me lembro dele, contudo de alguma forma ele nunca soube de mim. Sempre fui um número na cabeça dele, um voto, e assim como outros de nós amontoávamos-nos, e como cabeças de gado éramos contados.
Números pontuavam forte em seu caderno de contas, estes se vendiam, e se faziam reais; eu não, ficava apenas subentendido, mas não deixava de ser um número a mais.

Assim como eu também haviam muitos outros, e justamente nós, vagos na memória dele, éramos aqueles os quais ele mais temia; os vendidos não, não poderiam jamais reclamar de algo, o direito à cobrança havia sido perdido quando por quase nada se venderam.

O que ele não contava é que os esquecidos mesmo sem dizer nada voltariam para lhe assombrar, mudos, escravos em sua consciência, não cobravam dele nada além daquilo que ele deveria fazer.

Com a bolsa de dinheiro ele andava, e fazia com o que era dos outros seu salário, esbanjara o que não era dele, fez-se rico; porém, se depender de nós os esquecidos, não será mais eleito para nada.

Seus dias estão contados, e como alguém que com uma corda sobe lentamente em um banco, a cruz do Cristo não o salvará, antes fosse a pauladas, não será mais lembrado, agora morreu.

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    Nino Bellieny

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