O Coveiro
26/03/2019 22:46 - Atualizado em 26/03/2019 22:54
Crônica de Etelvis Faria
 De chinelos, short e camisa "de loja", tilintava sua colher contra os tijolos a fim de parti-los. A massa quase seca em um carrinho de mão pedia água, e, numa garrafa ela estava. Na precariedade daquela construção, nos tijolos guardados num túmulo ainda aberto ao lado, a massa posta a colheradas rápidas, porém um tanto dessincronizadas, era feriado e lá estava ele a trabalhar novamente.
Do defunto nada sabia, mas esperou o choro lamurioso de uma sobrinha, já que ela o chamara de "tio", uma outra mulher o chamou de irmão, não tinha filhos, imaginou.
A irmã com voz tímida disse poucas palavras sobre como ele perdera a luta para a doença. Antes porém houve por parte de um senhor, aquilo que chamam de exéquias, talvez um líder político ou religioso; reconheceu o antigo prefeito da cidade, talvez amigo do defunto, ou apenas estivesse fazendo campanha para a próxima eleição.
Havia um bom número de pessoas no enterro, mesmo com chuva fina, o horário avançado, quem sabe o defunto fosse de fato muito conhecido. No início houve cantos religiosos por parte de um pequeno grupo, a letra era desconhecida dele. já estava na terceira carreira de tijolos, fazia isto quase todo dia, e ainda não se acostumara: ver gente voltar ao pó.
 
 

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    Nino Bellieny

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