Coração Africano
03/02/2019 13:42 - Atualizado em 03/02/2019 18:02
Uma Campista na África
Ela deixou um cargo seguro na Prefeitura de Campos e partiu para uma aventura solidária e solitária na África, a imensa África mãe do mundo, e foi parar no Hospital Central de Moçambique, para trabalhar com soropositivos de HIV.
Experiente enfermeira profissional, sobrava amor e vontade de uma experiência como a que viveria. 
Passou no processo seletivo, arrumou as malas e partiu.
Foram longas horas de voo, incluindo uma vigorosa revista e interrogatório por parte da polícia no aeroporto da África do Sul onde o avião fez escala,  mas seguiu em paz.
Depois de 4 meses em Maputo, capital moçambicana, finalmente veio a autorização para trabalhar.
Flávia DÁngelo, a campista,nesse meio-tempo, havia apegado-se ao povo, aos costumes e à cultura local. O coração nem percebera, mas contaminara-se de amor pela Mãe África.
Conheceu unidades hospitalares, centros de saúde e muita gente.
O que pensara conhecer sobre HIV, tuberculose, doenças tropicais, nada adiantou.
Em sua vida profissional nunca vira em um mesmo local, em um curto período de tempo, o número de mortes acumuladas.
A sensação de inutilidade e impotência logo tomaram conta, Não havia suporte, equipamentos, nem medicamentos.
Viu de perto uma equipe de enfermagem em que quatro se revezavam numa emergência com até três pacientes por leito.
Completa entrega profissional em uma luta sem perspectiva de vitória, mas nem por isso, para ser desistida, embora para muitos outros profissionais de saúde, a morte já estivesse assimilada, incorporada e até ignorada.
Presenciou técnicos de Enfermagem prestando os primeiros socorros, medicando, suturando, ligando para especialistas apressados... esforço em grande parte em vão.
 
 
Entrou em salas de emergência, em uma delas, estava uma mulher de corpo quase sem carne, usando seu resto de força procurando ar, estender a mão e pedir ajuda.
Ajudou um rapaz acidentado no trabalho, com grave trauma craniano e otorragia,( sangrando pelos ouvidos) se debatendo no leito.
 
 
Presenciou a dor e o desalento em todas as formas possíveis. E ainda assim e por isso mesmo, aprendeu e refletiu, entendeu o quanto o Ser Humano é pequeno, preocupado com comida, poder, dinheiro, sexo e 
e futilidades.
Ao voltar para casa, na cidade natal de Campos dos Goytacazes, também com problemas e mazelas, mas muito diminutas em relação ao povo africano, compreendeu mais ainda as enormes diferenças sociais.
E agradeceu à Mama África pela nova visão adquirida.
Novas missões virão pelo mundo virão, é preciso estar pronta para partir.
 
 

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    Sobre o autor

    Nino Bellieny

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