A esperança ainda é de dias melhores
17/02/2019 14:28 - Atualizado em 18/02/2019 02:36
Capa da última terça-feira da Folha da Manhã trouxe sucessão de episódios trágicos
Capa da última terça-feira da Folha da Manhã trouxe sucessão de episódios trágicos
Até mesmo para os mais céticos, toda virada de ano traz a esperança de dias melhores. Depois de um 2018 tão pesado, sobretudo na acirrada e até mesmo sangrenta disputa presidencial, não houve quem não torcesse por um 2019 mais leve. O ano começou com muitas mudanças, respeitando a vontade das urnas, em uma guinada que alterou de maneira avassaladora as forças partidárias no país. Contudo, não foram as questões políticas que mais marcaram esse início de 2019. Infelizmente, foram as sucessivas tragédias no Brasil. E foram pancadas sucessivas, sem tempo, ao menos, para se “conformar” com a anterior.
O primeiro grande baque nacional foi assistir à tragédia em Brumadinho após o rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão. A barragem rompeu no dia 25 de janeiro e até o dia 15 de fevereiro 166 mortes foram confirmadas e 147 pessoas estavam desaparecidas. As buscas continuam na área atingida pela lama. Não há um ser humano, com o mínimo de compaixão, que não tenha se sensibilizado com as famílias das vítimas, ao ler um relato, ao ouvir uma mãe lamentar a perda do único filho, um pai chorar por ainda não ter encontrado sua filha. A sensação de ver sua casa, que não é só um bem material, mas um local carregado de histórias e emoções, se resumir a lama — e muita lama.
A tragédia não foi o acidente, porque era evitável, mas a dor que aquele povo vive. É revoltante a situação, uma vez que, ao que tudo indica, houve omissão por parte da Vale para que chegasse a tal ponto. A cobrança, agora, é para que a empresa seja responsabilizada de forma assertiva. O país não pode viver noticiando e esquecendo casos como Brumadinho e Mariana, dentre tantos outros.
Em tempos de redes sociais, muitas vezes tudo se apaga da memória como stories de Instagram. E foi nessa rede que uma repórter da Globo News afirmou que se não era fácil para o telespectador acompanhar o material editado, imagine para quem tem de ver o que não gostaria de ver, mergulhado na história de forma quase que visceral. O peso é outro, é potencializado. A exaustividade dessas coberturas, ainda que à distância, esgotam os profissionais em todas as redações. Os dias terminam pesados, o cansaço normal de qualquer rotina de trabalho se transforma em dor, nem sempre física, mas, certamente, emocional.
O rompimento da barragem em Brumadinho aconteceu na mesma semana da morte do bebê Dione Valentin. Com apenas 25 dias de vida, ele foi espancado, com socos na cabeça, e o principal suspeito, que inclusive está preso, é o pai, Lucas do Espírito Santo, de 21 anos. O caso aconteceu no Farol e deixou abalado todo mundo que acompanhou mais de perto. O que levaria um pai a tal atitude? Não há justificativa, hipótese nenhuma! E noticiar morte de criança, de adolescentes, sempre é mais doloroso. Ninguém gosta de cobrir morte nenhuma, mas a de um bebê, ainda mais nessa circunstância, nos marca mais.
Ainda digerindo as coberturas pesadas de Brumadinho e a local, do Farol, chega uma forte tempestade, no dia 6 de fevereiro, ao Rio de Janeiro e faz seis vítimas fatais (número que chegou a sete no fim da mesma semana). Há responsabilidades nesse caso, por falta de ações de prevenção, do poder público — que dever ser punido. Mas isso não atenua, por ora, a dor de quem perdeu um familiar. E ainda veio mais, dois dias depois, na sexta-feira, um incêndio colocou fim nos sonhos e na vida de 10 atletas adolescentes que dormiam no alojamento do Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo. Mais uma vez há evidências de omissão na fiscalização do poder público, bem como o clube não pode ser eximido de suas responsabilidades. São 10 famílias, muitos amigos, todos que sofrem por danos irreparáveis.
A semana seguinte começou com mais tragédias. No Noroeste Fluminense, em Natividade, um ônibus que saiu de Campos caiu em uma ribanceira. Foram quatro mortos e mais de 20 feridos. Isso foi no domingo passado. No dia seguinte, o noticiário trouxe a morte de um jovem em São João da Barra que na noite de domingo se divertia junto a amigos numa casa de shows — inclusive, estava na mesa ao lado da minha. No mesmo dia, um idoso morreu ao cair em uma cacimba, no Parque Santos Dumont, em Guarus. Pouco depois, chega a notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat, que estava em um helicóptero que caiu em São Paulo. São tantas pancadas consecutivas, que as vezes tem quem pensa que já pode estar calejado. Mas não. O silêncio na redação da Band, que no fim do jornal que era apresentado por Boechat prestou uma homenagem ao jornalista com uma salva de palmas, também “ecoava” na Folha, como certamente ecoou por tantas outras redações Brasil afora.
Desde a edição de terça (12) até este artigo, todos os dias na página de opinião da Folha alguém escreveu sobre os episódios trágicos que abalam não só o país, de forma generalizada, mas a cada um de nós. Ainda não é fim de ano, longe disso, mas a mensagem no fim deste artigo é a sensação com a qual se encerra cada edição, em versos já eternizados, inclusive, na música de Rogério Flausino, do Jota Quest: “Vivemos esperando dias melhores”.
Oziel Azevedo - Divulgação

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    Arnaldo Neto

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