Ponto Final - Fatos fecham cerco sobre Flávio e forçam Jair a optar: Brasil ou o filho?
23/01/2019 10:16 - Atualizado em 04/02/2019 16:11
“Petistas de sinal trocado”
Não se trata de perseguição da imprensa. Tampouco dos “esquerdistas”, como são chamados todos os que cobram explicações sobre as relações cada vez mais indefensáveis do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho mais velho do presidente. Mesmo que quem agora cobre, jornalista ou cidadão, antes tenha feito a mesma coisa sobre os escândalos de corrupção nos governos do PT. A lógica dos fatos parece não importar aos bolsonaristas bem definidos como “petistas de sinal trocado” por Janaína Paschoal. Deputada estadual paulista pelo PSL, legenda do clã Bolsonaro, ela foi autora do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Atrás do foro “porcaria”
Já estava muito difícil se defender das revelações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Não só sobre as movimentações atípicas de R$ 7 milhões do PM Fabrício Queiroz, quando era assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) — incluindo um repasse de R$ 24 mil para a atual primeira dama Michelle Bolsonaro. Ficou ainda pior com a tentativa de buscar foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF), antes chamado de “porcaria” em vídeo por Jair e Flávio. E sem razão, já que os fatos se deram quando o primogênito do presidente era deputado estadual, não senador.
Sonegação ou lavagem de dinheiro?
O Coaf também revelaria 48 depósitos em nome de Flávio, no valor de R$ 2 mil cada, entre junho e julho de 2017, totalizando R$ 96 mil. Em entrevista, o senador disse se tratar de parte da quitação de um imóvel, mas não explicou porque isso foi feito em dinheiro vivo. Os motivos podem ser dois: ou o vendedor quis ocultar ganho de capital para driblar o Imposto de Renda, ou não pôde declarar a origem dos valores. No primeiro caso, seria crime de sonegação fiscal. No segundo, de lavagem de dinheiro. Líder do MBL, deputado federal e ícone jovem da direita, Kim Kataguiri declarou sobre o caso: “Não existe defesa plausível para Flávio Bolsonaro”.
Elo com milícias
Não bastasse, ontem foi revelado que Flávio empregou em seu gabinete na Alerj, até novembro do ano passado, a mãe e a esposa do ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como líder da milícia “Escritório do Crime”. A organização criminosa é suspeita da execução da ex-vereadora carioca Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Adriano, que está foragido, já foi homenageado por Flávio na Alerj. E Queiroz, após as primeiras revelações do Coaf, se escondeu por duas semanas na favela do Rio das Pedras, na Zona Oeste do Rio, área dominada pelo Escritório do Crime.
Na Suíça
Enquanto o cerco se apertava sobre seu filho, Jair Bolsonaro ontem fez o discurso de abertura no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Tinha 45 minutos, mas usou apenas 6’30. E foi bastante criticado pela imprensa internacional. Sua fala chegou a ser classificada como “enorme fiasco” pela jornalista Heather Long, do Washington Post. Mas teve um ponto positivo, ao marcar a prevalência do pragmatismo comercial do ministro da Economia Paulo Guedes sobre os delírios contra o “globalismo” do chanceler Ernesto Araújo. Foi o que Bolsonaro fez ao defender o multilateralismo da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Brasil ou Flávio?
Quando voltar ao Brasil, Bolsonaro pode ter que optar entre o que prometeu ao país durante a campanha, ou tentar salvar seu filho. Se a opção for a primeira, ele terá que seguir o conselho do seu ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Líder inconteste do núcleo militar da administração federal, o general Augusto Heleno já advertiu o capitão para afastar os seus três filhos do governo. Se a opção for tentar salvar o mais velho, que ninguém duvide: Renan Calheiros (MDB) será novamente presidente do Senado Federal. Em troca, ele tentará fazer por Flávio o que a Câmara Alta da República fez no passado por Aécio Neves (PSDB).
Samurai
Quem cobre o cenário político fica mais atento ao Diário Oficial no início de governo. Afinal, entre as nomeações podem aparecer indicativos de alianças políticas. No entanto, o que chamou atenção da imprensa no DO do Rio de Janeiro ontem não foi nenhuma atribuição para cargo público. O governador Wilson Witzel (PSC) sancionou a lei que estabelece 24 de abril como Dia Estadual do Samurai. O projeto é do deputado Wanderson Nogueira (Psol) e foi aprovado pela Alerj no dia 20 de dezembro. Nada contra samurai nenhum, mas o Estado do Rio tem muitos assuntos mais importantes para discutir.
José Renato
 
 

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