De novo a Morte como Tema
27/01/2019 14:34 - Atualizado em 27/01/2019 21:14
NinoBellieny
Eu não consigo mais escrever sobre a perda de tantos amigos, cada um deles vai levando partes do teclado, obstruindo arquivos, destruindo canetas, rasgando cadernos, alagando olhos, ressecando corações.
É a minha forma de dizer a falta que fazem e farão. E costumo dizer em vida, mas essa cegueira humana de só enxergar depois da ausência também me acomete.
O crescer da idade é o diminuir dos caros amigos, pois não existem amigos baratos, sendo assim, amigo não seria.
Não precisa ser um de convivência diária, não precisa ser presente. Pode ter desenhado uma única vez um sorriso e já terá clareado para sempre o caminho.
Eu não consigo mais escrever as perdas, os danos, os planos voando para longe. Eu sei da Maldição do Poeta, a que faz dele um ser parabólico, recebendo todas as dores, somando-as com as suas e explodindo todos os dias uma pedreira.
Pagando o alto preço de nem sempre ser compreendido, com ou sem talento, pois poetas podem ser ruins para uns e excelentes para outros, não deixando de serem.
Jamais serei metade de Drummond nem um terço de Neruda. E daí? Não pedi para ser nem quero, mas a poesia não é uma droga da qual se livra com vontade e tratamento. Não existem clínicas de reabilitação para poetas.
Enquanto isso vão sumindo na neblina das manhãs os amigos, os parentes, os prezados, os respeitados, os tudo e todos de grande importância para mim.
Eu não poderei escrever sobre a minha morte, óbvio como um relâmpago nas noite da montanha. Imagino quem sobre ela teria tempo e coração para tanto.
E antes que as palavras escorreguem no abismo da pieguice, eu paro.
Não consigo mais escrever sobre a morte dos amigos.
Pelo menos hoje não.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

    Sobre o autor

    Nino Bellieny

    [email protected]