A Última Sessão de Cinema em Búzios
16/12/2018 22:41 - Atualizado em 17/12/2018 00:11
Por NinoBellieny
Hoje foi um domingo nublado na ensolarada Búzios-RJ. Deu praia para milhares de banhistas, porém as nuvens foram cinzentas para os frequentadores do Gran Cine Bardot, o mais charmoso dos cinemas do Brasil. Hoiuve quem sentisse vontade de chorar... e chorou.
O aviso estampado nas vitrines ocupando o espaço de um cartaz de filme, anunciava o inacreditável: o encerramento das atividades.
A notícia correra o balneário durante a semana, carregada pelos taxistas, motoristas de Uber, turistas de fim de semana, moradores, pescadores, artistas e defensores da cultura, e teve gosto de fake news, até ser confirmada. Compromissos não cumpridos com a administração do local, obrigaram a direção a fechar o único cinema da cidade. 
Na sessão de sábado para assistir ao Bohemian Rhapsody, ( a história do Queen e de  Freddie Mercury), o ar de velório era denso, faltaram apenas as velas acesas. As pessoas murmuravam o espanto diante da informação confirmada pelos funcionários. "Como vai ficar o Festival de Cinema, quase da mesma idade do GC Bardot? Como serão as noites de quinta a domingo?"
Parecia uma volta aos Anos 1970, quando as salas de cinema no Brasil começaram a entrar em decadência, perdendo para o conforto da televisão a hipnotizar famílias inteiras dentro de casa.
Depois veio a compra em massa por parte de igrejas evangélicas e o fim de muitos locais de exibição. 
Mas a Sétima Arte resistiu e com os shoppings, ressurgiram as grandes telas, as novidades tecnológicas e o retorno do público em grande volume.
O Gran Cine Bardot durou exatos 25 anos, trazendo artistas, diretores, roteiristas, iluminadores e todo o universo cinematográfico em imagem, mas também em osso, carne e sensibilidade.
Há um quase invisível fio de esperança na resolução do problema para que o espaço volte em plena forma, embora o comunicado não deixe datas para o esperado retorno.
Em uma cidade mítica como Búzios, revelada ao mundo pela grande estrela Brigitte Bardot , cuja estátua, nome e sobrenome está presente em tudo, é decepcionante a notícia de fechamento do único cinema, assim como ouvir nos lamentos, que a Prefeitura nada faz para ajudar a manter a cena viva.
Armação dos Búzios respira arte em toda as formas: pintura, escultura, arquitetura, poesia, literatura. E agora deixa de respirar cinema. Nenhum NetFlix do mundo conseguirá em tempo algum substituir a sinergia coletiva, o cheiro das cortinas, o tapete vermelho, as poltronas de couro, o mistério de uma sala na penumbra, a espera pelo início e a saída cheia de comentários pelo que se viu.
A internacional Búzios perde de goleada com o fechamento do Gran Cine Bardot. Que o quase invisível fio por onde passa o oxigênio da esperança,  não deixe o paciente morrer de vez e ele possa voltar em toda honra e glória. 
Ou será apenas um fantasma na Rua das Pedras e uma saudade na Rua da Memória dos que amam cinema, dos que amam o Gran Cine Bardot.
O COMUNICADO 
"Informamos aos nossos amigos e espectadores do GRAN CINE BARDOT que, por motivos de dificuldades financeiras originadas pelo não recebimento de recursos comprometidos, nos vemos obrigados a interromper nossa programação normal, de quinta a domingo, como realizada durante os últimos 25 anos.
 Nos encontramos impossibilitados de continuar as atividades comerciais do que acreditamos ser uma significativa referencia de excelência e qualidade da nossa cidade, sem antes resolver estas dificuldades.
 Outrossim, agradecemos o permanente apoio de todos aqueles que, com sua presença e opinião, ajudaram a ser possível acreditar que, através do GRAN CINE BARDOT, Cinema era a Nossa Praia."
Fotos-NB
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