A História de um Oficial do Exército
30/11/2018 15:16 - Atualizado em 01/12/2018 03:25
O que para muitos seria um fim de linha, para poucos é um salto maior
NinoBellieny
Há 2 anos residindo em Itaperuna para onde foi designado como instrutor chefe do Tiro de Guerra, o sub-tenente João Ricardo Correia Rodrigues termina a missão e volta para os quartéis do Rio promovido a tenente.
A passagem deste gaúcho de Santo Ângelo entra para história do TG 01-008. Primeiro Comandos e Forças Especiais do Exército Brasileiro a ocupar o cargo na cidade da Pedra Preta, João fez mais do que o esperado rotineiramente.
Deu aos comandados, um novo sentido do que é o Exército Brasileiro e os motivou a fazerem o que nunca pensaram em termos de um TG. Além das atividades surpreendentes e dignas de soldados experimentados, incutiu neles valores adormecidos, tornando-os muito mais capazes para a vida civil ou militar se assim desejarem.
Levou o grupamento a ser o primeiro no Brasil a conquistar o Pico da Bandeira-MG em 2017 e repetiu o feito em 2018. Realizou acampamentos, cursos de sobrevivência, desafios militares, prática de tiro, de defesa pessoal e treinamento de combate em ambientes urbano e inóspito, indo muito além do que manda a cartilha.
No começo, os jovens acharam que não conseguiriam acompanhar o ritmo intenso de um Comandos, mas o engajamento veio rápido e apaixonado. Ao final do ano passado e deste, as formaturas foram plenas de lágrimas e desejos de que tudo continuasse, como um sonho bom sem fim. Uma transformação extraordinária refletida no moral e no semblante dos soldados-atiradores.
Eles simplesmente não haviam passado por um simples- e distante das capitais- quartel de um tiro de guerra, eles tinham passado por um braço longo e forte do Exército Brasileiro.
Esta noção cheia de responsabilidade e orgulho, foi mais uma desenvolvida no grupo pelo agora tenente João.
Mas não ficou só nestes termos o trabalho do militar. Liderou reformas nas instalações, plantou árvores nativas, conseguiu emprego para soldados egressos, ressignificando o verde-oliva na cidade.
Socialmente integrou-se rapidamente, sendo homenageado por entidades, clubes de serviço e forças políticas, recebendo no ano passado o Título de Cidadão Itaperunense.
Com desprendimento e sinceras intenções colaborou com eventos esportivos, solidários, artísticos e ambientais.
Não fugiu das responsabilidades, muitas vezes buscando-as, como ao criar o Clube de Escoteiros. Treinou e facilitou aos soldados o Jiu-JItsu e o Muay thay, além de formar campeões em diversas provas de corrida e atletismo.
Honesto sem precisar dizer que é, inteligente, simples e objetivo, conquistou corações e mentes com o exemplo muito mais do que com as palavras.
Casado com Analúcia, pai do Pedro, esteve com a família presente e atuante em todos os eventos.
Bem antes de vir para Itaperuna, por ocasião de licença especial do EB, atuou na área de segurança patrimonial e humana da Vale, em países da África, de onde voltou com o Inglês e o Francês aprimorados e uma visão maior do mundo.
Esteve no Conflito do Haiti, sobreviveu ao terremoto e aos intensos combates em Citè Soleil, uma sucursal do inferno. Fez cursos na Alemanha, França e conheceu muitos outros países.
Ao aceitar o comando do TG, sabia que seu espírito indomável poderia estranhar a placidez da pequena cidade, porém fez da missão o que o bom soldado faz: cumpriu-a integralmente, acrescentando em doses nada homeopáticas todo um saber adquirido em anos de Comandos e Forças Especiais.
O merecidamente agora tenente, deixa a Cidade da Pedra Preta e centenas de amigos leais, feitos com respeito, integridade e voluntariedade, temperados pelo amor à pátria, algo esquecido em muitos e recuperado de forma maciça.
João combateu o bom combate e seguirá combatendo.
Itaperuna não sabe ainda se perdeu um grande nome ou se ganhou um amigo para sempre.
Talvez as duas coisas, mas soldados não escolhem missões. E nunca as deixam sem antes cumprí-las.
 
 

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