Os perigos dos guardas da esquina e números do segundo turno
29/10/2018 09:38 - Atualizado em 12/11/2018 17:38
O guarda da esquina
Era 13 de dezembro de 1968 quando o AI-5 foi decretado. Começou ali os chamados anos de chumbo, período mais duro da ditadura militar. Vice-presidente da República, o civil Pedro Aleixo foi o único contrário ao enrijecimento entre os que analisaram o documento. E justificou: “Não tenho nenhum receio em relação ao presidente. Tenho medo do guarda da esquina”. Quase meio século depois, a frase de Aleixo continua atual. Não é o discurso muita vezes forte do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) que preocupa, mas, como registrado pela Folha na cobertura deste domingo (28), o que se reflete nos novos guardas da esquina.
Ameaça de prisão
Uma jornalista da Folha foi ameaçada de prisão (aqui) por uma policial militar enquanto cobria o voto da ex-prefeita de Campos Rosinha Garotinho e do deputado federal eleito Wladimir Garotinho (PRP), no Ciep Nilo Peçanha, na Lapa. Não havia motivo, já que a repórter estava uniformizada e com crachá. Segundo ela, a policial chegou a empurrá-la. O fato foi relatado ao comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Fabiano Santos, que se desculpou e disse que apuraria o caso. A situação ocorre pouco depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) advertir sobre excessos na fiscalização eleitoral.
Números no Rio
O Rio de Janeiro elegeu Wilson Witzel (PSC) para governar o Estado a partir do ano que vem. O ex-juiz federal recebeu quase 4,7 milhões de votos, enquanto o adversário Eduardo Paes (DEM) teve pouco mais de 3,1 milhões. O que chama atenção no cenário fluminense, no entanto, é o número do “não voto”. Se as abstenções junto com brancos e nulos fossem um “candidato“, este venceria Paes e entraria na briga, bem de perto, com Witzel. No Estado, foram 2.984.852 eleitores que estavam aptos a votar e não compareceram às urnas, enquanto brancos e nulos chegaram a 1.606.953. A soma chega perto de impressionantes 4,6 milhões.
Na região
Wilson Witzel foi vencedor nas eleições em todas as cidades do Norte e do Noroeste Fluminense. No Norte, inclusive, Paes contava com apoio de grande parte dos prefeitos. No primeiro turno, somente a cidade de Quissamã, comandada pela prefeita Fátima Pacheco (Podemos) havia dado a vitória ao ex-prefeito do Rio. Porém, ontem, o ex-juiz federal superou o candidato do DEM. Ainda que entre todas as cidades da região, foi em Quissamã que Paes obteve o melhor desempenho proporcional. Chegou a 41%, enquanto Witzel bateu 59%.
Números no Brasil
Como era esperado, devido ao desempenho no primeiro turno e nas pesquisas, Jair Bolsonaro foi eleito presidente do Brasil. E recebeu quase 57,8 milhões de votos. A vantagem foi grande sobre o seu concorrente. Fernando Haddad (PT) teve pouco mais de 47 milhões de votos. O partido do presidente eleito sai fortalecido das urnas em muitos aspectos. Depois de eleger a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, contará também com três governadores a partir do ano que vem: Roraima, Rondônia e Santa Catarina. O nanico PSL terá o mesmo número de governadores que o PSDB: Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Placar
Com a derrota de Haddad para Bolsonaro, ontem, o PT acumula a seu quarto revés em eleições presidenciais desde a redemocratização, observou Christiano Abreu Barbosa no seu blog Ponto de Vista (aqui). Em 1989, 94 e 98, o partido perdeu com Luiz Inácio Lula da Silva. Das derrotas, duas foram para Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e duas para candidatos de partidos nanicos (Fernando Collor em 1989 e, agora, Bolsonaro). O PT teve, também, quatro vitórias. Duas com Lula (2002 e 2006) e duas com Dilma Rousseff (2010 e 2014). Em todas superou o PSDB: com José Serra (2002 e 2010), Geraldo Alckmin (2006) e Aécio Neves (2014).
Outro dia
A partir desta segunda-feira (29), com os candidatos eleitos, a corrida nos bastidores é outra. É hora de composição. Apesar de estar na política desde a década de 1980, Bolsonaro foi visto como outsider. Não é. Circulou muitos anos no chamado centrão da Câmara dos Deputados e deverá ter mais facilidade para compor com o parlamento e na escolha dos ministérios — que, aliás, prometeu reduzir. Witzel realmente é novo na política partidária, mas está ciente das articulações que terão de ocorrer. Inclusive com a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), da qual precisará, no mínimo, de “parceria” para governabilidade.
 
 
 

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