Ponto Final - Eleição afunila entre Bolsonaro e Haddad, cuja chance é rumar ao centro
19/09/2018 10:26 - Atualizado em 25/09/2018 17:36
Bolsonaro e Haddad
Nesta página de opinião, um artigo publicado no último domingo (16) afirmava desde o título: “Brasil à beira do segundo turno entre Bolsonaro de Haddad”. É o que parece cristalizado a cada nova pesquisa. Na do Ibope divulgada ontem, Jair Bolsonaro (PSL) chegou a 28% e continua líder isolado. Por sua vez, Fernando Haddad (PT) se descolou na segunda posição, com 19%. Na série Ibope, o ex-capitão do Exército chegou ao atendado à faca, no dia 6, com 22%. Depois foi a 26% no dia 11, para subir agora mais dois pontos. No mesmo dia 11 em que foi ungido candidato, Haddad tinha 8%. E de lá para cá cresceu nada menos que 11 pontos.
Ciro, Alckmin e Marina
Se parecia ser a última esperança real para evitar a polarização Bolsonaro/Haddad, Ciro ficou bem para trás dos líderes. Tinha 11% das intenções na última consulta Ibope. E com 11% continuou. Geraldo Alckmin (PSDB) caiu de 9% para 7%. E agora vai ter que tentar segurar a debandada dos partidos do Centrão. Marina Silva (Rede) aparenta queda livre: passou de 9% para 6%. Caso estanque a perda de intenções de voto, ela periga se juntar ainda mais ao bloco de trás. Na margem de erro de dois pontos para mais ou menos, já está em empate técnico com Álvaro Dias (Pode), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), 2% cada.
Largada no dia 11
Líder das pesquisas presidenciais há dois, Bolsonaro só ficou abaixo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste período. Preso desde 7 de abril por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, todos sabiam que o petista teria sua candidatura barrada pela Lei do Ficha Limpa, que ele mesmo sancionou quando presidente. A decisão inevitável do TSE veio na madrugada do dia 1º deste mês. E, ainda assim, o PT esticou a corda até o dia 11 para confirmar Haddad. Curiosamente, no mesmo dia saiu a Ibope que pela primeira vez apontou: candidato forte no primeiro turno, Bolsonaro passou a ser candidato competitivo também no segundo.
Segundo turno
Todas as pesquisas posteriores passaram a retratar a possibilidade de Bolsonaro também ser vencedor no turno final. Na Ibope de ontem, ele só perdeu a simulação de segundo turno para Ciro, mas em empate técnico por diferença mínima: 39% a 40%. Seu empate foi numérico nas simulações contra Haddad (40% a 40%) e Alckmin (38% a 38%). E ele ganharia já acima da margem de erro de Marina (41% a 36%). Índice considerado fundamental para a definição do segundo turno, a rejeição também tem Bolsonaro como líder isolado, com 42%. Mas isto não parece estar fazendo diferença. Até porque Haddad já é o segundo no índice negativo: 29%.
Voto útil
O que tem consolidado a polarização entre Bolsonaro e Haddad é o voto útil ainda no primeiro turno. O mesmo que tem esvaziado Marina e Alckmin e, por enquanto, estagnado Ciro. Dentro do cenário exposto pelo Ibope, são 7% de eleitores os que ainda não sabem em quem votar, além dos 14% que declararam intenção de votar branco ou nulo. Mas caso se definam até 7 de outubro por uma opção válida, o mais provável é que sigam o efeito manada na opção por um dos dois polos dominantes da eleição. A apenas 18 dias da urna, o que não se conhece ainda são os tetos de Bolsonaro e Haddad.
Primeiro turno?
Enquanto as pesquisas apontavam cinco candidatos competitivos, a eleição em dois turnos era certa. Mas isso pode mudar, caso Marina e Alckmin continuem a cair. E se Ciro resolver segui-los. Ontem, esta coluna advertiu: “o voto útil pode transformar a eleição daqui a menos de 20 dias em mero plebiscito: anti-Lula ou anti-Bolsonaro. Neste caso, a possibilidade de definição em primeiro turno, ainda altamente improvável, deixa de ser delírio”. Em outra Folha, a de São Paulo, a jornalista Mônica Bergamo viu parecido: “Analistas experimentados acham que a possibilidade de Bolsonaro levar no primeiro turno, num acirramento, tornou-se real”.
Rumo ao centro
Ciente do perigo que corre, Haddad já começa a isolar os aloprados do seu partido, talvez principais responsáveis pela gênese de Bolsonaro. Ontem ele já disse “não ao indulto” do ex-presidente preso, anunciado no dia anterior pelo governador mineiro Fernando Pimentel, em típico açodamento petista. Com ou sem segundo turno, Haddad só terá chance se caminhar ao centro. Para isso, tem que readotar o perfil “tucano” que o elegeu prefeito de São Paulo em 2012. Além de abandonar revanchismos mesquinhos como o controle do Judiciário, do Ministério Público e da imprensa, propostos no plano de governo do PT a partir de 2019.
José Renato

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