Política como herança genética
Arnaldo Neto 15/09/2018 19:51 - Atualizado em 18/09/2018 13:47
“Tal pai, tal filho”. Quem nunca ouviu essa expressão na vida? E quem não concorda que ao menos em algumas peculiaridades ela é verdadeira? Os filhos não são espelhos fieis de seus pais, mas refletem sim algumas de suas características, buscam suas inspirações: inclusive na vida profissional. Não é de se estranhar que filhos de políticos, então, sejam também políticos profissionais. E no Rio de Janeiro, no pleito deste ano, eles estão aí, defendendo seus clãs, ainda que os patriarcas tenham vários problemas na Justiça, estejam ou já estiveram na prisão recentemente. O que as urnas, no dia 7 de outubro, vão dizer aos filhos da política?
Para o cientista político George Gomes Coutinho, existe uma tradição na política moderna da figura que é conhecida como um político profissional. “São grupos que se dedicam diretamente a prática da política. Nesse campo não há uma grande diferença entre o empresário, o empreendedor do setor privado e o político. O cara tem um objetivo, então ele monta um aparato para atingir aquela meta”, avalia.
Encarada como profissão, a política pode passar também a despertar interesses nos filhos. Em Campos, por exemplo, dois filhos do casal Anthony (PRP) e Rosinha (Patri) Garotinho disputam o pleito deste ano: Clarissa, que já foi deputada estadual, tem mandato de deputada federal e busca a reeleição; e Wladimir, candidato pele primeira vez, também a federal. Além das experiências individuais, trazem em suas bagagens o fato de serem filhos de ex-governadores do estado. Mas os genitores estão enrolados na Justiça: chegaram a ser presos no ano passado, foram condenados na Chequinho, respondem à ação suspensa da Caixa d’Água e, recentemente, o pai foi condenado à prisão, no regime semiaberto, em segunda instância por formação de quadrilha. Contudo, aparentemente confiantes no capital político do clã, os filhos sustentam o Garotinho na urna.
Outro filho de ex-governador na disputa é Marco Antônio Cabral (MDB). Seu pai, Sérgio Cabral (MDB), já foi condenado a mais de 170 anos de prisão na Lava Jato. A imprensa chegou a especular que Marco Antônio, que é deputado federal, omitiria, na candidatura à reeleição, o Cabral do nome de urna. Porém, isso não aconteceu.
E entre emedebistas fluminense, mais dois filhos de políticos influentes (e presos) estão no páreo. Ex-ministro e deputado federal, Leonardo Picciani, que preside o MDB no Rio, tenta a reeleição. O pai dele é Jorge Picciani, ex-todo poderoso do MDB, que por muitos anos comandou a Alerj, mas caiu na operação Cadeia Velha e está em prisão domiciliar. Já Danielle Cunha faz sua estreia. E na campanha defende o “legado” do pai. Ela é filha de Eduardo Cunha, homem que dava as cartas na Câmara dos Deputados, inclusive com forte atuação no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Mas, acabou cassado e preso nas investigações da Lava Jato.
Entre outros nomes da política fluminense, tem a família Bornier, tradicional na Baixada Fluminense. O pai, Nelson, foi considerado inelegível. O filho, Felipe, é presidente estadual do Pros. Eles continuam na briga por mandatos de deputado federal.
Outro clã que tenta surgir é o encabeçado pelo bispo da Universal e prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB). O seu filho, Marcelinho, é candidato a deputado federal. O pai, que tentou nomeá-lo como secretário, mas teve de exonerar porque o Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu se tratar de nepotismo, não esconde a campanha para o filho.
Para George Coutinho, não há uma relação de herança direta de capital político entre pais e filhos. Ele considera que o eleitor tem no filho uma referência do pai, mas não faz uma transferência automática de votos:
— Os filhos, herdeiros de um determinado legado político, são agentes que têm uma relativa vantagem com relação a outros que não têm esse capital político herdado. Eles têm a possibilidade de sair na frente. No entanto, é o desempenho individual que acaba, em última instância, contando.
“Não é uma jabuticaba brasileira”, diz analista
Apesar de todas as peculiaridades brasileiras, o cientista político George Gomes Coutinho analisa que a manutenção de clãs políticos não é uma exclusividade das terras tupiniquins. “Não é algo incomum, não é uma jabuticaba brasileira. Faz parte do métier”, disse Coutinho, exemplificando com famílias tradicionais da política estadunidense, como Kennedy (Partido Democrata) e Bush (Partido Republicano).
No pleito deste ano, existem outras peculiaridades. Uma delas é o caso da tradicional família Maia. O filho, rodrigo, preside a Câmara dos Deputados e, por consequência, ganhou capital político. E esse capital parece, pelo que indicam as pesquisas, beneficiar também o pai, atual vereador da capital, César.
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) também tem filhos na política. Um deles é o deputado estadual Flávio é candidato ao Senado. Flávio tem patinado nas pesquisas, mas sempre entre os primeiros, enquanto o pai é líder nas intenções de votos ao Planalto. “Existem circunstâncias muito específicas. Um determinado político muito popular, está no auge, ele indica o filho e o filho surfa esta onda”, diz Coutinho.
Se a aliança entre pais e filhos podem ajudar, Campos tem um exemplo recente do que ocorre nas cisões. Caio Vianna (PDT) chegou a liderar as pesquisas a prefeito de Campos em 2016, mas desidratou quando perdeu o apoio do pai e acabou se aliando a Garotinho. Hoje ele tenta uma vaga na Câmara dos deputados, enquanto Arnaldo segue em campanha para sua esposa, Edilene Vianna (MDB), a deputada estadual.
Família Garotinho
- Os irmãos Clarissa e Wladimir estão na disputa para a Câmara dos Deputados. Ela busca a reeleição e já foi deputada estadual. Ele testa seu nome na urna pela primeira vez. Os pais, ex-governadores, chegaram a ser presos.
Cabral
- O ex-governador Sérgio Cabral já foi condenado a mais de 170 anos de prisão na Lava Jato. O filho Marco Antônio é deputado federal e busca a reeleição. Continua no MDB do pai e, apesar de especulações, manteve o Cabral no nome da urna.
 
 
Crivella - Marcelo Crivella já foi senador e hoje é prefeito da capital. Nomeou o filho, o Marcelinho, secretário. Mas a exoneração ocorreu logo, por ordem do STF. Agora, o filho é candidato a deputado federal. Seria mais um clã no Rio?
Picciani
- Ex-todo poderoso do MDB fluminense, Jorge Picciani foi alvo da operação Cadeia Velha e está em prisão domiciliar. A família continua influente. Leonardo Picciani é presidente do partido no estado e busca mais um mandato de deputado federal.
 
Cunha
- Danielle é estreante na política e disputa uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ela é filha do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha, deputado que foi cassado e está preso. Na TV, em propaganda eleitoral, a filha defende o legado político do pai.
Bornier
- Tradicional família na política da Baixada Fluminense tenta emplacar Nelson e o filho Felipe candidatos a deputado federal. Recentemente, o pai foi considerado inelegível pelo TRE, mas ainda aguarda julgamento do registro de candidatura.
  
 
Bolsonaro
- Deputado federal desde 1991, tem três filhos na política: Carlos (vereador no Rio), Eduardo (deputado federal por São Paulo) e Flávio (deputado estadual no Rio). Os filhos surfam na popularidade do pai, que é líder na corrida ao Planalto.
Maia
- Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo concorre novamente ao cargo de deputado federal. Se entrou na política pela tradição do pai, agora, com o potencial adquirido, parece ajudar César, que disputa e lidera as pesquisas para o Senado
 
 

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