"Abraço público para Bolsonaro"
Aluysio Abreu Barbosa e Suzy Monteiro 06/09/2018 23:05 - Atualizado em 10/09/2018 13:40
Um braço da Lava Jato no Estado do Rio, com a criação de um grande sistema anticorrupção e implantação, em âmbito estadual, de pontos do projeto das 10 medidas anticorrupção, propostas pelo Ministério Público Federal (MPF). Estas são algumas das propostas do candidato ao Governo do Estado, Wilson Witzel (PSC), que abriu mão da carreira como juiz federal para abraçar a política. Ele não esconde sua admiração pelos Bolsonaro, manifestada antes do episódio de ontem, quando o candidato a presidente do PSL foi esfaqueado em Minas Gerais. Garantiu, ainda, que irá honrar o pagamento dos servidores, antes de investir em obras. Ele falou também de Uenf, Porto do Açu e rio Paraíba do Sul, mas não se aprofundou em detalhes sobre nenhum tema regional.
 
Folha da Manhã – No debate da Band, dia 16, o senhor reforçou sua experiência de 17 anos como juiz federal na área criminal, citando algumas vezes sua ligação e intimidade com o braço fluminense da Lava Jato. É correto supor que sua candidatura a governador seria uma tentativa de estender o braço da operação contra a corrupção do Judiciário ao Executivo?
Wilson Witzel – Certamente que sim. Uma das minhas prioridades é a criação de um grande sistema anticorrupção, que envolve reforma legislativa com a implantação do que for cabível do projeto das 10 medidas contra a corrupção, já propostas pelo MPF, em âmbito estadual. Além disso, vou reestruturar a Polícia Civil do Rio de Janeiro com a criação da Lava Jato carioca, onde as investigações serão feitas no modelo de força-tarefa e vamos passar a limpo os atos e contratos da administração pública do Estado nos últimos 20 anos. Sempre que eu botava um vagabundo na cadeia eu ganhava meu dia. Fazer justiça sempre foi uma missão para mim.
Folha – Recentemente, o senhor falou que pretende, caso seja eleito, contratar 500 mil consultas por mês na rede privada para o atendimento da população. Isso não será um atestado de falta de competência do Estado para gerir a Saúde Pública?
Wilson – Um estadista deve se preocupar em servir a população e resolver os problemas. No longo prazo pretendemos fazer a saúde pública funcionar como a população merece, mas enquanto não reformamos a gestão da saúde, não vou deixar as pessoas morrendo nas filas por causa de corporativismo na administração pública.
Folha – O TRE-RJ manteve multa de R$ 10 mil ao senhor por propaganda eleitoral antecipada, por ter publicado nas redes sociais, em período vedado pela legislação, imagens em que aparece em julgamentos e trajando toga. Um ex-juiz não deveria ser mais atento aos aspectos legais das suas manifestações?
Wilson – Não há absolutamente nada na legislação eleitoral que me impedisse de mostrar essas imagens, e achei muito estranha essa interpretação sem embasamento legal. Acho que o TRE-RJ deveria estar mais preocupado em cassar a candidatura de corruptos comprovados que já foram até condenados ou declarados inelegíveis do que inventar legislação eleitoral contra mim.
Folha – Candidato ao Senado pelo seu partido, Pastor Everaldo foi acusado em 2013, pela ex-mulher Katia Maia, de agressão física e ameaça de morte. O que o senhor pretende fazer no combate à violência contra a mulher?
Wilson – O combate à violência contra mulher é uma prioridade e consta no meu plano de governo a criação de um subsecretaria especificamente para apoio médico, jurídico e psicológico às mulheres vítimas de violência. Especificamente sobre a questão do Pastor Everaldo, ele foi absolvido das acusações.
Folha – Um dos seus principais objetivos é a luta contra a corrupção. O senhor falou em criar regras de condutas para secretários e servidores. Até por sua experiência em duas categorias extremamente corporativas como militares e magistratura, como enfrentar a resistência?
Wilson – Eleito governador, eu terei o respaldo político para criar e executar essas regras. Essa é uma demanda da população que não pode ser ignorada. Eu vou passar o Rio de Janeiro a limpo, contrariando todo e qualquer interesse meramente político, do mesmo modo como fazia como juiz federal.
Folha – No debate da Band, o senhor perguntou a Anthony Garotinho (PRP) sobre o escândalo do propinoduto em seu governo estadual. Ele não respondeu e falou da prisão pela Lava Jato do ex-secretário de Obras de Eduardo Paes (DEM) na Prefeitura do Rio, Alexandre Pinto, e lhe perguntou: “Vem mais uma delação aí?”. O senhor confirmou a delação e garantiu que os mandados dela advindos estão para sair. Na ânsia de falar como juiz, não acabou driblado por um político mais malandro, que não o respondeu e ainda o usou para atacar um adversário?
Wilson – Numa mesma pergunta consegui destacar para os telespectadores o problema ético da gestão de dois adversários desta eleição e as duas acusações ficaram sem resposta. Na minha visão, deixei claro para o público a minha diferença moral em relação a dois adversários, em vez de apenas um, como era o meu intento inicial. Dois coelhos com uma cajadada só.
Folha – O senhor abriu participação naquele debate falando sobre segurança, na qual destacou sua experiência, além de juiz, como oficial dos Fuzileiros Navais que combateu o tráfico internacional nas fronteiras. Parabenizou os “colegas de farda” e disse: “Quem quer que esteja portando um fuzil, eu estarei autorizando o policial a abater”. Não é o discurso de Jair Bolsonaro (PSL)?
Wilson – É o discurso de Wilson Witzel, candidato a governador do Rio de Janeiro pelo PSC. Aproveito para mandar um grande abraço público para Jair e Flávio Bolsonaro (PSL), dois políticos da minha admiração pessoal, bem como para todos os que lutam pela ordem, segurança e defesa da vida da população. E reforço meu discurso, que consta no Código Penal: marginal portando fuzil é ameaça iminente, e a legislação autoriza o seu término com toda a força necessária. A Polícia Militar precisa ser apoiada e abraçada pelo governador e eu vou fazer isso.
Folha – O senhor disse que, se eleito, irá extinguir a secretaria estadual de Segurança e criará, no seu lugar, um gabinete ligado ao governador, com interlocução direta com as polícias Civil e Militar. Na administração pública ou privada, a centralização não é algo a ser evitado?
Wilson – Na verdade é exatamente a descentralização que vamos promover. Vamos criar distritos policiais regionais onde os batalhões da Polícia Militar e as delegacias da Polícia Civil, por meio de seus comandantes e delegados, serão os protagonistas do combate à criminalidade em âmbito local. A secretaria de Segurança é que gerava essa centralização criticada por você e sua extinção valorizará os futuros distritos policiais locais, já que os policiais que atuam no dia a dia na sua região conhecem os problemas reais da população muito mais do que um burocrata da secretaria encastelado em um gabinete com ar-condicionado na Central do Brasil. O novo gabinete vai coordenar e criar ordem nesse esforço que terá foco local.
Folha – Além do apoio ao policial, a quem prometeu armamento adequado e um colete a prova de balas para cada agente, o senhor bate muito na tecla da inteligência. É a receita da Lava Jato, que repete o conselho que orientou a investigação do escândalo Watergate nos EUA, causando a renúncia do ex-presidente Richard Nixon: “siga o dinheiro”. Por que isso ainda não foi feito no combate ao crime organizado do Estado do Rio?
Wilson – Eu imagino que isso não aconteceu por dois motivos. O primeiro é porque isso certamente iria contrariar os interesses de políticos ligados aos esquemas de corrupção e à criminalidade do Rio de Janeiro. Portanto, temos um componente ético aqui. O segundo motivo é porque faltou capacidade e experiência para realizar essa investigação por parte das lideranças políticas que eventualmente não tenham problemas éticos. Eu possuo autoridade moral, capacidade e experiência para liderar, como governador do Estado, a investigação que terá por objetivo asfixiar financeiramente o crime organizado no Rio de Janeiro, facilitando as operações policiais ostensivas e diminuindo o número de mortes de inocentes e de policiais, que também é uma prioridade nossa.
Folha – Além da violência, o Estado do Rio vive um quadro de insolvência financeira. O que pensa sobre o regime de recuperação fiscal firmado entre os governos Michel Temer e Luiz Fernando Pezão, ambos do MDB? Propõe algo diferente?
Wilson – A responsabilidade fiscal, como ideia geral, é essencial e é um compromisso nosso. Especificamente sobre o regime de recuperação fiscal, ele foi um arranjo acertado em um período de emergência, fruto das políticas gastadoras e fiscalmente irresponsáveis do governo do (P)MDB, travestido de DEM para as eleições deste ano no Rio, e com certas cláusulas leoninas que precisam ser revisadas. Vou propor essa revisão junto ao novo presidente e garantir que, com gestão responsável, nunca mais o Rio precise passar por essa humilhação.
Folha – A face mais cruel da falência financeira do Estado se dá sobre os servidores ativos e inativos. Qual o seu compromisso em honrar mensalmente esses vencimentos?
Wilson – Assumo total compromisso com esta questão. Por isso que, no nosso plano de governo, o foco para o investimento em infraestrutura se dá através de parcerias com a iniciativa e dinheiro privados. Não posso investir dinheiro público em obras sem antes honrar o pagamento dos servidores e aposentados, que trabalharam ou trabalham com dignidade pelo seu sustento. Esse é um compromisso meu inegociável.
Folha – Outra face do caos financeiro se dá sobre o abandono da Uenf e do Colégio Agrícola Antônio Sarlo. No debate da Band, quando perguntados sobre a Uerj, apenas Garotinho, Paes e Tarcísio lembraram que a Uenf também existe. O senhor, não. Por quê?
Wilson – Não citei a Uenf porque a pergunta era somente sobre a Uerj. Aparentemente esqueceram a Uezo, então? Todas as instituições educacionais sob responsabilidade do Estado do Rio terão uma nova missão e novos valores. Vamos ter uma educação pública sem vinculação partidária, focada em matérias básicas, técnicas e profissionalizantes. Vamos trazer parcerias empresariais para investir na educação pública, garantindo produção científica, bolsas de estudo e foco no mercado de trabalho, e não em criação de militância política. O setor educacional participará da retomada econômica do Rio de Janeiro.
Folha – Quais são seus planos para Porto do Açu na questão do desenvolvimento específico do Norte Fluminense?
Wilson – O Porto do Açu é uma prioridade nossa, incluindo sua citação expressa no nosso plano de governo, e vamos garantir a infraestrutura necessária para garantir seu pleno funcionamento, incluindo estrutura viária multimodal. São exatamente os investimentos privados e os empreendedores, em parceria com o Governo do Estado, que vão reerguer o Rio de Janeiro.
Folha – Com sua foz em Atafona assoreada, o rio Paraíba do Sul sofre em período de estiagem. Há registro de língua salina já no distrito de Barcelos. Há vida para Campos, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana sem o rio que os formou? Como recuperá-lo?
Wilson – Vida sempre haverá, pois é parte do nosso planejamento a diversidade de fontes hídricas em todo o Estado do Rio de Janeiro, mas consta no nosso plano de governo a recuperação do rio Paraíba do Sul através de uma série de expedientes ambientais que vamos aplicar imediatamente após assumirmos o governo, caso sejamos eleitos.
Folha – O que Campos, Norte e Noroeste Fluminense devem esperar de Wilson Witzel governador?
Wilson – Um governador engajado na recuperação econômica e da ordem no Rio de Janeiro como um todo, combatendo implacavelmente a corrupção e a insegurança, além de garantir a criação de novas matrizes econômicas para essas localidades. O Norte e o Noroeste Fluminense são hoje muito dependentes da agropecuária e da indústria petroleira. Vamos recuperar essas atividades econômicas e diversificar, de modo que eventuais crises cíclicas não deprimam a economia desses locais, tal como ocorreu recentemente.

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