Grávidas podem comer peixes?
20/09/2018 09:11 - Atualizado em 20/09/2018 09:11
Artigo de Luciana Peres*
A ingesta de peixes é parte importante de uma dieta saudável, vez que a composição nutricional destes é muito favorável, possuindo uma baixa quantidade de gordura saturada, proteínas de alto valor biológico e outros nutrientes importantes, como os ácidos graxos ômega-3.
Uma dieta balanceada que inclua uma certa variedade de peixes contribui para a saúde cardiovascular e para o crescimento e desenvolvimento das crianças. No entanto, existe uma preocupação pública de que as quantias relativamente baixas de mercúrio encontradas nos frutos do mar sejam lesivas para o cérebro fetal, fato este que se tornou um limitante do consumo de pescados durante a gestação, porém poucas evidências consistentes comprovam este fato.
Em recentes publicações, não foram encontradas associações adversas entre os níveis de mercúrio no sangue materno e o desenvolvimento neurocognitivo de crianças. O mercúrio está naturalmente presente na maioria dos peixes, entretanto, sabe-se que para haver dano a saúde, o consumo necessita estar bem além do que a maioria da população ingere.
Um estudo realizado em gestantes e seus filhos na República de Seychelles, que alimentam-se diariamente de peixes (exposição ao mercúrio dez vezes maior do que os valores registrados nos Estados Unidos) não evidenciou nenhum desfecho negativo.
Por isso, a Food and Drug Administration (FDA) e a Environmental Protection Agency (EPA) publicaram, no ano passado, uma nova orientação que difere da recomendação anterior de 2004: mulheres que pretendam engravidar ou que estejam grávidas devem ingerir de 2-3 porções semanais de peixes, evitando os tipos de pescados considerados mais contaminados pelo mercúrio .
É sabido que os riscos relacionados à exposição de mercúrio dependem não só da quantidade de peixe consumida, mas também dos níveis de mercúrio contidos em cada espécie. As entidades acima citadas também forneceram uma lista com 62 tipos de peixes, crustáceos e moluscos e os dividiram em três categorias de segurança: melhores escolhas, boas escolhas e escolhas a serem evitadas.
Os peixes do grupo “melhores escolhas” incluem o salmão, o atum enlatado light , a tilápia, o bagre e o bacalhau. Já o atum bigeye, o tubarão, o peixe-espada e o marlin estão na categoria que deve ser evitada.
Todavia, a nova orientação, não citou os benefícios ao desenvolvimento neurocognitivo do consumo de peixe durante a gestação. Várias entidades, como a Organização Mundial da Saúde, destacam a melhora do neurodesenvolvimento como um benefício específico do consumo de peixe.
As evidências científicas dos benefícios subjacentes do consumo de peixe para o desenvolvimento cognitivo são fortes, como já publicado em uma revisão sistemática de Starling e colaboradores em 2015.
Um outro estudo mostrou que os filhos de mulheres que consumiram uma média de 588 g de peixe semanais (quantidade acima da recomendação atual) tiveram pontuações totais mais altas de desenvolvimento verbal, motor, memória e desenvolvimento cognitivo global.
Calcula-se, atualmente, que o consumo recomendado de peixe possa aumentar de 3-5 pontos no QI da criança.Ao contrário do consumo de peixe, a suplementação com cápsulas de ômega-3 não oferece o mesmo benefício – a razão para isso ainda não é totalmente compreendida, mas se imagina que outros nutrientes presentes no peixe (e não apenas o ômega-3) contribuam para os benefícios neurocognitivos.
Logo, é imperioso que os médicos e nutricionistas reconheçam a importância de informar às gestantes sobre estes benefícios, uma vez que esta informação pode estimular o consumo e, assim, mulheres e crianças pequenas irão obter os benefícios da ingesta do peixe.
* Luciana Dornelles Sampaio Peres é clínica médica (RQE 29636), endocrinologista (RQE 29637), pós-graduada em Nutrologia/ABRAN. Atua em Porto Alegre e Alegrete, no Rio Grande do Sul.

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    Nino Bellieny

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