O Coronel e o Ditador
Conto de Lina Meirelles Couto*


No meio de grandes montanhas de pedras pretas em um lugar muito, muito distante daqui, abrigava-se
um pequeno povoado, onde morava um ambicioso coronel,dono da maioria das terras, das forças de trabalho, dos meios de produção, da vida árdua e até das almas em servidão.
Um certo dia, um murmurinho tomou conta do vilarejo.
Notícias vindas da capital davam conta de que um homem destemido estava disposto a
cortar o chicote e livrar o povo tão sofrido das garras impiedosas do velho coronel.

O clima no povoado era de euforia. Por todos os lados a esperança crescia e todos falavam na possibilidade da mudança de seus destinos.
Muito barulho se fez.
Aquele homem que prometia a libertação como quem promete doce à uma criança e que apelava para a sutilidade da fé, estimulou covardemente a esperança do povo cansado de ser explorado.
Alimentou dessa maneira as suas forças e protegido pelo escudo humano que gritava em coro o seu nome, massacrou o poderio do coronel. “Agora estamos livres! Agora teremos alguém que realmente olhará por
nós! Boas novas virão”, pensaram.
Aquele vento de esperança soprou forte sobre as montanhas, fez as nuvens pesadas e tempestuosas que flutuavam por ali há anos, sumirem. Agora o céu estava claro e a paz reinava naquele sofrido povoado.
Parecia...
Não demorou muito para que todos percebessem que as nuvens de tempestade não foram embora de fato. Apenas recuaram para atrás das montanhas e se esconderam, formando uma das forças mais
poderosas e devastadoras que já se viu.
Um ciclone de grandes proporções, que levantaria a poeira das incertezas, arrancaria tetos de
vidro e não deixaria pedra preta sobre pedra branca. Em pouco tempo, dentro do povoado o pesadelo também se personificou: o Salvador era na realidade um ditador. Massacrava não só coronéis, mas
qualquer um que ousasse cruzar o seu caminho, sendo ele pobre ou rico, forte ou fraco. Perseguiu, ameaçou, oprimiu e construiu seu desgoverno sobre uma extensa base de espinhos, sangrando não só inimigos, mas principalmente aliados, agora descalçados, obrigados a aceitar seus mais loucos devaneios.

A esperança evaporou. A libertação virou prisão. A fé não removeu montanhas, mas derrubou-as. O povo estava mais uma vez aprisionado, acuado, sem um horizonte comum.
Do coronel ao ditador. Da confiança ao desapontamento. Da calamidade a,desgraça. Da incerteza de um futuro melhor a evidência do caos total. O povoado se perdeu e na ânsia de escrever uma nova e linda história de “Era uma vez”, acabou por escrever um drama de “não foi dessa vez”.

E nesse conto não tão conto assim, neste povoado nem tão distante assim, um novo capítulo há de ser escrito: e vai ter guerra, vai ter revolução. Talvez uma batalha medieval onde a espada da justiça há de decepar tiranias e libertar o povo, que da corte já deixou faz tempo de ser o bobo.
E quem sabe essa história tenha ainda um lindo fim, afinal, desde que o mundo
é mundo, o bem sempre vence no final.

Por Lina Meirelles Couto em 07/08/2018.
*Lina é professora universitária e mora em Petrópolis

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    Nino Bellieny

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