Doenças erradicadas preocupam
Victor de Azevedo 07/07/2018 15:34 - Atualizado em 09/07/2018 13:23
Autoridades sanitárias e profissionais da Saúde do país estão em alerta. Doenças consideradas erradicadas no Brasil voltaram a preocupar o Ministério da Saúde, que coloca como principais motivos a baixa cobertura vacinal em todo país e o desconhecimento individual sobre a importância e benefícios das vacinas, como o próprio órgão cita, no caso da poliomielite. Casos de sarampo, por exemplo, foram registrados em vários estados da federação. No Amazonas, um bebê faleceu vítima da doença. No Rio de Janeiro, a secretaria estadual de Saúde informou que investiga quatro casos. Recentemente, o Estado enfrentou um surto de febre amarela, que em sua forma silvestre, também não tinha registro. Em Campos, não há casos suspeitos de sarampo, mas a secretaria municipal de Saúde orienta que em caso de não imunização, a pessoa procure a unidade de saúde mais próxima para se vacinar. As doses também podem ser encontradas no Centro de Saúde.
Para o médico campista Luiz José Souza, falhas na vacinação podem ser uma das causas da reintrodução das doenças no país.
— O sarampo era uma doença que já estava erradicada e alguma falha em vacinação pode ter sido uma das causas para essa reintrodução. E não era pra estar acontecendo isso. Apesar das poucas confirmações, as autoridades da Saúde precisam esclarecer o motivo. Mas no meu entender, existe uma falha de vacinação. Ou a vacina foi ineficaz ou não se vacinou. E até complicado falar sobre isso, mas as autoridades precisam se manifestar — disse.
Outra questão levantada por Luiz José é o fato da vacinação contra sarampo ser aplicada na infância. “A adesão da vacinação em criança é muito maior porque a mãe leva, mas quando coloca um adolescente fura, porque você vê que tem campanha de vacinação que não cumpre a meta. E como a vacinação contra o sarampo é aplicada quando criança, não era pra acontecer isso”, salientou.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “em muitos casos, pais e responsáveis não vêm mais algumas doenças como um risco, como é o exemplo da poliomielite. Por isso, é necessário ressaltar a importância da imunização e desmistificar a ideia de que a vacinação traz malefícios. Em alguns casos, as vacinas podem levar a eventos adversos, assim como ocorre com os medicamentos, mas são infinitamente menores que os malefícios trazidos pelas doenças”.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) do Rio de Janeiro informou que dos quatro casos de sarampo em investigação, um deles teve resultado preliminar positivo, mas ainda aguarda confirmação do diagnóstico pelo laboratório de referência nacional da Fiocruz. O local de provável infecção está em análise. Diante da suspeita, a SES e a secretaria municipal de Saúde do Rio de Janeiro estão realizando ações de prevenção e bloqueio da doença, inclusive com vacinação no Campus da Faculdade de Direito da UFRJ. Em 2017 a cobertura vacinal do estado para o sarampo em crianças de até um ano de idade foi de 94,8%. A vacina está disponível conforme calendário de vacinação do Ministério da Saúde.
O Ministério da Saúde destacou ainda que, apesar de muitas doenças estarem erradicadas no país é necessária a continuidade da vacinação para evitar o retorno das mesmas. “Embora o Brasil esteja livre da paralisia infantil, por exemplo, é fundamental a continuidade da vacinação para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite no país. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, três países ainda são considerados endêmicos (Paquistão, Nigéria e Afeganistão). Com relação ao sarampo, tem-se registro de casos em alguns países da Europa e das Américas, inclusive, na Venezuela que faz fronteira com o Brasil”.
Reforço na vacinação em Campos
A prefeitura de Campos anunciou na última semana reforço na vacinação contra o sarampo no município. A Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) orienta que em caso de não imunização, a pessoa procure a unidade de saúde mais próxima para se vacinar e atualizar o cartão.
— É uma orientação como forma preventiva para que o Estado não registre mais casos da doença. Quem ainda não se vacinou, orientamos que atualize o cartão de vacina não somente contra o sarampo, mas também quanto às demais doenças em que são oferecidas as doses pelo SUS — ressaltou a assessora-chefe da Vigilância, Roberta Lastorina.
Para se vacinar, a pessoa deve ir a uma unidade de saúde do município, com documento de identificação, caderneta de vacinação e número do Cartão SUS. Em caso de menor idade, é necessário acompanhamento do responsável, documento de identificação, caderneta de vacinação do menor e número do Cartão SUS. As doses de vacinas como sarampo, poliomielite, difteria, tétano e coqueluche, por exemplo, são disponibilizadas pelo Governo Federal, dispensadas pelo Estado e, assim, chegam ao município.
Em relação à vacinação direcionada a crianças, o setor de Vigilância em Saúde ampliou a atuação da equipe extramuros, onde foram disponibilizados profissionais para atuação até mesmo nas creches e escolas, para captação das crianças. Lastorina explica, ainda, que a partir deste mês o Ministério da Saúde está implementando no Brasil um novo sistema de cadastramento para todos os brasileiros, por isso a necessidade do CartãoSUS para todo cidadão.
Casos de sarampo se multiplicam pelo país
O sarampo estava oficialmente erradicado no Brasil desde 2016, após o país receber certificado da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Porém, este ano, os casos se multiplicaram e desde fevereiro são três óbitos registrados no país: dois em Roraima e um no Amazonas. Neste último, a vítima foi um bebê de sete meses. Até o fechamento desta matéria, foram registrados 271 casos no Amazonas; 200, em Roraima; sete, no Rio Grande do Sul e dois em Mato Grosso. Há, ainda, mais de 1,8 mil casos suspeitos. Desde fevereiro, o Ministério Saúde monitora a situação. De acordo com análises da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o vírus que circula no Norte do país coincide com o que afeta a Venezuela.
Casos de febre amarela silvestre também assustaram as autoridades de saúde, principalmente no estado do Rio de Janeiro. Segundo o último boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde até junho foram registrados 262 casos de febre amarela silvestre em humanos, sendo 84 óbitos. Angra dos Reis, no Sul Fluminense, é o município com mais casos 57 que resultaram em 15 óbitos.
Em junho, países do Mercosul fizeram um acordo para evitar a reintrodução de doenças já eliminadas na região das Américas, incluindo o sarampo, a poliomielite e a rubéola. Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Chile se comprometeram em reforçar ações de saúde nas fronteiras e fornecer assistência aos migrantes numa tentativa de manter baixa a transmissão de casos. No último dia 8, a Opas enviou alerta aos países após a detecção de um caso de poliomielite na Venezuela. Dados do governo federal mostram que 312 municípios brasileiros estão com cobertura vacinal contra pólio abaixo de 50%.
 
 
 
 

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