Terapia hormonal no câncer de mama
- Atualizado em 12/06/2018 17:40
Um estudo apresentado durante o Congresso Americano de Oncologia Clínica (Asco) promete revolucionar a escolha do tratamento de mulheres em estágio inicial de câncer de mama. O TAILORx, realizado pelo Centro de Câncer Albert Einstein de Nova York, concluiu que, para o tipo mais comum do tumor, nem sempre será preciso que a paciente seja submetida à quimioterapia. O tratamento após a cirurgia seria feito apenas pela terapia hormonal, menos agressiva e com reduzido efeito colateral.
Coautora do estudo, a oncologista Kathy Albain diz que, com os resultados, é possível evitar a quimioterapia em cerca de 70% das pacientes diagnosticadas com esse tipo de tumor, desde que ele não tenha se espalhado para os gânglios linfáticos. A estimativa dos pesquisadores é de que, só nos Estados Unidos, cerca de 65 mil mulheres seriam afetadas pelo novo protocolo.
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Sergio Simon, calcula que, no Brasil, aproximadamente 20 mil mulheres deixariam de se submeter à quimioterapia. “Isso representaria uma grande economia para as fontes pagadoras do tratamento, sem falar nos benefícios para a paciente”, comemora. Para ele, esse foi um dos grandes avanços apresentados durante a Asco, encontro que reuniu cerca de 30 mil médicos de todo o mundo, realizado em Chicago.
A indicação de tratamento, porém, só seria possível após a realização do Oncotype DX, espécie de mapeamento genético que classifica o nível de possibilidade de recidiva da doença. Hoje, esse exame, disponível no Brasil, faz uma análise de 21 genes do tumor. A partir dessa avaliação, é criada uma espécie de pontuação, que vai de 0 a 100.
De 1 a 10, é considerada baixa a taxa de recidiva, e o tratamento é feito apenas com hormônio. De 25 a 100, o índice é considerado alto, e a quimioterapia tem indicação clínica. “Havia, porém, uma área cinza, que ficava entre o 11 e o 24, em que cabia ao médico, em conversa com a paciente, decidir que tratamento usar, se o quimioterápico ou o endócrino”, explica Daniel Gimenes, oncologista-clínico do Grupo Oncoclínicas, em São Paulo.
Os resultados do estudo, explica o médico, mostraram que o tratamento quimioterápico nas pacientes que se encontravam nessa faixa intermediária é desnecessário, bastando a terapia hormonal. “As descobertas terão um impacto imediato na prática clínica, poupando milhares de mulheres dos efeitos colaterais da quimioterapia, como náuseas, vômitos, perda de cabelo, fadiga e infecção”, comenta Gimenes.
Durante os testes, em toda a população estudada com pontuação entre 11 e 25, não houve diferença significativa entre os grupos tratados com e sem quimioterapia. Os resultados mostram ainda que todas as mulheres com mais de 50 anos e pontuação de 0 a 25 podem evitar a quimioterapia e seus efeitos colaterais tóxicos. A mesma recomendação serve para aquelas com menos de 50 anos e pontuação de 0 a 15. “(O estudo) deverá ter um grande impacto entre os médicos e pacientes. Estamos reduzindo a terapia tóxica”, ressalta Kathy Albain.
Alto custo
Um dos obstáculos é que o Oncotype DX ainda tem um custo muito alto no Brasil, em torno de US$ 4.500, e não é disponibilizado no Sistema Único de Saúde (SUS). “Também nem todos os planos de saúde cobrem esse mapeamento genético”, ressalta Simon. Disponível desde 2004, o teste é realizado em uma amostra de tecido tumoral.
O estudo também não é preciso sobre os resultados entre as pacientes jovens que se encontram na faixa intermediária de risco de recidiva. “Não há a certeza de que as mulheres com menos de 50 anos que estão na pontuação de 20 a 25 não precisam de quimioterapia. Então, a decisão do tratamento tem de ser individualizada e discutida entre médico e paciente”, completou. (A.N.)

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