A Culpa não é do Itaperunense
Artigo de Robson Almeida Jr

O esquema brasileiro de democracia é muito restritivo – miríades burocráticas e jurídicas operam sobre o povo, que com baixa escolarização, aceita de forma submissa os desmandos governamentais. Não é à toa a clássica frase de Lima Barreto “O Brasil não tem povo, tem público”. Os mecanismos de participação política são escassos e dentre eles o mais efetivo consiste em apenas votar na oposição ao representante político que gerou a indignação.

Nas últimas três eleições municipais o povo de Itaperuna tem deixado claro, pelo mecanismo que lhe foi dado, que a insatisfação com o município é geral – em todas a vitória foi claramente da Oposição. Deixou de ser apenas uma questão de grupos que se revoltam por estarem alijados do poder. A despeito de possíveis conclusões sobre as dificuldades do período, é muito importante lembrar que quando essas mudanças começaram a ser reclamadas pela população, a situação econômica do país era invejável. Dito isto, e levando em consideração a esperada quietude de uma cidade interiorana e de um povo forçosamente espectador, aqui, estão todos dispostos a mudar – revolucionar que seja – e há um bom tempo.

A cada processo eleitoral a alteração no poder público, provocada pelo povo, ficou mais forte e à cada nova mudança fica aludida que, se a vontade popular não for satisfeita, haverá uma próxima, ainda maior. A primeira deste ciclo, que ocorreu em 2008, representou a derrubada de um grupo que controlava o executivo municipal a 12 anos. Naquela ocasião o representante da oposição, Cláudio Cerqueira Bastos, o Claudão, recebeu 51% dos votos válidos.
Posteriormente, em 2012, o então candidato oposicionista, Alfredo Marques, o Alfredão, foi depositário de 55% dos votos, o que demonstra um crescimento da insatisfação popular em relação à primeira mudança.
Já no ano de 2016, o agora prefeito, Marcus Vinícius (que não possui apelido no aumentativo do nome e representava a oposição do momento) recebeu impressionantes 62% dos votos. Essa votação, longe de ser unicamente destinada à sua pessoa, representa a terceira revolta popular com a situação do município.

Antes que alguém diga ser esta uma hipótese de difícil comprovação é valido lembrar que não só tem sido modificado o prefeito, mas também os vereadores. Para fins de resumo, analisemos apenas a eleição de 2016 – apenas 2 vereadores conseguiram a reeleição – sendo a maioria dos eleitos, incluso aí a atual presidente da casa, são mandatários de primeira viagem. O que indica claramente – existe uma revolta popular ainda intocada e não resolvida na população local.

Sinto, como filho deste município e pertencente a uma família que aqui reside há pelo menos um século e meio – fossem hoje as eleições os resultados seriam totalmente diferentes. Este sentimento, que me parece generalizado, por si já deveria ascender o sinal vermelho na classe política local, tendo em vista que os atuais ocupantes do poder não completaram nem dois anos de mandato – aparentemente não provoca nem desconforto. Também não é bom sinal para oposição do momento: primeiro porque não deveriam torcer pelo fracasso do governo atual, como quem diz ao povo “eu avisei”; segundo porque não devem esquecer que também foram defenestrados de forma retumbante nas eleições.

Abre-se caminho para uma terceira via? Infelizmente no atual quadro, devo dizer que não. Em Itaperuna as opções de terceira via são encabeçadas por: pessoas com certo teor de oportunismo partidário, indo de galho em galho, tendo uma delas assumido publicamente que aprendeu sobre política com os filmes do Poderoso Chefão; e outras, que fazendo parte do grupo que ganhou as eleições, decidiram se separar ao não conseguirem o que desejavam.

O que é possível concluir, de todo o exposto, é que a classe política está surda aos clamores populares. Eles, ao menos aparentemente, pouco se importam com a cidade e seu povo, muito mais interessa o jogo da política e as vantagens do poder. Ainda se acredita que tudo será como antes e chegadas as eleições a máquina municipal fará a diferença – ainda que por 3 eleições ela não esteja fazendo nenhuma. Ainda estamos no início dos mandatos, a situação ainda pode ser revertida se os mandatários mudarem suas posturas.

O que vale deste texto, a você que não é cidadão desta castigada cidade do noroeste fluminense, mas conhece nossas dificuldades –  o que vale é uma sentença: a culpa é não é do povo itaperunense!



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    Nino Bellieny

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