Ponto Final - Guerra de narrativas mostra força em Campos
22/05/2018 11:04 - Atualizado em 28/05/2018 17:10
Esquerda x direita
Representantes do debate bipolar que se tornou a vida do país desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a esquerda e a direita mostram recentemente sua força em Campos. No dia 8, uma palestra do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) lotou o auditório da Faculdade de Direito de Campos (FDC). Exatos 10 dias depois, foi a vez de outro deputado estadual, Marcelo Freixo (Psol), lotar o mesmo auditório da FDC com um evento. No mesmo dia 18, na última sexta, os dois visitaram a Folha da Manhã e lá concederam entrevistas exclusivas, publicadas com igual espaço e destaque na edição de domingo (20).
Bolsonaro e Freixo
Flávio Bolsonaro é pré-candidato a senador e lidera com folga a disputa segundo pesquisa Paraná feita entre 4 e 9 de maio, primeira sobre as eleições majoritárias de outubro no Estado do Rio. Por sua vez, Marcelo Freixo é pré-candidato a deputado federal e dele também se espera uma boa votação. Com os dois foi adotada a mesma toada de outra entrevista exclusiva anterior, dada à Folha pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 6 de dezembro de 2017. Publicada no dia seguinte, depois de viralizada em toda a mídia nacional, sua regra foi contrastar as posições do entrevistado, mas dar e ele a chance de falar.
Lula e Moro
Citado por Lula na entrevista, o juiz federal Sérgio Moro foi procurado em dezembro para também se manifestar. Ele respondeu à Folha, mas preferiu declinar. O magistrado já havia condenado o ex-presidente a 9 anos e meio de prisão, em 16 de julho, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá. Em 24 de janeiro, os crimes seriam confirmados por 3 a 0 no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que aumentou a pena para 12 anos e um mês. Após ter o habeas corpus negado por cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e sete do Supremo Tribunal Federal (STF), Lula foi preso em 7 de abril.
Narrativas
A chamada “guerra de narrativas” que incendeia os debates no país, ficou claro no contraste das entrevistas de Flávio Bolsonaro e Marcelo Freixo. Filho do ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSL), para o primeiro o Brasil não viveu uma ditadura militar entre 1964 e 1985, mas seu eufemismo: um “regime militar”. Por sua vez, para Freixo, o impeachment de Dilma foi “golpe”. Opinião externada na disputa do 2º turno a prefeito do Rio, ele não a considera responsável por sua derrota para Marcelo Crivella (PRB) em 2016. Ainda assim, fez questão de relativizar as consequências às eleições de dois anos depois: “Ninguém pensa mais em Dilma”.
Revelações
Nas dúvidas entre ditadura militar ou “regime militar”, ou entre impeachment ou “golpe”— talvez inexistentes para quem não pensa por dogmas —, o fato é que as duas entrevistas foram publicadas no domingo, na Folha da Manhã e no blog “Opiniões”, hospedado no Folha 1. E até às 20h40 de ontem (21), a feita com Freixo tinha recebido 77 curtidas, enquanto a com Bolsonaro, apenas 10. A diferença de mais de 700% deixa abertas duas possibilidades: ou a esquerda atrai mais leitores em Campos e região do que a direita, ou os simpatizantes desta não são muito de ler jornal. De um jeito e do outro também, são alternativas reveladoras.
Síria da esquerda
Enquanto a direita brasileira vive com suas idiossincrasias, a esquerda não fica para trás. Nela, quem ainda apoia ou tenta relativizar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, perdeu qualquer contato com a realidade. Ele foi reeleito no último domingo como presidente de um país que reprime com violência, prende e mata opositores, em meio à escassez de comida e remédios, com uma economia devastada. A inflação venezuelana de abril fechou em 897,2%. E a projetada para 2018 são inimagináveis 14.000%. São escombros que nem a Guerra Civil da Síria conseguiu produzir na economia daquele país do Oriente Médio.
Golpe sem aspas
Por denúncias de fraude, a reeleição de Maduro foi condenada pelo Brasil e outros 13 países das Américas do Grupo de Lima, entre eles EUA, Canadá, México, Argentina e Chile. Reconheceram o resultado só Rússia, China e Bolívia, todas governadas por líderes aparentemente vitalícios. No pleito na Venezuela não puderam concorrer os dois opositores mais populares: Henrique Capriles e Leopoldo López, numa prisão militar desde 2014, acusado de liderar os protestos naquele ano pelo país. Considerar o regime Maduro uma democracia é como chamar a ditadura militar no Brasil de “regime”. É um golpe sem aspas no bom senso.
José Renato

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