A Revolução dos Josés
Artigo de Robson de Almeida Jr.*

Senhor José acorda no sábado de manhã com o cantar do galo. São 5 horas, é dia de feira. Sr. José é produtor rural, planta tomates em Aré, distrito de Itaperuna, interior do Rio de Janeiro. É casado, tem três filhos, o mais velho está terminando a faculdade de engenharia. Vai ser o primeiro da família a se formar. Que orgulho! Sr. José é um homem honesto, sempre nos conformes, como ele gosta de dizer.
É moderno, tem celular com Facebook e wWhatsapp.
Naquela agradável manhã ele recebeu um vídeo do grupo da família, mostrando o ato heroico da Cabo PM Kátia em frente à uma escola em Suzano-SP
. Que alegria pensou Sr. José, parabéns para ela! Mulheres e crianças foram salvas, todos estão bem, o bandido está morto.

A atitude foi vista como heroísmo pela maior parte da população brasileira, não só pelo Sr. José.
Entretanto, outros não ficaram felizes com o desfecho do episódio. Com tantas homenagens e citações positivas àquela que ficou conhecida como a Mãe PM, fica difícil acreditar em críticas negativas, pensa Sr. José, mas aconteceram.

Uma matéria da versão brasileira do jornal El País buscou elencar os supostos erros da policial. Mas será que houve algum? Já uma matéria da Folha de São Paulo lança uma crítica à homenagem feita pelo Governador de São Paulo, dizendo que iria contra o comando da PM paulista – mas não é o governador o comandante da Policia Militar?

Leonardo Sakamoto, blogueiro da UOL, diz que homenagear é um desserviço à Policia Militar e por fim, uma matéria da Globo News questionava se policiais de folga deveriam ou não agir em casos assim – a lei não diz que eles têm que agir?

Todas essas negativas sobre o ato heroico da policial fizeram com que Sr. José, revoltado, fosse às redes mostrar indignação.
Não só Sr. José se revoltou, mas dezenas de outros brasileiros foram às redes postar a revolta com as críticas à policial. Afinal o que queriam que ela fizesse?

Pessoas comuns como Sr. José, têm usado as redes para comentarem notícias, interesses, contar histórias, discordar e protestar. Surpreendentemente isso tem dado resultado. O povo se posiciona e se organiza fortemente sobre diversos temas nas redes sociais e a partir daí, muda a realidade do país – e do mundo.
Foi desta forma quando o Reino Unido deixou a União Europeia; na eleição de Donald Trump nos Estados Unidos; durante os protestos brasileiros de 2013 / 2015 e no apoio à Operação Lava Jato.

Contra todos esses movimentos e à uma nova postura popular, continuava a sucessão de manchetes críticas dos grandes veículos de comunicação.

Nesse cenário tem ficado cada vez mais escancarado o abismo que separa a Grande Mídia e seus "intelectuais especialistas", do povo.
Não é surpresa que de forma incessante vem sendo ventilado os supostos perigos das Fake News (notícias falsas) – que acabam por ser nada mais que um apelo para que só se acredite no que é dito em certos jornais televisivos, embora realmente a rede de fakes seja perigosa, também a "oficial" faz muitos estragos.
O jornalista Ricardo Boechat, de quem costumo discordar, afirmou com muita propriedade: "Com as redes sociais, acabou o monopólio da mentira".
Antes os grandes veículos falavam sozinhos, mentiam sozinhos, agora todos podem e isso assusta. Pela primeira vez na história qualquer pessoa poder ter na palma da mão a chance de mudar o curso do debate público – e isso tem sido feito.

Neste mesmo final de semana, no programa Canal Livre, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que se forem feitas consultas populares o resultado será diverso daquilo que se quer – ou seja, será diferente do que ele e os presentes no programa (essa casta governante e falante) querem.
Pena de Morte? O povo é a favor – ele diz.
Desarmamento? O povo é contra – segue. Segundo o ex-presidente seria necessário que o povo brasileiro tivesse mais informação e educação para ter autonomia para decidir sobre esses assuntos importantes – ou seja, ele não só acredita ser o povo brasileiro ignorante, como também crê que ser educado significa concordar com ele, o todo poderoso pensante.

Jean Wyllys em uma entrevista à Rede Globo fez a mesma afirmação; de que o povo votando sobre casamento gay seria uma tragédia, seria preciso que antes todos tivessem informações adequadas.
Os efeitos deste pensamento já vimos; o povo escolheu poder ter armas em 2005 e foi retumbantemente ignorado por estes que se dizem democratas.

Quem não se lembra dos atores da Globo fazendo campanha pelo desarmamento? Na contramão, 59 milhões de brasileiros, ou seja, 63% dos eleitores, votaram contra. Em um lado a Grande Mídia, do outro o Povo.

Desde que começaram os barulhos das redes sociais – no Brasil em 2013 – já se lançaram dezenas de tentativas de dissuadir a população de se organizar por ali. Argumenta-se que que vivemos outra vez os anos 30, com uma nova ascensão do nazismo.
Fazem um retrato ruim da situação e reputam essa revolução tecnológica como culpada por este estado de coisas – como se antes estivesse tudo bem. Tentam a todo custo regressar a tal hegemonia onde pessoas como FHC falavam e os outros, os subalternos sem educação (segundo ele), ficavam calados. Tentam nos devolver aos falsos consensos criados por especialistas partidariamente comprometidos.

Não estamos voltando aos Anos 1930, estamos vivendo a reinvenção da prensa! Sei que pessoas como Jean Wyllys tem medo de ouvir a população, pois esta não é formada por intelectuais que frequentam os centros de ciências sociais das universidades federais.

O povo brasileiro é formado por pessoas como Sr. José. São pessoas como ele, que há anos vem sendo silenciadas nas suas opiniões, ignoradas por especialistas, chamadas de ignorantes por esnobes.
São os Josés que agora podem falar e são as opiniões dessas pessoas que agora contam e por isso assustam.

Esta em curso uma revolução, realmente inegável, porém é a Revolução dos Josés.

*Robson é bacharel em Direito e professor de História.

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    Nino Bellieny

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