Crítica de cinema - O conflito e seus lados
- Atualizado em 20/04/2018 20:16
Divulgação
(7 dias em entebbe) -
O cinema do brasileiro José Padilha (Tropa de Elite) tem como característica a discussão de diferentes lados em conflitos ideológicos e armamentistas, seja na favela carioca ou em um aeroporto desativado em Uganda. Padilha busca mostrar diferentes óticas sobre as mesmas questões, buscando um tom crítico, mas tentando se isentar dos lados. É a busca por uma visão ampla, sem deixar essa visão ser comprometida. Se essa intenção é bem sucedida em seus trabalhos anteriores, é uma questão que pode ser discutida, mas no longa “7 Dias em Entebbe” Padilha tem seu maior tropeço.
Baseado em fatos reais, o longa retrata o sequestro de um voo que seguia de Tel Aviv para Paris pela Frente Popular para Libertação da Palestina e das células alemãs revolucionárias. Os guerrilheiros levam o avião para uma área desativada do aeroporto de Entebbe (antiga capital de Uganda), local que por algumas particularidades funciona como uma espécie de campo neutro. Eles então separam os judeus do restante do grupo e tentam forçar o governo de Israel a abrir negociação.
Buscando essa visão macro do conflito, Padilha trabalha com diferentes núcleos, alguns até em tempos diferentes, mas os núcleos principais giram em torno da dupla de guerrilheiros alemães interpretados por Daniel Bruhl e Rosamund Piek e dos líderes israelences Shimon Perez (Eddie Marsan) e Yitzhak Rabin (Lior Ashkenazi).
Intercalando entre a situação do sequestro com as reações dos líderes de Israel, o longa busca desenvolver os personagens ao mesmo tempo em que estabelece as razões para aquele ato e o roteiro do dramaturgo inglês Gregory Burke não é eficiente em criar esses vínculos.
Em filmes em que não existem mocinhos, é necessário fazer com que o espectador se identifique de alguma forma pelos protagonistas (mesmo que não nos identifiquemos com sua causa e principalmente seus atos), fato que não acontece aqui, tornando o filme frio. Entre os reféns o roteiro dá pequenos destaques como a uma família, uma senhora sobrevivente do holocausto, e um comandante de bordo que olha pelos passageiros, em um artifício pouco sutil visando criar uma carga dramática que nunca acontece.
Justo Padilha, um dos responsáveis por criar um dos personagens mais famosos da cinematografia nacional, não consegue criar a mínima ligação da história com o espectador. Existem alguns momentos de respiro em que a dupla de protagonistas alemães é aprofundada, mostrando que diferente do restante do grupo, eles têm filosofias diferentes, características que são interessantes por mostrar como pessoas de diferentes origens mesmo que agindo pela mesma causa tem intenções e limites tão diferentes.
Trabalhando com seus parceiros habituais, esteticamente o filme não se destaca de outros exemplares do gênero. A fotografia do excelente Lula Carvalho traz algumas belas imagens, mas não consegue imprimir um grau de urgência que algumas cenas precisam. Já o também excelente montador Daniel Resende, faz um belo trabalho, conseguindo transitar com fluidez entre os núcleos e fechando com uma montagem muito eficiente do clímax.
O clímax traz, assim como na introdução do filme, cenas de uma peça israelense que simboliza os conflitos armados no país. Com um ritmo pulsante e crescente, ela se torna o momento mais inspirado do filme. Mesmo com a rima temática, a sequência parece deslocada, mas não dá para negar que funciona muito bem com o clímax em um resultado estético que por si só já justiça sua inserção, e é uma pena que Padilha perca a mão de toda sua abordagem justamente nesse ponto.
Ao exibir a plateia aplaudindo de pé ao final, Padilha assume um dos lados do conflito, questão que se torna problemática por ser incoerente com tudo que vinha sendo mostrado até ali.
“7 Dias em Entebbe” é um filme sem identidade, uma surpresa tendo em vista os envolvidos. Não funciona como drama, nem como thriller político. A urgência sufocante que o cinema de Padilha costumava trazer em seus filmes parece não ter ido com ele para Hollywood.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS