Ponto Final - Quatro anos da Lava Jato
17/03/2018 00:54 - Atualizado em 22/03/2018 15:45
Quatro anos da Lava Jato
Era ainda madrugada do dia 17 de março de 2014, quando várias equipes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (MPF) foram às ruas de seis estados, mais o Distrito Federal, para cumprir um total de 128 mandados judiciais em uma megaoperação. Eram quatro frentes distintas, mas uma delas marcaria para sempre a história do país nos últimos quatro anos, se tornando o maior símbolo do combate à corrupção no Brasil: a operação Lava Jato. Políticos de Campos e da região, entre eles, o casal Garotinho, Riverton Mussi, Alcebíades Sabino e Dr. Aluízio, também não escaparam das delações.
Campos na rota
Desde 03 de abril de 2016, logo após as planilhas com nomes de políticos beneficiados pelo dinheiro da Odebrecht, umas das principais investigadas da Lava Jato, serem apreendidas pela Polícia Federal (PF) na casa do executivo Benedicto Barbosa da Silva Júnior, a Folha vem mostrando os desdobramentos da operação em Campos. O detalhamento das planilhas e os valores repassados, via caixa 2, para as campanha de Rosinha e Anthony Garotinho, foram conhecidos nas delações de Benedicto e Leandro Andrade de Azevedo, que assinaram, coma ex-prefeita, o contrato bilionário do “Morar Feliz”.
Desde 2009
A delação de Leandro, por exemplo, revelou como o edital de licitação feito pelo governo Rosinha só daria condições a Odebrecht de levar o “Morar Feliz”. Esta coluna, mais de sete anos antes, em 29 de maio de 2009, já tinha adiantado que “a Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO), incorporada o Grupo Odebrecht”, seria a ganhadora da licitação. Uma transação que rendeu, segundo os delatores, R$ 20 milhões de repasses de dinheiro ilegal nas eleições de Rosinha a prefeita, em 2008 e 2012, e no pleito a governador de Garotinho, em 2014. Segundo Benedicto, todos os pagamentos foram em espécie e moeda brasileira.
CPI aponta crimes
Mas se as consequências judiciais ao casal ainda não vieram, elas não devem tardar, principalmente após a conclusão da CPI da Lava Jato na Câmara de Campos. De acordo com o relatório, apresentado no último dia 7, há indícios no contrato com a Odebrecht de associação criminosa, fraude ao caráter competitivo de licitação, fraude de concorrência, corrupção passiva, caixa dois eleitoral e improbidade administrativa. O levantamento final foi encaminhado ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal, Polícia Civil, Tribunal de Contas do Estado (TCE) e Prefeitura de Campos.
Só piorou
Outra operação, a Carne Fraca, que acabou também se desdobrando na Lava Jato, trouxe consequências mais rápidas aos Garotinho. A partir do trabalho conjunto de jornalismo investigativo, os blogueiros Ricardo André Vasconcelos e Christiano Abreu Barbosa descobriram que a logomarca do município de Campos aparecia num dos documentos da delação da JBS. E pesquisando ainda mais os dois chegaram a uma nota fiscal, no valor de R$ 3.004.160,00, na qual o nome de Garotinho aparecia manuscrito. Esse foi o estopim, que mais tarde resultaria em mais uma prisão de Garotinho e a primeira de Rosinha.
Esquema revelado
Na ocasião, a Polícia Federal e o Ministério Público do Rio identificaram “elementos” apontando que o grupo JBS firmou contrato fraudulento com Ocean Link para prestação de serviços na área de informática. O contrato de cerca de R$ 3 milhões serviria apenas para o repasse irregular de recursos, via caixa 2, para campanhas eleitorais dos ex-governadores . Um dos sócios da empresa, André Luiz Rodrigues, o Deca da Working, também assinou acordo de colaboração premiada e detalhou todo o esquema, confirmado por outros empresários, como mostra reportagem na página 2 desta edição.
Balanço
Ontem, uma entrevista coletiva apresentou os resultados, até o momento, da operação, que prendeu ainda no Rio, o ex-governador Sérgio Cabral e a cúpula do PMDB no estado. O chefe da força-tarefa da Lava Jato no Paraná, procurador da República Deltan Dallagnol, disse que o Supremo Tribunal Federal (STF) pode enterrar o combate à corrupção se revisar o entendimento que autorizou a execução provisória de condenados em segunda instância da Justiça. A declaração se refere ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ontem perdeu mais um recurso para evitar a sua prisão.

ÚLTIMAS NOTÍCIAS