Guilherme Belido Escreve - Saída quase certa de Lula abre espaço para quem?
10/03/2018 22:38 - Atualizado em 14/03/2018 16:35
As eleições presidenciais se aproximam velozmente e faltando pouco mais de seis meses para o 1º turno (com uma Copa do Mundo no meio do caminho), pela primeira vez na história o Brasil não exibe – entre os vários nomes cogitados e restando tão pouco tempo – candidatos tidos como certos e favoritos para a sucessão.
Diria o leitor neste comecinho de leitura: – Mas e o Bolsonaro?
É verdade. Tem o Jair Bolsonaro. Mas será que o Brasil vai mesmo abraçar um candidatura com traços reacionários (“traços” é eufemismo) e em tempos de tanta intolerância ir ao encontro do recrudescimento? Ou... seria ‘essa a ideia’? Um candidato com perfil extremado para tentar resolver, no peito, os problemas do País. Será?
De toda forma, vale lembrar que Bolsonaro tem sido uma opção de contra ponto a Lula da Silva, que cada vez mais distante de emplacar a candidatura – ou mesmo de conseguir esticar a campanha – vai abrir espaço e ceder a posição de 1º colocado nas pesquisas para um nome que ainda não se mostrou.
Voltando ao fio da meada, fato é que o Brasil ainda não havia experimentado lacuna aberta em período tão curto para a eleição. Justamente porque Lula caminha para não ser uma opção, Bolsonaro uma alternativa que soa a retrocesso e Michel Temer (que até poderia, apostando na zebra das zebras, tentar içar velas) viu sua “agenda positiva” descer ladeira abaixo com a autorização do STF para que fosse incluído em inquérito da Lava Jato e, depois, com o pedido de quebra de sigilo bancário, – é que a sucessão está aberta e orbitando em torno de pretensas candidaturas pouco incisivas e entre as quais não se aponta uma única como absolutamente viável e favorita.
História mostra cenário bem diferente
Com a ressalva de que se fala do momento atual, em que o Brasil – repetindo – em nenhuma outra época esteve tão perto de escolher o novo mandatário sem pelo menos dois nomes certos e fortes, nada impede que daqui a dois ou três meses os tenha. E até deverá ter. Só que o hoje mostra uma atípica tela em branco repleta de interrogações.
Numa marcha à ré até meados do século passado (para que não recuemos tão mais longe na história), vamos encontrar, na eleição de 1950, Getúlio Vargas e Eduardo Gomes como candidatíssimos desde o ano anterior, principalmente o Brigadeiro.
No pleito de 55, Juscelino Kubitschek (vitorioso) era favorito muito antes do período eleitoral – que se sabia, desde cedo, teria as participações de Juarez Távora e Adhemar de Barros.
Em 1960, Jânio Quadros, muito embora tenha ‘segurado’ seu nome para se valorizar e ganhar mais espaço no partido, exibia franco favoritismo desde que começou a ser cogitado para sucessão de JK, em disputa com Henrique Teixeira Lott, lançado em fins da década de 50.
Interessante observar, na eleição que acabou abortada pelo golpe de 64, duas candidaturas estavam postas desde a renúncia de Jânio e consequente posse de Jango: Carlos Lacerda e JK. Também o nome de Leonel Brizola surgia forte no pleito que não aconteceu.
Redemocratização manteve a escrita
Na sucessão de José Sarney, que governou de 1985 a 1990 no período intermediário entre a ditadura e a retomada do voto popular, o tema ora enfocado – de candidaturas sabidas como certas – esteve ainda mais presente. Em 1989, numa enxurrada de postulantes, os nomes de Lula da Silva, Brizola, Ulysses Guimarães e Mário Covas, entre outros, estavam colocados desde as Diretas Já. Fernando Collor – vencedor do pleito – apareceu depois. Mas comparado com 2018, bem antes.
Na eleição seguinte (94), as presenças de Lula e Brizola ficariam certas já na derrota de 89 e Fernando Henrique, apoiado por Itamar Franco, ingressaria no páreo bem antes da disputa.
Em 1998, era conhecido ‘desde sempre’ que FHC concorreria à reeleição e que Lula faria a terceira tentativa de chegar ao Planalto. Na sucessão de Fernando Henrique (2002), Lula apenas deu sequência à condição de candidato natural do PT – como fizera nas três disputas anteriores – e José Serra despontou com o candidato do PSDB bem antes do pleito. Ciro Gomes e Anthony Garotinho, da mesma forma, tinham suas pré-candidaturas colocadas no mínimo dois anos antes.
Quatro anos mais tarde não havia dúvida de que Lula disputaria a reeleição e Geraldo Alckmin, mesmo com o PSDB demorando um pouco mais para definir seu nome, obteve a indicação no começo de 2006.
O nome de Dilma Rousseff para concorrer em outubro de 2010 na sucessão de Lula surgiu com boa antecedência, bem como os de Serra e Marina Silva. A campanha de reeleição de Dilma (2014) estava planejada quatro anos antes e a de Aécio Neves, na oposição pelo PSDB, foi carimbada em 2013.
Conclui-se, portanto, nesse relato que percorre a história das eleições em quase 70 anos, que os citados como postulantes a pré-candidatos perambulam em incertezas. De Lula a Temer, passando por Henrique Meirelles, Ciro Gomes, Marina Silva, Álvaro Dias, Geraldo Alckmin, Manuela D’Ávila, Rodrigo Maia, Fernando Collor, João Dória e outros... praticamente não há nomes confirmados. Exceção para Bolsonaro, circunstanciado pelas observações feitas.

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