Ex-coronel João Batista Lima Filho alega problemas de saúde e não presta depoimento
30/03/2018 13:45 - Atualizado em 06/04/2018 15:37
Reprodução
O ex-coronel da Polícia Militar João Batista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer, não prestou depoimento na sede da Polícia Federal em São Paulo nesta sexta-feira (30). Segundo o advogado de Lima, Cristiano Benzota, o coronel alegou que, por motivos de saúde e "falta de condições emocionais", o coronel "se reservou ao direito de permanecer em silêncio".
O depoimento estava previsto para a parte da manhã, foi transferido para a tarde e depois foi cancelado. Lima vai ficar preso temporariamente na sede da PF em São Paulo. Sua defesa disse que ele se comprometeu a prestar todos os esclarecimentos em uma data futura a ser combinada.
Lima foi preso pela Operação Skala na quinta-feira (29). Ele é apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos intermediários de propina que, supostamente, seria paga ao presidente Michel Temer no caso do decreto de portos. Lima é dono da empresa de engenharia e arquitetura Argeplan.
Como sofre problemas de saúde, na quinta (29), Lima deixou seu apartamento amparado por uma equipe de resgate do Samu. Desde junho de 2017, o ex-coronel apresenta atestados de saúde como resposta às intimações da PF para esclarecimentos.
O advogado Benzota afirmou que, na manhã desta sexta, a PF fez “trabalho burocrático” e repetiu que o estado de saúde do coronel “é frágil”. O ex-coronel, que tem 74 anos, já sofreu dois AVCs, um câncer e precisou retirar um rim em dezembro de 2017. Além disso, Lima precisa tomar medicamentos. Benzota disse que Lima nega a suspeita de negociar propina em favor do presidente Temer.
Ainda nesta sexta, a arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher e sócia de Lima, prestou depoimento à Polícia Federal em São Paulo, segundo informou o procurador da República Hebert Mesquita. A PF quer saber detalhes sobre a reforma da casa de Maristela Temer, filha do presidente.
Um dos fornecedores que trabalharam na obra da casa disse que recebeu R$ 100 mil em dinheiro vivo pelos serviços. A casa de 350 metros quadrados foi comprada por Maristela Temer em 2011 e foi reformada em 2014. O imóvel de alto padrão fica no Alto de Pinheiros, bairro nobre de São Paulo
Prisão autorizada
A prisão de Lima foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, relator do inquérito que investiga se Temer, por meio de decreto, beneficiou empresas do setor portuário em troca de suposto recebimento de propina.
As primeiras tentativas de ouvir o ex-coronel foram após a delação de executivos da J&F. Na ocasião, Lima foi apontado como um dos intermediários de propina que supostamente seria paga a Temer.
Também com base nas delações, a PGR solicitou a abertura de inquérito e, em setembro do ano passado, Barroso autorizou a investigação. A partir daquele mês, o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela apuração da PF, enviou novas intimações para marcar o depoimento, o que não ocorreu até agora por causa dos problemas de saúde alegados por Lima.
Coronel hospitalizado
Lima chegou à sede da PF em São Paulo na quinta-feira à noite, depois de passar mal no momento em que foi preso e precisou ser levado para hospital. Ele só recebeu alta no fim da tarde.
Após sair do hospital, o coronel foi levado para exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal e em seguida encaminhado para a superintendência da PF.
'Gorjetas'
No curso das investigações, a Polícia Federal encontrou mensagens telefônicas trocadas entre o Coronel Lima e uma pessoa chamada Maria Helena, ainda não identificada pelos investigadores.
Em uma das mensagens, datada de 30 de abril de 2017, Lima diz: “Amiga, nessas condições ainda tenho esperança de receber as 'gorjetas' que você não me deu”.
Para a PF, a conversa entre os dois "chama atenção pelo fato de o coronel aparentemente fazer uma cobrança, utilizando o termo 'gorjeta'”. Os investigadores querem que Lima esclareça em interrogatório do que se tratava a conversa.
Também há uma troca de mensagens na mesma data entre Lima e um interlocutor chamado Miguel de Oliveira. Nela, Lima diz: “Recebeu pouco. Nas minhas contas deveria ter recebido R$ 120 mil. Estão 'garfando' o coitado”.
No inquérito, a PF afirma que “a conversa aparentemente remete a um pagamento feito a alguém, que teria sido enganado, pois o valor pago deveria ter sido maior”. Essa é outra troca de mensagens que a PF quer esclarecer no depoimento.
Relação com o presidente
Temer e Lima são amigos há décadas e mantêm relações próximas até hoje. Um relatório de busca e apreensão da Operação Patmos, da Polícia Federal, diz que Lima é um homem com acesso direto ao presidente.
Nesse mesmo relatório, há a descrição de 12 ligações telefônicas entre Temer e o ex-coronel no período entre abril de 2016 e maio de 2017. Nesse período, Temer já ocupava a Presidência da República.
Fonte: G1

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